sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Tonico fala sobre sua vida, sua família e sua arte

 Tonico é um dos maiores músicos que já surgiram em Santa Rita Sapucaí. Muito além disso, ele também pode ser considerado uma das pessoas mais queridas da cidade. Neste mês, ele nos presenteou com uma entrevista onde fala sobre sua música, sua juventude, sobre seu pai e uma de suas grandes paixões: o bloco dos Democráticos. Conheça um pouco de sua vida nesta entrevista concedida a Evandro Carvalho e Carlos Romero.
 O senhor se lembra dos tradicionais bailes do 13 de maio?
Havia sim os tradicionais bailes de 13 de maio. A festa, quando era no domingo, já começava na quinta-feira. Na quinta, tomávamos um chopinho, na sexta-feira a gente fazia uma seresta e, no sábado, havia a grande festa. Toquei muito na Associação José do Patrocínio. Também toquei muito no Centro Operário e nos bailes de carnaval. 

Sua orquestra tinha algum nome?
Nós éramos em sete pessoas. Daí, um de nós sugeriu que colocássemos o nome “Os sete invencíveis”, e este nome ficou. Quando chegávamos na festa, diziam: “Chegaram os sete invencíveis”. (Risos)

Qual era o ritmo preferido?
A gente tocava muito nas décadas de 60 e 70, então eram músicas do Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Tom Jobim, Roberto Carlos. Tocávamos um estilo mais romântico. Lembro-me que gostávamos muito também da Elis (Regina) e de músicas de outros artistas que eram dessa época.

Quais foram suas referências musicais?
Eu gosto muito de Tom Jobim e Elis Regina. Mas quando o assunto é saxofone, eu peguei muitas referências dos “Incríveis”. Eles tinham um saxofonista chamado Manito que era muito bom. Então eu comprava, numa época em que não existia CD ainda, os LP´s dessa banda. Todas as músicas que saiam dos “Incríveis” eu procurava ter, já que eles trabalhavam muito com sax. Era um estilo mais alegre, né?

No Jazz vocês buscavam as improvisações próprias do estilo?
No Jazz a gente improvisava muito no teclado e no sax. Eu tinha um tecladista muito bom, inclusive tocamos muito tempo. Ele fazia ETE aqui em Santa Rita, chamava Cezar. Depois ele foi embora e não o vi mais. Ele era um bom músico e fazíamos muito improviso juntos. Tínhamos também um baixista muito bom que chamava Hélcio. Ele era de São Paulo, veio para Santa Rita, tocou uma temporada boa comigo e depois voltou  para lá. 

Vocês têm algum registro da época?
O que eu mais sinto é que não exista nenhum registro da época. Eu não tenho nada gravado do grupo que tocou comigo. Eu até tenho um CD que gravamos há pouco tempo, mas não com o pessoal que toquei na juventude. Meu arrependimento é porque muitas coisas que eu fazia, eu não consigo fazer mais. Falta pegada, falta fôlego, então não dá. Se tivéssemos gravado, seria uma coisa para mostrar para os filhos, para os netos, mas a gente não ligava muito.
Se o senhor fosse convidado para uma noite dançante, para relembrar os bons tempos, toparia?
Acho que no momento eu não estou preparado para enfrentar uma noite dançante ou um baile. Talvez mais pra frente, com um pouco de treino, exercitando mais um pouco, eu ainda consiga fazer algo assim.

O senhor falou que fazia bailes na Associação José do Patrocínio, mas hoje parece que não tem havido nenhum evento. O que o senhor pensa sobre isso?
Eu acho que a nossa própria sociedade acabou não dando continuação ao que nossos pais construíram. Lembro que nossas famílias se reuniam nos finais de semana para construirem aquele prédio. Não demos prosseguimento ao projeto. Ela poderia estar hoje localizada em um salão maior, com mais estrutura, como uma quadra de basquete ou com mais diversões. Hoje eu não saio, não vou a bailes, por isso não sei se ainda funciona. Mas parece que não funciona mais.

As reuniões da Associação eram somente para festas?
As reuniões não eram só para festas. Eles sempre se reuniam lá para promoverem a melhora da cidade e debaterem questões relacionadas aos sócios.  

A juventude daquele tempo era mais feliz que a juventude de hoje?
Eu acredito que era mais feliz porque parece que havia mais amizade entre as pessoas. A juventude daquela época me parecia ser uma juventude mais inteligente. Me parecia mais culta. A própria música era mais inteligente. Tinha umas letras mais inteligentes, uma melodia boa, então parecia que as pessoas eram mais educadas. Talvez a juventude daquela época fosse mais feliz porque ela viveu um romantismo. Atualmente a música ficou irritante. Uma música que leva à loucura em vez de levar ao romantismo. Ela não favorece um ambiente de amizades. Lembro que nossos amigos sempre pegavam um violãozinho e ficávamos tocando Bossa Nova. Então, a própria música acalmava a gente. Ela não irritava. Ela fazia bem. Os compositores sabiam escolher e criar coisas boas.

A música fez bem pra sua vida? O senhor aconselharia as pessoas a aprenderem a tocar algum instrumento?
Eu aconselharia sim. Para eu que sou pobre, aprender música foi muito bom porque através dela eu abri minha cabeça. Eu consegui ter uma mente mais aberta para enxergar melhor a vida. Eu pude freqüentar alguns tipos de ambientes e conhecer muitos artistas, o que não aconteceria se não fosse através dela. A música fez também com que eu evitasse partir em direção a coisas erradas. Eu convivi na minha juventude num meio muito bom. Eu acho que se as crianças de hoje pudessem estudar música, seja qual for o tipo de instrumento, teriam uma grande ajuda na educação. Até hoje ela me faz muito bem. Às vezes eu estou em casa, meio chateado com alguma coisa, daí eu pego o saxofone e começo a tocar e me sinto aliviado. Isso me causa um grande bem. Pra mim, toda pessoa que gosta de música é feliz.

Gostaríamos que o senhor falasse um pouco de seu pai. (Sebastião, conhecido como Pica)
Meu pai foi um homem muito honesto, muito direito, e que gostava muito de música. Eu herdei a música do meu pai. Ele tinha uma paixão por música que era uma coisa louca. Quando eu comecei a tocar e a tirar algumas canções, meu pai ouvia e até chorava. Ele foi um homem que deixou, não só pra mim, como também para os meus irmãos, uma lição de vida inesquecível. Depois de Deus, meu pai foi um dos melhores presentes que tive. Ele era uma pessoa muito querida na cidade e nunca teve maldade com ninguém. Ele deixou isso para nós. Quando eu comecei a tocar, a pessoas perguntavam “Você é filho de quem?” Quando eu dizia, eles respondiam: “Vem cá, deixa eu lhe dar um abraço!”. E diziam: “Seu pai é meu grande amigo! Sempre que ele vendia amendoim, dava um saquinho pro meu filho!” Então ele deixou pra nós uma coisa muito boa. Depois de Deus vem meu pai.
O senhor é o intérprete do hino do bloco dos Democráticos?
Sou sim! Até não era pra ser eu o cantor não, o tecladista que seria o cantor. Acontece que depois que estava tudo pronto, havíamos feito o ensaio todo, mas quando ele foi cantar não deu aquela vida na música. Daí eles me disseram: “Olha Tonico, canta você mesmo porque você faz parte do bloco, você é Democrático e vai dar mais vida à música!” Daí eu disse que não era cantor, que apenas tocava saxofone. Mas eles insistiram. Até que chegou o Luiz Carlos e falou: “Faz você mesmo que vai dar tudo certinho.” Então eu pedi pra beber um copo de água pra relaxar um pouco a garganta e acabei cantando a música toda. Por ser dos Democráticos eu vibrei muito na hora de cantar a música e acabou dando tudo certo. Parece que muita gente não sabe que a voz é minha, mas foi muito bom ter cantado naquele dia.  

Como é que o senhor vê a situação dos Democráticos atualmente?
Acho que falta aos mais novos terem mais interesse, porque uma parte da velha guarda já faleceu, outros já estão um pouco mais velhos. É preciso que os jovens do bloco se entusiasmem, se animem mais, para eles fazerem o bloco voltar a ser aquela explosão quem sempre foi. Pra mim, ele é uma das sete maravilhas do mundo!

O que o senhor acha dos desfiles serem na avenida?
Eu vou dar a minha opinião. Por ser da velha guarda, eu não troco o morro por nada! Eu não sou contra quem gosta dos desfiles na avenida, mas o Democráticos só faz sentido descendo esse morro! A gente treme, a gente arrepia! Eu gosto do morro. Aquela descida não tem preço!

Um comentário:

  1. Parabéns pela reportagem!!!

    Tonico, saxofonista que nas décadas de 60 e 70 fez sua música ecoar pelos cantos da região.

    Músico talentosísssimo, e ainda que recluso em nossa Santa Rita, sempre foi respeitadíssimo entre saxofonistas de diversos cantos. Seu nome era conhecido entre muitos músicos da Jovem Guarda e do Jazz.

    É uma pena não ter se projetado fora de nossa cidade, com certeza teria reconhecimento no mundo da música instrumental.

    Faltou ele contar a proeza de tocar 2 saxofones ao mesmo tempo, bem como a habilidade de tocar uma música inteira de trás pra frente !!! :-D

    Conheço essa história, sua referência era mesmo o Manito dos Incríveis e seu som (inclusive o timbre rouco e os agudos do sax) sempre foram tão perfeitos quanto aos dos saxofonistas mais pops da década de 70.

    Para os músicos que conhecem seu som, ele é uma lenda viva do SAX !!!

    Abração Mestre !!!

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