quarta-feira, 20 de abril de 2011

Navantino, fala sobre sua trajetória e sobre as lendas que marcaram o Inatel

Professor Navatino recebe autoridades em visita ao Inatel.
O senhor poderia nos contar sobre a lenda que envolveu a vinda do Presidente ao Inatel?

Tem um fato que contam, mas que não sei até que ponto é verdade. Dizem que, certa vez, um presidente da república veio ser paraninfo aqui do Inatel, na época do regime militar. Por esse motivo, havia um esquema de segurança ainda mais intenso do que o normal. Uma semana antes, chegaram à cidade muitos seguranças que vasculharam a faculdade inteira. Eles olharam até no forro. No auditório da Escola Técnica de Eletrônica, onde seria realizada a colação, a partir do momento em que eles vasculhavam tudo, ficava um guarda de plantão, para que só entrassem e saíssem pessoas autorizadas. O interessante foi que, quando a comitiva estava chegando ao Inatel com o presidente, faltou água na faculdade e pediram para que o responsável fosse averiguar porque as caixas d’água estavam vazias. Naquela época, nós tínhamos uma certa dificuldade com a questão da água, devido à localização, e utilizávamos um poço. O fato foi que coincidiu da comitiva estar entrando na faculdade e um funcionário gritar para o encanador: “Liga a bomba!” Dizem que foi uma correria! Os militares querendo saber que bomba era aquela e isso teria causado um grande tumulto.
Inatel festeja ao receber certificação do Curso de Engenharia Elétrica.
O senhor assistiu a um vídeo que fizeram em sua homenagem e que está hoje no site Youtube?

Eu sou muito irriquieto. Eu tenho muita dificuldade, por exemplo, de participar de uma reunião porque eu não consigo ficar parado ali. Eu preciso andar, me movimentar e tal. Durante as minhas aulas eu me movimento muito.  O que aconteceu foi que, há mais ou menos um ano e meio atrás, apareceu no Youtube um vídeo chamado “Psy Navantino”. Um aluno me filmou dando aula, com um celular, fazendo gestos e movimentos, e depois achou uma música mais acelerada e também acelerou o vídeo com os meus movimentos, rigorosamente no ritmo da música. Ficou, do ponto de vista do trabalho dele, uma coisa extremamente bem feita. Quando eu fiquei sabendo, eu fui até lá e vi que já tinha tido mais de dois mil acessos. Eu não considerei aquilo como uma afronta, embora eu tenha conseguido identificar em que turma foi feita a gravação. Eu até comentei com a turma: “Eu vi o vídeo, achei muito bem feito, não estou preocupado em saber quem foi, não achei uma falta de respeito, mas tomem cuidado em pedir autorização às pessoas antes de colocarem na internet, porque pode trazer complicações com a questão dos direitos de imagem.”


As suas notas foram as maiores do Inatel, em todos os tempos?

Não, não... Eu fui um aluno que sempre teve um bom rendimento escolar, mas nós sempre tivemos grandes alunos no Inatel. Eu não saberia dizer, caso fossem calculadas todas as médias, em qual posição eu estaria, mas eu conheço suficientemente bem outros alunos que passaram por aqui - antes e depois de mim – que possivelmente tenham tido notas muito maiores do que as minhas.

Como o senhor foi escolhido para dar aula na instituição?

Eu fui contratado para trabalhar na área com maior mercado de trabalho na época, que era a “telefonia”. Eu sempre gostei dessa área e tive a felicidade de, logo no começo do curso, ter identificado uma área das telecomunicações em que eu gostaria de trabalhar. Esse perfil meu, fez com que o professor Carlos Prata me indicasse ao diretor do Inatel para atuar nessa área. O fato de eu ter sido monitor dele e também pelo meu interesse nessa área, foram até mais importantes do que o meu rendimento escolar para que fosse convidado. As notas do aluno tem uma certa importância, mas não  são tudo. Eu conheço ex-alunos que foram brilhantes sob o ponto de vista acadêmico e que tiveram um teto de progressão relativamente baixo em relação ao que a gente poderia projetar, olhando as notas dele. Acontece também o contrário. Eu conheço alunos que não tiveram um rendimento acadêmico brilhante e que chegaram a ser presidentes de grandes empresas. Na realidade, o exercício profissional é uma somatória de valores. O rendimento escolar é importante, mas apenas a primeira chave que irá abrir a primeira porta.
Era assim o Inatel no início do seu funcionamento.
Como foi sua chegada ao Inatel?

No início, chegamos a pensar que o Inatel fosse fechar. A despesa era maior do que o rendimento. Alguns professores chegavam a dar 6 meses de aula sem salário.

Quando eu cheguei, ainda jovem, aqui era uma fazenda. Era um dia chuvoso e havia verdadeiras crateras de erosão nos morros que contornavam a instituição. Eu vim para cá acreditando que aqui funcionava uma escola de engenharia, porque eu estava na chamada “Idade heróica”. É uma época da sua vida em que você se alista como voluntário para ir pra guerra, você casa, ou vem estudar no Inatel que eu vi naquela época. Eu vim por conta de um idealismo, ou de uma falta de percepção de que aquilo que eu estava vendo ali não poderia ser uma escola de engenharia. E podia... Mas houve uma dificuldade muito grande. Hoje, quando vemos o reconhecimento que o Inatel atingiu e a estrutura que poucas escolas têm, devemos nos lembrar de que tudo isso foi conseguido graças ao empenho desses pioneiros.

Os alunos de hoje ainda têm esse idealismo?

Os alunos e ex-alunos ainda contribuem muito para isso. A postura deles é a melhor contribuição que eles podem dar. Aqui você não vê pichação nas paredes, você não vê cartaz colado... tudo isso é importante. É uma somatória de pequenos detalhes.

No Inatel, existe uma preocupação especial com o bem-estar?

A gente cuida disso. Nós acreditamos que o ambiente de produção intelectual tem que ter alguns requisitos necessários para um bom funcionamento. Tem que ser um ambiente limpo, tem que oferecer prazer. Por isso, nós temos um campus muito arborizado, tem muita grama, você vê que tem muitos quadros pelos corredores, para tornar o ambiente agradável. A gente fala que, na idade desses jovens, tem muita coisa mais gostosa para fazer do que estudar. Nem por isso eu ouvi, até hoje, um aluno dizer que é um sacrifício para ele vir para o ambiente do Inatel. Aqui ele pode ficar debaixo de uma árvore, ou pode sentar sobre a grama. Apesar de nós não o proibirmos de caminhar sobre a grama, isso não acontece, porque eles nos ajudam na preservação do patrimônio.
Navantino torna-se diretor do Inatel.
Por que eles têm uma postura tão saudável em relação ao ambiente deles?

Por iniciativa dos próprios alunos. Nós nunca dissemos que eles não podiam pisar no gramado mas, ainda assim, você não vê trilhas nele. Quando eu fui diretor do Inatel, existia um depósito que nós resolvemos demolir e colocar um gramado porque não estava agradável. Quando terminamos de gramar, o pessoal da conservação sugeriu que fizéssemos uma calçada para as pessoas caminharem ao almoxarifado. Eu falei: “Planta a grama e deixa o pessoal pisar.” Seis meses depois, estava definido exatamente por onde o pessoal passava. Então eu falei: “Agora podemos construir a calçada sobre a trilha”.

Eu sempre gostei de cuidar para que o ambiente fosse o mais agradável possível. Em minha casa, por exemplo, eu sempre gostei de plantar rosas no jardim. Em um belo dia, depois do dia dos namorados - eu estava dando aula – quando um aluno me falou: “Nesse ano o senhor decepcionou a gente, professor! Nem no seu jardim tinha rosas pra gente roubar para dar às nossas namoradas!”

Um comentário:

  1. O professor Navantino além de exercer com maestria sua profissão, é uma pessoa de excelente caráter.
    Sinto saudades de suas aulas.

    Parabéns pela matéria.

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