quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Morro do Esguicho

Por volta de 1922, o turismo foi intenso no Rio de Janeiro. Não só os brasileiros visitavam a cidade maravilhosa, como também estrangeiros de todas as partes do mundo. O motivo de todo aquele movimento foi o centenário da nossa Independência que teve, como atração principal, a “Feira Internacional de Amostras”. O evento trazia ao Brasil, pela primeira vez, a produção industrial do mundo inteiro e causou grande repercussão.
Entrada do Parque Diversões. Exposição do Centenário da Independência do Brasil. Rio, 1922.
Na preparação para o festejo, estava incluída a demolição do famoso “Morro do Castelo” para que fosse aterrada a baía de Guanabara e, naquele local, fosse realizada a obra. O método empregado foi através de jatos de água que eram enviados ao morro, afim de que o barro fosse canalizado e direcionado ao local onde deveria ser realizado o aterro.  O trabalho durou anos. No decorrer da execução do projeto, muitos turistas puderam presenciar o espetáculo, dentre eles, alguns de nossos conterrâneos que, ao verem o processo, idealizaram realizar um empreendimento similar para cobrirem nossas várzeas e traçarem novas ruas e avenidas nas regiões pantanosas.
Morro do Castelo, Rio de Janeiro.
A comitiva

Quando retornaram, os santarritenses logo apresentaram a tecnologia aos governantes locais que, entusiasmados com a novidade, organizaram uma comitiva em direção à capital do Brasil. Ao chegar ao Rio de Janeiro, Francisco Moreira da Costa, prefeito na época, encantou-se com a beleza da cidade e com a inovadora técnica de desmonte do morro. Dentre as personalidades que estiveram presentes na comitiva, um deles chamou a atenção em sua estada no Rio. O senhor Manoel Dias Saraiva, que havia enviado à feira algumas amostras do vinho que produzia (no local onde, mais tarde foi edificado o prédio da Estamparia), recebeu uma medalha de ouro e um certificado por sua participação.

Ao retornar a Santa Rita, Francisco Moreira logo convocou uma reunião para que fosse executado o projeto. Como a Câmara Municipal não podia arcar com as despesas, foi criada em 1924 a Companhia de Melhoramentos Municipais, que estabelecia quotas aos investidores, equivalentes a um lote aterrado por cada uma delas. Anos mais tarde, muitos acionistas doaram suas cotas para que pudesse ser criado o hospital Antônio Moreira da Costa.

A compra do equipamento

Uma vez vendidas as cotas, o grupo tratou de realizar a encomenda de uma bomba hidráulica, diretamente de Hamburgo, na Alemanha. Em janeiro de 1926 aportava o cargueiro “Monte Sarmiento” com a máquina com 200 HP e 17 atmosferas no Porto de Santos. Enquanto não era liberada a encomenda, no dia 24 de janeiro de 1926, a nova Companhia celebrava o contrato realizado com o Dr, Antenor, que cedia o terreno do morro. Nessa mesma época, os empreendedores locais realizaram a primeira chamada das cotas vendidas, a fim de que a encomenda fosse quitada.

A execução da obra

No dia 7 de março, o equipamento hidráulico mais avançado da época chegava a Santa Rita. Através de um acordo com o presidente da Companhia de Força e Luz Minas Sul, José Andrade Moreira, foi definido que essa organização forneceria 10 horas diárias de energia elétrica, mediante o pagamento de R$ 3:000$000. Um grande negócio, uma vez que a tabela em vigor em 27 de julho de 1926 previa o pagamento de R$ 7:000$000 mensais. Após a realização dos últimos ajustes para o início da instalação, a bomba hidráulica foi assentada na Avenida Antônio Paulino.
Os jatos d'água do Morro do Esguicho, em Santa Rita do Sapucaí. Na foto, Bernardino Lemos Simões (meu bisavô)
Um projeto audacioso

O trajeto para captação, produção do magma e direcionamento do barro através da bicame era, de certa forma, complexo. A água era canalizada do Rio Sapucaí, cortava as Ruas 13 de maio, Quintino Bocaiúva, passava pelo terreno do Antenor até atingir o morro que, mais tarde, passou a ser conhecido como “Esguicho”. Quando a água alcançava o morro onde hoje está localizada a empresa Linear, um jato era lançado com grande força em direção ao monte, o barro era canalizado e direcionando ao local do aterro, em um percurso que passava por trás da antiga Santa Casa de Misericórdia e cortava a Rua Cel. Antônio Moreira da Costa. A superintendência da obra estava a cargo do  Dr. João Kraned.

A inauguração da obra

Uma vez colocado em prática aquele laborioso processo, os trabalhos tiveram início no dia 25 de julho de 1926. Durante a inauguração do empreendimento, um grande número de acionistas esteve presente no local, além de diversas autoridades e da população que, curiosa, observava atenta a movimentação dos trabalhadores. Naquele dia, a máquina funcionou durante 4 horas seguidas e desagregou mais de 60 metros cúbicos de terra. Sucesso total.

Mãos à obra

Após a inauguração, o local do desmonte passou a ser administrado e guardado pelo senhor Bernardino Lemos Simões e tornou-se, desde então, um passeio obrigatório para os visitantes de Santa Rita do Sapucaí. O Esguicho passou a ser também um ponto de recreio dos habitantes da cidade, local de namoros escondidos e até encruzilhada de macumba.

Onde era charco, a companhia transformava em terra a fim de que seus novos proprietários pudessem construir belas residências. Já as ruas, desde então, puderam ser projetadas de forma mais bem traçada e começaram a oferecer um aspecto mais agradável à cidade.
Morro do Esguicho. Santa Rita do Sapucaí.


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