terça-feira, 31 de maio de 2011

Entrevista com o sábio Gumercindo Rodrigues

Gumercindo Rodrigues é uma espécie de referência aos historiadores locais. Aos 88 anos, com uma memória invejável, o sapateiro que trabalhou a vida toda em sua oficina na rua da ponte conhece histórias do arco da velha. Nesta edição do Empório procuramos conhecer este homem tão sábio e lúcido e o resultado você confere a seguir:
Como era a Santa Rita do Sapucaí de sua infância?

Eu tenho oitenta e oito anos. Na minha infância, a cidade era muito pequena. Só existiam a Rua do Queima, a Rua da Ponte, a Praça, a Rua do Zé da Silva, a Rua Nova, a Rua Erasmo Cabral e a Rua dos Marques. Nessa várzea onde está o hospital era um aterro. Lá só tinha um campo de futebol e sempre ficavam ali os circos que chegavam à cidade. No lugar onde está a casa da Dona Mariquinha Barbosa - perto do Pronto-Atendimento - existia um córrego. Ouvi dizer que nos fundos da casa do Acácio Vilela também tinha uma lagoa e que chegou a morrer um estudante filho de judeu ali.  Essa terra era muito pacata. Morte não existia. Briguinha de pinga sempre tinha, mas em cinquenta anos eu só soube de uma única morte.

O senhor começou a trabalhar muito cedo?

Eu comecei foi na oficina do Marra. Depois eu trabalhei para o Didico, filho do Antônio Turco. Daí eu fui embora com a minha família para Cachoeira e só voltei já moço para trabalhar na rua da ponte como sapateiro.

Onde ficava seu estabelecimento?

Minha loja era onde hoje está o Banco Bradesco. Eu tinha uma porta ao lado dos Abdalinhas, em uma garagem. Ali eu entrei mocinho e saí velho. Comecei com vinte e dois anos e saí com quase setenta. Fiquei trinta e sete anos em um lugar só. O proprietário do espaço era o senhor Rodolfo Adami, grande pioneiro de Santa Rita.

Conte-nos sobre o senhor Adami.

Rodolfo era pai do Ico Adami. Pouco antes de vir para cá, ele trabalhou na construção das estradas de ferro de Diamantina e Ouro Preto. Nessa ocasião, durante a inauguração da estrada de ferro, ele disse que conversou com Dom Pedro e que viu uma rainha da família Savoya da Itália. Sua chegada por aqui aconteceu porque o próximo serviço seria em Passo Quatro e ele errou o caminho. Somente quando chegou a Bela Vista foi que disseram para ele que a cidade não era essa.

Ele ajudou a construir nossa ferrovia?

Quando Rodolfo chegou a Santa Rita, a ferrovia já havia sido traçada. Ele estava descansando em um rancho de peões que existia na atual rua da ponte - em frente à casa do Jaques Bresller - quando foi visto por um engenheiro que, ao reparar nas suas corroças, perguntou se ele trabalhava com construção. “Onde tiver trabalho eu fico!” – respondeu o italiano. Com suas carroças, ele aterrou um trecho da ferrovia e acabou se casando por aqui. Desde então, a primeira fábrica de macarrão e a primeira padaria foram dele, foi ele quem aterrou a rua da ponte e também comprou uma máquina de café na rua do queima. Rodolfo foi um dos pioneiros de Santa Rita.

Como era a sua oficina?

Meu boteco (oficina) era uma vergonha! Tinha de tudo que você pode pensar! Moço, moça, velho, velha! Gente de tudo que é tipo! (Risos) O falecido Celso era um grande companheiro que frequentava lá. Aliás, aquela família inteira é minha amiga!  Como andante era o que mais tinha na cidade, o Waltinho do Bruno ficava na porta mexendo com todos eles. Ele, quando moleque, era uma praga! O pé de anjo (personagem folclórico da época) era divertido, mas falava cada palavrão pra nós, rapaz...

Quem frequentava o local?

Ali eu convivi com muita gente. Com pedidores de esmolas, prostitutas, princesas e sábios. Um deles, o Leopoldo Memberg - neto de um general da Baviera - era um verdadeiro gênio e nunca ostentou um só título em toda a sua vida. Era irmão do doutor Frederico de Paula Cunha e tinha uma cultura de fazer inveja. Tudo o que você perguntava o danado entendia. Foi com ele que ouvi falar pela primeira vez do Titanic. Ele também me contou muitas histórias sobre sua visita ao Padre Vítor.

O que ele te contou?

Padre Vitor recebia presentes todo dia, mas tudo que ganhava aqui, dava ali. Deitava no chão porque não tinha onde dormir. Era uma das únicas pessoas do mundo que faziam desdobramento (viagem espiritual). Leopoldo conta que, certa vez, dois padres amigos dele foram para Roma comprar seu título de “pároco” e quando chegaram lá, descobriram que ele já tinha passado antes, pegado os documentos e voltado pra casa.

Quem foram os seus amigos na juventude?

Eu fui grande amigo de um homem que brigava até com a sombra: Edmundo Síecola. Mas ele era um homem de um coração e de uma bondade que não tinha tamanho. Desde criança éramos amigos. Era uma pessoa honesta, sincera e franca. Convivemos muito tempo juntos.

Também fui muito amigo do Belarmino – um grande humorista do rádio brasileiro. Ele chegava na minha oficina, arrancava o sapato e dizia: “Conserta aí porque eu não tenho dinheiro pra comprar outro!” Era um homem de um coração e uma bondade muito grandes. Quando ele chegava lá na oficina o dia acabava, xará! Ficava o dia inteiro contando histórias.

Conte-nos uma delas.

Ele contou que conheceu o Juscelino Kubitschek em um recreio de faculdade. Como eram pobres, os dois ficavam isolados dos ricos. A sociedade era muito fechada. Depois de formados, eles estiveram na revolução de 1932 e trabalharam como médicos. Eram tão próximos que quando Juscelino foi governador de Minas chamou Belarmino para ser seu Secretário de Saúde.

O lendário Dito Cutuba também frequentava sua Sapataria?


O cutuba foi muito amigo meu e não saía da minha oficina. Sua vida pregressa foi cheia de frustração e revolta, mas era muito querido na cidade. Ele tinha umas amizades muito importantes.

Ele tinha amigos importantes?

Uma vez, quando o Tonéte (Irmão de Bilac Pinto) – que era Procurador do Estado da Guanabara - apareceu por aqui, ficou hospedado na casa do falecido Coronel Chico Moreira e pediu ao João do Carmo que chamasse o Cutuba. O dois eram muito amigos porque estudaram juntos em Brazópolis.

Estava aquele homem importante no portão da casa do Chico Moreira quando chegou o Cutuba – fedido, barbudo, sujo e com um chapéu enorme da cabeça. Tonéte quando o viu falou: “Como você está moço Dito!” E o Cutuba respondeu: “Estou moço porque eu sou vadio! Como você tem responsabilidade, está velho!” (Risos). Os dois almoçaram juntos na mesa do Chico Moreira!

No outro dia, eu estava trabalhando quando Cutuba chegou e se sentou em cima de um monte de pneus que eu tinha em frente ao balcão. O Dito virou pra mim e disse: “Moço, eu to abonado!” E retruquei: “Você está abonado como? Você não trabalha...” Daí ele enfiou a mão no bolso, tirou duas notas novinhas de cinco mil cruzeiros e falou: “O Tonéte me deu!” (Risos) Era muito dinheiro! Eram umas notas bonitas de dar gosto!

Qual a diferença entre a cidade de sua juventude e a de hoje?

O que eu vejo é que hoje está muito bom para o operário. Antigamente, o povo era muito sofrido. Tinham os barões e tinham os escravos. O camarada tinha muito valor quando trabalhava dia e noite. Quando ficava velho, ou ia para o asilo ou pedia esmola na rua. Do Getúlio pra cá, quando foram criadas as leis trabalhistas foi que a coisa melhorou. Hoje eu não vejo mais ninguém descalço. Não tem mais ninguém rasgado ou sujo. A verdade é que, atualmente, o país está uma maravilha para o operário.

O senhor tem alguma inclinação ao socialismo?

Na verdade, eu nunca li uma única obra socialista, mas a vida toda, sempre que pegava um prato pra comer, me preocupava se o meu semelhante também tinha com que se alimentar. Essa é a minha política.
(Entrevista concedida a Carlos Romero)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Programa Brasil das Gerais realizado em Santa Rita do Sapucaí

Assista um trecho do programa realizado em Santa Rita do Sapucaí no dia da festa da cidade (24 de maio de 2011).

Segundo Episódio de Brilhante Futebol Clube

Não percam o segundo episódio de Brilhante Futebol Clube. Uma série ambientada em Santa Rita do Sapucaí. Dia 30 de maio - 19 horas - na TV Brasil.

O talento genial de Sérgio Augusto Bertoloni

Sérgio Augusto Bertoloni nasceu há 200 quilômetros de Santa Rita do Sapucaí, em Conceição de Aparecida, e cresceu apaixonado por música. Aos oito anos, junto com 4 amigos, formou uma banda de bate-lata que fazia um grande sucesso entre a molecada. De garrafas de conhaque Presidente amarradas com barbante pelo gargalo, foi criada uma marimba. Com barricas redondas de sabão - cobertas com sobras de couro da fanfarra da escola - foram feitos instrumentos de percussão. A guitarra surgiu de um pedaço de madeira recortada, acordoada com linhas de anzol. Não faltava mais nada. Aquilo era tudo o que eles precisavam para tocar o terror nas festinhas da escola. Na verdade, ninguém sabia tocar nada. O grupo seguia mais o ritmo do que a harmonia.  No entanto, o sucesso foi tamanho que a nova banda passou a cobrar 3 palitos de fósforo (uma fortuna na época) para a criançada assistir aos ensaios. Aquela encenação toda acabou chamando a atenção de Heraldo - um eletricista da pequena cidade de 8 mil habitantes - que ofereceu aos garotos um microfone velho de presente. Com a valiosa peça em mãos, eles precisavam agora de um bom amplificador. Muito fácil: com uma caixa de banha, Serginho consertou um rádio velho doado pelo tio, conectou o microfone ao potenciômetro e colocou para funcionar sua mais recente invenção. Mais tarde, acabaram surgindo novas geringonças – feitas com sobras de material de construção. A mais curiosa foi a iluminação de palco, feita com restos de fios e lâmpadas, amarrados em um cabo de vassoura. Em meio a toda aquela diversão, Serginho mal sabia que com seu grande interesse por válvulas, fios e lâmpadas, estava empreendendo os primeiros passos no que viria a fazer pelas próximas décadas.

Na adolescência, as brincadeiras foram substituídas por um pequeno laboratório de química, por revistas de eletrônica e pela leitura de obras clássicas na biblioteca municipal. Enquanto a turma jogava no campinho, Serginho estava em outra e passava horas ouvindo a bibliotecária contar como foi a estada de Platão no purgatório de Dante Alighieri. 

Em 1976, o rapaz ficou sabendo que um de seus conterrâneos tinha acabado de se matricular na mais famosa escola de eletrônica do país. Aquilo despertou nele uma vontade enorme de aprender a profissão e Santa Rita do Sapucaí acabava de entrar nos seus planos.
Em 1980, o segundo estudante de Conceição de Aparecida pousava na terra do João Onça e se matriculava na ETE, depois de concluir um mês de cursinho com o professor Melqui. Após a formatura, três anos depois, Serginho buscou novos ares e passou algum tempo em São Paulo antes de cursar o Inatel, em 1986. Desde então, o rapaz começou a trabalhar na Sense e nunca mais saiu. Ele fazia o que mais gostava, mas com o passar dos anos, o peso da responsabilidade começou a pesar em seus ombros.  O alto nível de estresse acabou levando-o a fazer uma consulta médica para saber como reduzir a pressão que já alcançava a estratosfera. A sábia sugestão do médico foi a de que ele desempenhasse alguma tarefa que lhe proporcionasse prazer e utilizasse seu tempo livre para desanuviar a mente. A coincidência foi que, naquele período, seu filho havia acabado de iniciar suas aulas de música e aquilo inspirou uma velha habilidade em Serginho que pensou: “Vou construir uma guitarra para o Luiz Fernando!”

Desta vez seria diferente. Serginho já era engenheiro e tinha conquistado grandes conhecimentos de tecnologia. No começo, não tinha a técnica necessária ao Luthier (nome dado ao construtor de guitarras), mas disposição era o que não faltava. Tratou de comprar livros, procurar grandes profissionais da área e encontrar formas de realizar seu sonho: produzir uma das guitarras mais cobiçadas do planeta. 

O primeiro trabalho do engenheiro não foi humilde. Construiu uma Fender Broadcaster de primeira linha. Com um pedaço de mogno imperial (árvore extinta no Brasil no século XIX), delineou perfeitamente o corpo do instrumento. O braço foi feito com madeira marfim. Para a blindagem da guitarra, usou tinta condutiva, criando um sistema mais perfeito do que o modelo original. As cores escolhidas foram os matizes da moda nos anos 50: Azul e Preta. Com cerca de 1500 Reais, criou um instrumento que, em uma loja, não custaria menos de 9000. Sua missão estava cumprida.

Assim que terminou a construção de seu primeiro trabalho, Serginho o levou para fazer a afinação em São Paulo. Naquele mesmo dia, Kiko Loureiro, guitarrista do Angra – uma das bandas brasileiras mais conhecidas do mundo – estava passando pelo local e viu o raro instrumento. Ao tocar algumas músicas naquela Broadcaster artesanal, o grande guitarrista ficou encantado com a sua qualidade e disse que o engenheiro tinha feito um excelente trabalho. Era a pilha de que Serginho precisava para levar seu hobbie à frente.
As guitarras seguintes, construídas em cerca de um ano e meio cada uma, se inspiraram em uma evolução de Leo Fender: a Telecaster. A primeira era branca, com pinturas feitas por sua filha Giovana que sobrepunham o corpo e o braço do instrumento. Quando finalizou a construção da relíquia, a peça foi presenteada ao professor de guitarra de Luiz Fernando – o famoso guitarrista Giovani - que foi às lágrimas quando soube que havia sido feita especialmente para ele. A segunda obra foi toda recoberta com imagens da “Divina Comédia”, através de uma técnica sugerida por Giovana, e que teve um trecho da obra gravado atrás do instrumento. Uma preciosidade. Quem conhece o assunto diz que poucos exemplares conseguiram um desempenho tão perfeito. Desde então, a notícia correu o mundo da música e guitarras das mais diversas procedências começaram a chover no quintal do novo luthier para serem aperfeiçoadas através de sua incrível técnica. De lá pra cá, mais de 50 instrumentos passaram por suas mãos, mas ele nunca cobrou um único real pelo serviço.

O desafio seguinte foi muito além da construção de guitarras. Serginho estava à procura do amplificador perfeito e criou uma joia valvulada de alta potência, toda recoberta de mogno. O sonho de todo artista. Para finalizar seu feito, gravou em uma lâmina de aço sua assinatura – Bertoloni – e aplicou no equipamento.

A arte do engenheiro não tem hora para acabar. O próximo trabalho de Sérgio Augusto Bertoloni será uma “Slide Guitar”. Seu filho, que hoje é guitarrista de uma banda que tem apresentado o projeto “Pink Floyd Experience”, não vê a hora de o instrumento ficar pronto para dar um gás ainda maior em suas apresentações. Enquanto isso, pai e filho, tornam-se cada vez mais unidos pelo amor em família e pela paixão pela música, traçando novos projetos em nome do bom e velho Rock and Roll.

(Carlos Romero Carneiro)

Quando as as águas do Sapucaí banhavam o Catete

DELFIM MOREIRA - PRESIDENTE DE MINAS GERAIS E DA REPÚBLICA; 2- JÚLIO BUENO BRANDÃO- PRESIDENTE DE MINAS GERAIS;  3- FRANCISCO BRESSANE- DEPUTADO FEDERAL;  4- PINHEIRO JUNQUEIRA - DEPUTADO FEDERAL;  5- WENCESLAU BRAZ - PRESIDENTE DE MINAS GERAIS E DA REPÚBLICA;  6- BENJAMIN MACEDO - DEPUTADO FEDERAL
Um pescador na presidência

Neste mês, tivemos acesso a uma obra de Darcy Bessone, intitulada “Wenceslau – um pescador na presidência” que conta a trajetória de um presidente brasileiro que esteve muito presente em Santa Rita do Sapucaí, entre a virada do século XIX e o início do século XX. Wenceslau Brás, nascido em Itajubá, sempre teve uma forte proximidade com Delfim Moreira, morador de nossa cidade. Muito amigos, os dois grandes políticos mineiros estiveram juntos, desde os tempos de faculdade - no largo de São Francisco - até a presidência da República, cargo exercido por ambos. “Wenceslau se matriculou, em 1886, na Faculdade de Direito da cidade de São Paulo, bacharelando-se em 1890, juntamente com seu primo Delfim Moreira da Costa Ribeiro, que o sucederia, mais tarde, na Presidência da República. As notas do itajubense variavam entre ‘simplesmente’ e ‘plenamente’ e não o qualificavam como um estudante distinto. Ainda hoje, na fa-culdade, existe uma carteira escolar com o nome de Wenceslau e mais dois futuros presidentes – Delfim e Washington Luiz – gravados a canivete. Fato este que indica que o zelo dos estadistas pela coisa pública ainda não era dos mais intensos. Aliás, o próprio governante chegaria a dizer, mais tarde, que era um estudante ‘levado da breca’ e que abusou da mocidade”.

A República da Bucha

Como todos os presidentes civis da chamada República Velha - com exceção de Epitácio Pessoa - Wenceslau Braz e Delfim Moreira também fi-zeram parte da lendária Bucha – uma sociedade secreta criada na Faculdade de Direito. Segundo contam os estudiosos do assunto, seu fundador foi Julius Frank, professor de História e Geografia no Curso Anexo da Academia de Direito, onde trabalhou de 1834 até seu falecimento. Nos anos seguintes, esse grupo formado exclusivamente por alunos daquela instituição ocuparia os mais altos cargos da vida pública brasileira. Quem não foi presidente ou governador acabou se tornando um importante ministro ou secretário dos antigos colegas. Tamanha era a influência invisível da Bucha na história do Brasil que ainda hoje existe, no pátio da faculdade, a tumba onde o professor foi sepultado. Tal honraria jamais seria repetida com outro mestre. Esse período, que teve início em 1889 e se estendeu até 1930, ficaria marcado como “República Maçônica” ou “República da Bucha”. Dizem que o último go-vernante brasileiro, membro deste grupo, teria sido Jânio Quadros.
FOTO TIRADA NO GABINETE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, WENCESLAU BRAZ PEREIRA GOMES, NO MOMENTO DA ASSINATURA DO DECRETO QUE REVOGOU A NEUTRALIDADE BRASILEIRA NA I GUERRA. À DIREITA DELE, O MINISTRO DO EXTERIOR, NILO PEÇANHA, DELFIM MOREIRA, PRESIDENTE DE MINAS GERAIS E ARTHUR BERNARDES, DEPUTADO FEDERAL;  À ESQUERDA, O VICE-PRESIDENTE URBANO SANTOS.
Quando o Brasil vivia de Café com Leite

Em outro trecho da obra de Bessone, é possível constatar como eram realizadas as sucessões presidenciais no país à base do “café com leite”. Ao terminar seu mandato como presidente, Wenceslau articulou uma chapa em que um paulista era indicado como o próximo candidato: “Teve, contudo, o chefe da nação (Braz) mais sagacidade do que Afonso Pena. Não tentou situar, na cabeça de chapa, um mineiro para conquistar uma terceira presidência montanhesa. Ali colocou um paulista, com a tradição de uma gestão singularmente realizadora, que iria, no novo período, encontrar as finanças todas em ordem. No entanto, Rodrigues Alves era um septuagenário, sem boa saúde. Não fazia mal que se pusesse ao seu lado o mineiro Delfim Moreira, apenas cinquentão, para obter um bom café com leite.” Continuando o texto, notamos que a articulação do itajubense deu certo: “Não houve oposição e os dois se elegeram. Rodrigues Alves, velho e enfermo, não pôde tomar posse e coube ao primo Delfim, receber o poder das mãos de Wenceslau. E as águas do Sapucaí continuavam a banhar o Catete”.
TÚMULO DE JULIUS FRANK.
 O retorno ao Vale do Sapucaí

Talvez um dos pontos mais interessantes desta importante obra sobre a vida de Wenceslau seja a tentativa de mostrar que, tanto ele quanto Delfim Moreira, mesmo ocupando o mais alto cargo público do Brasil, não deixaram de lado o estilo de vida de nossos conterrâneos. Nas linhas que seguem, o itajubense deixa o cargo e volta para sua terra natal, onde encontra um antigo companheiro de pesca: “Wenceslau já não é presidente. Está saudoso do seu velho amigo, o repousante Rio Sapucaí. Sabe que Messias, tranquilo companheiro de pescarias, não se impacienta. Fica à sua espera, na beira do rio, dando-lhe tempo de arrumar o Brasil. Agora, um outro barranqueiro, o Delfim, ali de Santa Rita, estaria no leme. Sendo assim, tudo correria bem. Não havia razões para maiores cuidados.

(Carlos Romero Carneiro)

Aquira a obra Jonas Costa sobre a história da lider negra Maria-Bonita

Cozinheira e benzedeira afamada de Santa Rita do Sapucaí (MG), Maria Bonita criou sete filhos praticamente sozinha depois que o marido migrou para a capital paulista, de onde jamais regressaria. Sem descuidar das lides domésticas, fundou e liderou uma agremiação carnavalesca (Mimosas Cravinas) e um clube recreativo (Associação Santarritense José do Patrocínio), ambos destinados aos afrodescendentes. Teve grande influência sobre a comunidade negra e envolveu-se com a política local. Conheceu estadistas e hospedou artistas. Vocacionada para a maternidade, amamentou muitas crianças, batizou outras tantas e acolheu filhos alheios. 

Os negros sentiam-se liderados por Maria Bonita e lhe atribuíam poder temporal e espiritual. Mulher de hábitos simples, ela possuía uma personalidade complexa. O papel de liderança de Maria Bonita é o fio condutor de "A rainha operária e sua colmeia negra". Todavia, este livro-reportagem não tem caráter exclusivamente biográfico: narra também períodos que antecedem e sucedem a vida da líder negra, além de descrever a conjuntura local em cada momento histórico.

Número de páginas: 182
Peso: 272 gramas
Edição: 1(2011)
Acabamento da capa: Papel Couché 300g/m², 4x0, laminação fosca.
Acabamento do miolo: Papel offset 75g/m², 1x1, cadernos fresados e colados (para livros com mais de 70 páginas) ou grampeados (para livros com menos de 70 páginas), A5 Preto e Branco.
Formato: Médio (140x210mm), brochura com orelhas. 

Acesse aqui para adquirir a obra: 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Barracas da "Colônia Chinesa" são destaque da Festa de Santa Rita

A barraca de doces "Kid Abelha" fez juz ao nome.
 Mais uma vez, as barracas da gloriosa "Colônia Chinesa" foram uma das grandes atrações da Festa de Santa Rita. Como bons representantes do lado profano da comemoração, neste ano nós não vimos o famoso Japonês dos Churros e nem o Burrinho Pintado de Zebra. Já o pernil, assado apesar das restrições médicas, esteve presente com força total. 
Jabulaaaaaaaaaaani por Déi Real? Só nas barracas da Colônia Chinesa.
 Neste ano teve de tudo. Não faltou pomada contra impotência, bolas Jabulani por 10 contos e nem a fantástica liquidação de calcinhas descartáveis. Os Tecno-índios também estiveram com a corda toda no evento e venderam muitos cd´s com seus melhores momentos. Já no departamento de doces e guloseimas, quem fez a festa foi a Barraca do Kid abelha que soube muito bem fazer juz ao nome. Bem no momento em que passamos pelo local uma menina havia tomado uma ferroada na zoréba.
Tecno-índios se apresentam para duas motos, acompanhados por uma bateria eletrônica, fabricada na Zona Franca de Manaus.
A querida Baiana, como sempre, trouxe o que há de mais gostoso em culinária  brasileira e atraiu muitos fregueses com seu todo poderoso acarajé fumegante.
O acarajé da baiana fez os fregueses pegarem fogo.

A história do Café em Santa Rita do Sapucaí

Fazenda das Posses, de José Renno - era de
Francisca Vilela da Costa.
 Ouro Negro

O café é uma planta natural das estepes da Etiópia. Seu fruto, tal como o guaraná para os índios do Brasil, era aprovei-tado por estes povos africanos há muitos séculos na confecção de bebidas. Da África seu uso passou aos persas, destes aos árabes que o divulgaram a partir do século XV como um grande estimulante. Assim, suas sementes se espalharam por todo o mundo islâmico. Com o comércio com os árabes, o café chegou a Constantinopla e, logo em seguida, à Europa.

Para a América do Sul a planta foi trazida pelos franceses. Na tentativa de fincar raízes neste continente, a planta chegou ao Brasil em 1727, quando foi produzida em Belém do Pará. De mãos em mãos, as sementes foram “descendo” a costa do litoral brasileiro até chegar, na década de 1770, ao Rio de Janeiro.

A partir de 1820, com a crise da indústria açucareira, o café se tornou a principal fonte econômica nacional e foi amplamente cultivado no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Fazenda que pertenceu a José Carlos de Magalhães e Maria Avangelista Palma
e que depois foi vendida para Joaquim Inácio - Fazenda Delta.
A Chegada do Café a  Santa Rita do Sapucaí

Segundo o Historiador Ideal Vieira, o Café foi plantado pela primeira vez em Santa Rita do Sapucaí por volta de 1870, pelo Sr. Joaquim Cândido Rodrigues, em terras onde hoje está localizada a fazenda do Challet. Quatro anos depois, outro grande produtor - Francisco Marques Pereira - levaria algumas mudas para a “Fazendinha”. Em 1876, o café alcançava as terras da Capituba, pelas mãos do Sr. Joaquim Cândido Carneiro Santiago.

Até a chegada da estrada de ferro à cidade, em 1894, a produção agrícola local estava baseada na plantação do fumo. A escolha de tal cultura era puramente estratégica. Para transportar a produção até o Rio de Janeiro, no lombo de dezenas de mulas, era preciso optar por algo que fosse leve e de fácil negociação.
Fazenda que pertenceu a João Carlos
Ribeiro do Valle.
Os primeiros Barões

Cinco anos antes do italiano Antônio Rodolfo Adami vir “plantar trilhos” em nossas terras, o grande produtor Francisco Palma já havia iniciado a produção da preciosa rubiácea. Mal sabia que dentro de poucos anos, a sesmaria que herdara na serra do mata-cachorro seria o ponto de partida para que seu genro – Erasmo Cabral – iniciasse uma fortuna que o levaria a se tornar um dos maiores barões do café do estado de Minas.
Fazenda que pertenceu a Joaquim Ribeiro de Carvalho Jr.
A geada de 1918

Em 1918, os ventos mudaram para os produtores santarritenses em um momento em que, no país, havia excesso de produção: uma forte geada destruiu a maior parte das lavouras e apenas um cafeicultor conseguiu escapar dos prejuízos: Francisco Moreira da Costa. Com a escassez de café no mercado, os preços foram às alturas e somente os fazendeiros que produziam nas regiões mais altas conseguiram escapar da tragédia.  Naquele ano, o Cel. “Chico Moreira”, proprietário da Fazenda Challet, conseguiu negociar sua produção a preços exorbitantes e se tornou um dos homens mais poderosos do Brasil. Dono de uma aguda visão empreendedora e profunda moral em suas ações, o cafeicultor se tornou um grande banqueiro e passou a estimular os produtores que haviam perdido seus investimentos.

Na década seguinte tudo correu bem. A cidade progredia, oportunidades brotavam do fértil chão montanhoso e Coronéis se enriqueciam rapidamente, convertendo pequenos grãos em casas, propriedades, roupas luxuosas e tudo mais que o dinheiro podia comprar. Na linguagem dos cafeicultores, um “Fordinho” custava 25 sacas. Em torno das fortunas, surgiam os primeiros bancos locais. Diante das oportunidades, diversos empreen-dedores locais davam início a grandes riquezas.
Fazenda que pertenceu a Francisco Palma e
a Erasmo Cabral - Fazenda do Paredão
A Crise de 1929

Na década de 1920, a região sudeste produzia 60% do café consumido no mundo. Da Serra do Paredão, Erasmo Cabral movimentava uma incrível fortuna e multiplicava vertiginosamente seus bens. Em 1927, sua fortuna era tamanha que o empreendedor chegou a construir uma escola e um posto de gasolina nos limites de sua propriedade. De seu armazém, construído nas redondezas da Estação Afonso Penna, partiam centenas de sacas que depois eram exportadas pela Firma Leon Israel Agrícola.

Com a chegada da crise de 1929 - da noite para o dia - milhares de cafeicultores tiveram suas fortunas  completamente dizimadas. Como Erasmo Cabral comprava a produção da cidade inteira e revendia no Porto de Santos, sua falência influenciou diretamente grande parte dos produtores locais.

No auge do pânico e com um profundo senso de responsabilidade, ao perceber que outros produtores seriam prejudicados pela queda nos preços do café - Erasmo procurou o Banco do Brasil para apresentar a descrição de todos os seus bens: a Fazenda do Paredão, a Fazenda Aliança, todo o gado, uma fábrica de manteiga, uma máquina de café, implementos agrícolas, um armazém de café, uma residência na praça Santa Rita e uma mansão que, ao final da construção, seria a moradia final da família Cabral.
Fazenda que pertenceu a Manoel Joaquim Pereira.
Após a crise

Após a crise que varreu a fortuna de milhares de fazendeiros Brasil afora, os cafeicultores santarritenses encontraram grandes dificuldades, mas o tempo cuidou de reparar as perdas. Com o passar dos anos, surgiram novos produtores, a economia cafeeira se renovou e hoje a união dos produtores rurais, através de uma grande cooperativa, tornou-se fundamental para o sucesso de todos. Enquanto isso, o vale permanece rodeado pela bonita planta que adorna as montanhas do município e empresta a Santa Rita do Sapucaí uma paisagem especial que só Minas Gerais tem para oferecer.

Este texto foi produzido através dos depoimentos do Produtor Rural e Historiador Procópio Junqueira, que tem garimpado as riquezas de nossa história local com a mesma dedicação com que produz um dos melhores cafés do Brasil.

Nota:
Procópio Junqueira faz uma agradecimento especial aos seus amigos e companheiros de pesquisa histórica, Neco Torquato Vilela e Adirson Ribeiro. Juntos, esse trio de estudiosos de nosso passado histórico, tem revisto a trajetória de Santa Rita do Sapucaí e produzido um trabalho de inestimável valor cultural.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Veja o que a galera achou da estreia do Brilhante F.C.

 
Segunda-feira passada, 23 de maio, as meninas da série Brilhante Futebol Clube finalmente entraram em campo e estrearam na TV Brasil. Antes mesmo do programa começar, diversos veículos de comunicação noticiaram a nova série produzida pela Mixer como a Folha de São Paulo e o Estadão.

No dia da estreia, a cidade de Santa Rita do Sapucaí, que serviu de locação para a série, estava em festa com a comemoração dos 119 anos da padroeira da cidade. A praça estava cheia. Além de uma missa de celebração, o programa Brasil das Gerais, da Rede Minas gravou um especial sobre a cidade. O idealizador da série, Kiko Ribeiro e a protagonista Priscila Lima (Rita) estiveram no local para curtir o evento e serem entrevistados ao vivo pela apresentadora Roberta Zampetti.
A "santarritense" Ediana Maskaro e banda.
"Voltar para Santa Rita no dia da estreia da série Brilhante Futebol Clube foi emocionante. O povo mineiro é bom em receber e segunda-feira foi dia de gala. O Brasil das Gerais entrevistou cidadãos de Santa Rita do Sapucaí que participaram dos episódios. Tivemos mais uma surpresa durante o programa, Ediana Maskaro, estrela musical da região e seu parceiro Dario Maskaro fizeram uma música inédita em homenagem ao Brilhante Futebol Clube e tocaram ao vivo no programa (assista aqui). Depois da gravação matamos a saudade da cidade." afirmou Kiko Ribeiro que também é um dos diretores da série produzida pela Mixer, assim como Luís Pinheiro e Zaracla. 
Cena do Seriado que retrata Santa Rita do Sapucaí.
Enquanto tudo isso acontecia, o debate sobre a estréia da série Brilhante F.C. rolou solto na rede. Olha só algumas opiniões do Twitter:

@Minas do Futebol: Valeu a pena esperar! #BrilhanteFC@Lu_dCastro Adorei! #BrilhanteFC
@SoaresSir Curtindo: #brilhantefC Até que é legal, difícil ver bons programas em Tv's submersas.
@AndressinhaCCs: Noossa estréia do @BrilhanteFC foi Mara... Toda segunda na TV BRasil as 19h
@Fabiio_Tvr:  penaa que jaa acabou, mas adorei o primeiro episódio doo #BrilhanteFC
@grazisoouza: #brilhantefc tava dahora , pq nao passar todos os dias né? :/
@andrea_treadle: Mas é bem feita, justifica assistir mais episódios. Ideal no entanto seria estar facilmente disponível na internet. #BrilhanteFC

Teve até gente que tirou foto enquanto assistia! O @Fabiio_Tvr fez questão de enviar sua imagem na frente da TV e seu comentário: "Gostei muito desse primeiro episódio do seriado, é interessante por tratar de futebol feminino - que não é muito comum e ao mesmo tempo pode incentivar meninas que gostam desse esporte. É diferente dos seriados que tem por ai. É brasileiro, é nosso, é uma coisa de qualidade e bom gosto. Despertou meu interesse pros próximos episódios”.
Aliás, o preconceito em relação ao futebol feminino foi um dos principais temas de debate no Twitter durante a exibição do primeiro episódio. O @minasdofutebol disse que: ja no começo da serie #brilhantefc demostrou o preconceito, as dúvidas e até a falta de estrutura do futebol feminino. E a @Jessicafutsal concordou: #brilhantefc revela fatos sobre preconceito com meninas no futebol. Já a @Nat_Brandao se sentiu representada. A guria do @brilhanteFC toda ralada lembrou a época q eu jogava e voltava pra casa destruida.

No Orkut a galera também curtiu bastante. O internauta roberio  D disse que: "eu assisti hoje super dahora" e o • Will ▪ I ▪ aM afirmou que a série Brilhante Futebol Clube é "Um grande motivo pra você ficar feliz numa segunda-feira. Eu já to ansioso pro próximo capítulo!"

Para você participar das nossas discussões e acompanhar ao vivo durante o programa nos siga no Twitter: @brilhantefc e participe também da comunidade no Orkut do Brilhante F.C.

Dr. Joaquim, o vinho e o leilão

Era um leilão de prendas. A barraca toda enfeitada de cartuchos brancos, repicados e dependurados em volta, davam a ideia de pequenos guarda-chuvas prestes a se abrir. Luzes, muitas luzes destacavam a parte central, onde depositaram toda a sorte de prendas: assados, frangos, leitoa, pães recheados, objetos, tudo enfeitado com laçarotes.

Quando terminou a novena, o vigário anunciou o leilão. Aos poucos, o pessoal se reuniu em tornou do coreto. Alguns já sabiam, de antemão, aquilo que queriam levar para casa; um cartucho, um frango ou um pão-de-ló.

Dr. Joaquim foi chegando, enquanto conversava animadamente com seu compadre sobre os vários problemas da cidade e sobre os desgovernos do país. Sua prosa só foi interrompida quando percebeu que o leiloeiro oferecia uma garrafa de seu vinho francês favorito. Ele  surpreendeu-se com aquela peça tão difícil de encontrar, própria para paladares altamente apurados.

Como seu estoque da bebida estava quase no fim, resolveu dar lances e disputar a prenda. Ao seu redor, ninguém se importava. Joaquim estava sozinho no páreo e ficou muito contente quando o leiloeiro bateu o martelo.

O homem voltou para casa satisfeito. Imagine só, arrematar uma garrafa do vinho preferido por uma bagatela daquelas. Quando mostrou o “troféu” à esposa, ela pegou a garrafa já sabendo que encontraria sua letra no fundo. O vinho haveria de voltar para o lugar de onde estivera há dias.

Brilhante Futebol Clube - Hoje, às 19 horas.

(Enviado pelo amigo Edésio Magalhães)

domingo, 22 de maio de 2011

Teaser do primeiro episódio de Brilhante Futebol Clube

Estreia 23 de maio o primeiro episódio da série ambientada em Santa Rita do Sapucaí, Brilhante Futebol Clube.


Veja o teaser, abaixo:

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Nossas Bandas de Coreto

 A banda

Outro dia, estava caminhando na praça de manhã com meu filho quando nos deparamos, perto da nova fonte construída em frente ao cinema, com a querida “Lira Santa Rita”. Por entre as árvores que contornam um pequeno espaço circular, diversos músicos preparavam-se para mais um espetáculo dominical. Crianças brincavam displicentes, adultos já ocupavam seus lugares nos bancos e algumas pessoas envolviam aquele grupo musical formado por pessoas comuns que a gente está acostumado a ver todos os dias pela cidade. Aqueles homens que, de segunda a sexta, desempenham profissões comuns, no domingo, encantam a todos com a tradicional Lira.

Quando a banda começou a tocar, meu filho logo parou para ouvir, admirado com algo que, até então, ainda não tinha presenciado. Já eu, viajei longe naquela melodia que me levou a uma época distante, há mais de 20 anos. Tempo em que meu avô, Antônio Lemos Carneiro, também fazia parte do grupo e me carregava, toda segunda-feira, para os seus ensaios. Naquela época, os músicos reuniam-se no porão da Câmara Municipal. Parece que até hoje os ensaios acontecem no mesmo local. Com oito ou nove anos naquela época, enquanto os músicos faziam seus ensaios, eu simplesmente atrapalhava. Pegava um bombardino e ficava soprando a esmo, tentando acompanhar, pelo menos, o ritmo. Meu avô, que tocava tuba, o instrumento que gera o som grave e que faz mais sucesso entre a molecada, só olhava pra mim e procurava não rir para não perder a concentração.

O tempo passou, meu avô faleceu, recebeu homenagens durante as alvoradas que aconteciam durante as solenidades da festa de Santa Rita e a Lira se renovou. Daquela formação antiga me parece que já não há mais ninguém. Em compensação, os novos músicos, ainda hoje, continu-am fazendo bonito nas manhãs de domingo e nas festividades em que são solicitados para preencherem o ar de sons e aplausos. Em uma época em que as pessoas não têm tempo pra quase nada, fico contente em saber que esses senhores ainda procuram encontrar lugar para cultivar a arte em suas vidas. Arte que exige muito treino, muito empenho e também o dom para tornar o cotidiano um pouco mais leve. Vida longa à lira!
A guerra das bandas em Santa Rita do Sapucaí
(por Ideal Vieira)

Se fôssemos fazer um estudo minucioso de nossas bandas de música, com todo o seu anedotário, daria até um livro.

A verdade é que a nossa primeira banda chamava-se “Charanga” e nasceu por política. E por política, também foi criada a segunda, que ganhou o nome de “Mulambo”.

Quando surgiam as passeatas na cidade, saía a Charanga a tocar pelas ruas de nossas cidade e, como revide, a Mulambo já estava preparada para sobrepujar a adversária, tal como acontece hoje com nossos blocos carnavalescos.

Divertia-se o santa-ritense com isso. Rara era a passeata em que não se via o música de uma banda tocando na outra e, assim, a briga dos partidos continuava no mesmo afã.

O senhor Manoel Luz, foi o primeiro maestro da nossa cidade e pertencia a uma dessas bandas. Com o tempo foram aparecendo novos valores e novos maestros, saídos de nosso meio, amantes de música e que deixaram seus nomes gravados nas pautas de muitas melodias que ouvimos até hoje por aí.

A história foi prosseguindo, se desenrolando por política e por ciúmes, não deixando de caber um pouco de vaidade, até que a revolução de 1930, colocou as lutas políticas em água morna.

A vida continou, com música e política, dando um toque diferente às nossas noites de domingo e dias de festa, com a querida tocata no jardim da praça.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Empório de Notícias - Edição 43 - 18 de Maio, nas bancas!

Nesta Edição do Empório de Notícias:

A vida do amigo Sebastião Felipe (Pica)
A História da Lendária Banda Luxúria
A chegada do primeiro Telefone em Santa Rita
Menino Ivon e o Zé da Venda
Equoterapia - um projeto que une contato com animais e solidariedade
O encontro de Godofredo Rangel e Menotti Del Picchia
As notícias mais sobrenaturais da história da cidade
Um campeonato de enfeite de janelas?
Doutor Eduardo fala dos seus tempos de faculdade.
Conheça Al Bowlly - um ícone dos anos 30
Dia 23 de maio estreia seriado ambientado em Santa Rita do Sapucaí
Veja como foi o movimento da Barraca da Associação do Câncer no fim de semana
Saiba tudo sobre o Workshop Internacional acontecido em Santa Rita
Leishmaniose canina - a doença chegou em Santa Rita
Nídia Telles e seu primeiro vestido de festas
Tudo isso e muito mais! A partir de 18 de maio, nas bancas!

Quando chega o mês de maio...

 Viiiiiva Santa Riiiiita!

O mês de maio é, talvez, a época mais esperada pela maioria dos santarritenses. Há quem diga até que os dias começam a ficar mais lentos quando se aproxima a primeira quinzena e as semanas custam a passar. Apesar do frio intenso, inimigo “número 1” de nossos conterrâneos, quando a festa da padroeira acontece, parece que todo mundo esquece as baixas temperaturas e corre logo pra rua. É incrível. Pessoas que nunca vimos na vida, saem dos bairros mais distantes e ocupam, todos ao mesmo tempo, o pequeno espaço destinado às barracas, shows, procissões, missas, coroações e festividades.

Há também aqueles velhos amigos... sim... aqueles que não vemos há muitos anos e que deixaram a cidade em busca de sonhos e conquistas. Voltam todos na festa de Santa Rita. Uma combinação sub-entendida que nos proporciona grandes alegrias. Tem até uma missa para eles durante a festa. A missa do santa-ritense ausente.
O Shopping Center Santarritense

Existem aqueles que preferem o concorrido Shopping Center, formado por centenas de barracas que não temos a menor noção de onde vêm. Pra dizer a verdade, nem eles sabem. No ano passado, estava conversando com um vendedor de canecas com adesivos de times de futebol (fiquei uma hora ao lado dele e não vendeu nenhuma) e ele me perguntou em que cidade estava. Quando eu respondi, ele retrucou: “Isso é Minas ou São Paulo”? Vindo da Bahia com uma lotação que percorria diversas cidades, o rapaz, de mais ou menos 30 anos, nem sabia em que estado estava! Outra atração muito esperada é o parque de diversões. Disneylândia portátil, sempre instalada perto do Country Clube. Só quem tem filho pequeno pra saber quanto dinheiro é queimado, em questão de segundos, naqueles brinquedos que a criançada adora. Difícil é tirá-los de lá quando a bufunfa acaba.

Dejavu

Também não podemos deixar de lembrar do tradicional marco da festa de Santa Rita - pelo menos da face pagã das festividades. Aquele velho conhecido pernil assado. Sempre recheado com iguarias das mais diversas procedências. Sim! Aquele mesmo que nós vimos no ano passado! O gosto eu não sei, mas o cheiro é delicioso! Um convite ao banquete farto, regado a muito sal de frutas.
 A dona da festa

Já nas festividades religiosas, uma coisa que me chama a atenção é a quantidade de pessoas que participam das missas. Eu fico admirado de ver quanta gente sai da igreja Matriz quando a cerimônia termina. A procissão então, é um espetáculo à parte. A capela de Santa Rita é outro recanto muito procurado por aqueles que buscam a espiritualização. É bonito ver os romeiros chegando a cavalo no dia 22 para visitarem, com grande devoção, a terra da santa do impossíveis (Apesar de achar que, nesse caso, quem paga a promessa são os cavalos).

Festa de Santa Rita é isso. Um acontecimento único para todos que vivem por aqui e que começa a dar saudade logo depois que acaba. Como todo evento de grande porte, tem seus pontos favoráreis e também seus transtornos. O negócio é aproveitar a ocasião para nos confraternizarmos, nos divertirmos e nos espiritualizarmos, sem nunca nos esquecermos de que, depois do dia 22, ou 24, a vida continua.

Take Five Propaganda e Empório de Notícias em novo endereço

A história de Petite e Betão

 Petite

Na década de 70, morava em Santa Rita do Sapucaí um jovem que, por sua baixa estatura, era conhecido pelos amigos e familiares de Petite (petit em francês é pequeno). O garoto, filho de um conhecido carteiro chamado Vitor Grilo, morava na rua Francisco Palma e era amigo da cidade inteira. As pessoas que o conheceram, até hoje, recordam que ele estava sempre viajando às cidades vizinhas para aproveitar alguma festa.

A brincadeira

No início de março de 1967, Petite estava tomando uma cerveja na casa de seus amigos, Carlos Alberto Campos do Amaral e Júlio Gabriel, quando percebeu que nos fundos do grande casarão onde hoje está localizado o “Restaurante Na Lenha” havia sido guardado um luxuoso caixão. Quando a turma de amigos viu aquela grande urna, trataram de colocar Petite dentro. O garoto, ao se deitar, cruzou as mãos fingindo estar morto, fechou os olhos e falou: “Que maravilha de caixão! Quando eu morrer quero ser enterrado nele!” Na verdade aquela urna estava guardada nos fundos da residência porque no dia 27 de fevereiro de 1967, duas semanas antes daquele encontro de amigos, o Doutor Oswaldo, pai de seus amigos, havia sido trazido de São Paulo, após ter travado uma dura luta contra uma enfizema pulmonar que o acometera. Como o desejo do estimado médico era ser sepultado em um caixão simples, do mais barato que houvesse, a urna cara o qual havia sido transportado da capital paulista foi substituída por seu filho Walter Luiz e acabou encostada nas dependências da tradicional residência.

A festa
Uma semana depois daquele encontro de amigos, Petite e seu amigo Betão ficaram sabendo que aconteceria uma comemoração na cidade vizinha de Brazópolis e decidiram viajar até lá para acompanharem as festividades. Na direção, Betão, com apenas 17 anos de idade. No banco de trás, Petite. Ao lado dos dois amigos, os companheiros Marcos Peão e Lelé. Como naquela noite estava chovendo muito, os amigos colocaram a cobertura de lona no Jipe e partiram em busca de aventuras.

Pouco antes de chegar no destino final, o grupo se deparou com quatro jovens pedindo carona à beira da estrada e decidiram parar. Apesar do carro já estar praticamente cheio, eles ficaram com dó ao ver aqueles rapazes tomando chuva na rodovia.

O Destino trágico

Pouco depois de reiniciarem a viagem, um evento trágico colocaria fim àquela noite que estava apenas começando. Quase na entrada de Brazópolis, o jipe girou na pista e encontrou uma carreta que vinha no sentido contrário. Como o impacto ocorreu do lado esquerdo do veículo, os quatro rapazes que estavam daquele lado morreram instantaneamente. Ao todo, foram 4 vítimas: dois santarritenses, e dois dos jovens que pediram carona.

Quando a notícia chegou à Santa Rita do Sapucaí, dezenas de amigos e familiares do rapazes se deslocaram ao local da tragédia, procurando tomar as providências necessárias que os corpos dos dois garotos fosse liberado no necrotério.

Ironia do destino

Ao chegar em Santa Rita do Sapucaí, o corpo de Petite foi depositado na luxuosa urna que havia experimentado há poucos dias. No sepultamento, os mesmos amigos que brincaram com ele na semana anterior carregaram menino em direção ao cemitério.

A despedida

O cortejo dos dois meninos aconteceu ao mesmo tempo. Petite à frente e Betão, logo atrás. Uma multidão acompanhou o cortejo sem entender muito bem como duas criaturas tão novas poderiam ir embora de uma maneira violenta. Chegava ao fim a trajetória de Petite e Betão, uma dupla que a cidade disse adeus, mas até hoje não conseguiu esquecer.

(Carlos Magno Romero Carneiro)

A lição de Geraldo “Ripiado”

Ainda nos meus irresponsáveis 10 anos de idade, recebi de um homem simples, humilde e sem preparo intelectual, umas das lições mais acertadas que haveria de servir-me de referência durante toda a vida.

Meu pai, que naquela época era comprador de cereais, deu-me uma nota de 500 mil Réis para eu trocar na cidade e fazer o pagamento de sessenta mil, correspondentes a duas sacas de feijão que nos foram vendidas. Ao passar pela Estação Afonso Pena, os funcionários da ferrovia estavam descarregando açucar de um dos vagões. Quando eu percebi que uma das sacas tinha partido, não pude resistir e me meti com os outros meninos a lembiscar um delicioso açucar amarelinho. Acabada a brincadeira foi que eu me dei conta de que havia perdido o dinheiro! Geraldo “Ripiado”, já falecido, foi quem encontrou no chão e me entregou. Não antes de obrigar-me a fazer por  duas vezes o percurso da Estação à rua Nova, em marcha acelerada, atrás de um suposto cavaleiro que estaria carregando o dinheiro.

A lição foi duramente assimilada e, ainda hoje, quando estou diante de uma tarefa difícil, ainda sinto o amargor daquele açucar, ligado à memória de Geraldo “Ripiado”. Um homem simples, bom e honesto que trabalhou por muitos anos como funcionários da Estação.

(Silva Filho)

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Série: As melhores campanhas produzidas pela Take Five Propaganda

Casa Miranda cria portal para venda de equipamentos eletrônicos

Conheça o Portal criado pela "Casa Miranda", um dos mais tradicionais estabelecimentos da cidade, para venda de componentes e equipamentos eletrônicos. As negociações acontecem pelo Pag Seguro e podem ser feitas por boleto ou cartão de crédito. Existe também possibilidade de parcelamento. Clique aqui e conheçca a nova loja virtual da cidade. LINK

Conheça o Museu ETE FMC

terça-feira, 3 de maio de 2011

Série: A melhores campanhas produzidas pela Take Five Propaganda

Lendas do Folclore Político - Por Sebastião Nery

No governo de Delfim Moreira, o braço direito do presidente era o ministro Afrânio de Melo Franco. Dizem que, certa feita, Delfim mandou chamá-lo para uma conversa e iniciou o seguinte diálogo:

- Compadre Afrânio, preciso demitir o prefeito do Rio.
- Demitir por quê?
- Tenho horror a ele.
- O senhor não deveria demitir assim sem mais nem menos. Ficaria agressivo demais. Convoque uma reunião do ministério. Como prefeito, ele comparecerá também. Nós todos pediremos demissão e o senhor aceita a dele.

Na reunião, Delfim estava indócil. Não olhava para mais ninguém. Fixou os olhos no prefeito e não bateu pestana, duro lá na cabeceira da mesa. Os ministros iam se levantando. Um a um, diziam algumas palavras, pediam demissão e sentavam-se novamente. Quando o prefeito do Rio se levantou e disse: “Senhor presidente...”, Delfim Moreira deu um salto na cadeira e gritou com o dedo estirado:
 
- Aceito! Aceito! Aceito!

O primeiro voo de Hermes Moreira

Hermes prepara-se para pilotar Caça da Força Aérea Brasileira.
 O senhor tem origem humilde?

Papai era ferroviário. Entrou na Rede Mineira de Viação aos 16 anos e mais tarde foi transferido para Santa Rita. Quando viemos de Borda da Mata eu tinha 4 anos. Frequentei pela primeira vez a escola aos 6 anos. No último ano do primário, a minha mãe me matriculou na Escola Santa Terezinha, que ficava onde hoje é o Edifício Mendonça. Essa escola era particular e até o terceiro ano minha mãe pagava. Na ocasião, eu não sei como ela conseguiu que Sinhá Moreira custeasse meus estudos. Dali pra frente, comecei a estudar por conta dela. Depois do quinto ano do primário, continuei até a quarta série do ginásio, na Escola Normal, e trabalhei com o senhor Vladas. Eu tinha 14 anos e tomava conta do bar que ficava em um porão em frente ao cinema. Saía da escola e servia algumas figuras como Clarivaldo, Zé Pipoca e outros frequentadores que ficavam lá até as duas da madrugada. No outro dia, às sete horas da manhã, estava eu na escola. Ainda assim, era sempre o primeiro ou o segundo da turma.
Hermes e sua esposa em visita do Papa João Paulo II ao Brasil.
Quando o senhor tomou contato com a aviação?

Certa vez, em outubro de 1953, o Chico Moreira fez um campo de aviação nas terras do pai do Zizinho. Ele comprou com o dinheiro dele o terreno e pediu ao Chiquito Garcia que criasse uma pista de 1300 metros. Quando terminou o serviço, disse que só entregaria a pista de pouso se o Ministro da Aeronáutica viesse inaugurar. Para isso, pediu ao genro, o deputado Bilac Pinto – da UDN – que fizesse o convite. O deputado foi ao ministério e conversou com o chefe de gabinete sobre a possibilidade de Nero Moura vir para Santa Rita. Muito tempo depois, esse ministro teve uma ligação muito forte comigo e até passou alguns dias na minha casa, três meses antes de falecer. Bilac Pinto esperou uma semana, dez dias, duas semanas, e resolveu ligar novamente ao gabinete. Ele soube que teria a resposta em dois dias, pois o ministro teria uma reunião muito importante com o presidente antes disso. Em conversa com Getúlio Vargas, Nero Moura comentou sobre uma cidadezinha no Sul de Minas chamada Santa Rita que havia feito um campinho e que pedia a presença dele. O presidente então falou: “Ô Nero, em Santa Rita tem um deputado chamado Bilac Pinto. Vá em homenagem a ele!” E Nero respondeu: “Mas ele é da UDN!” (Partido de oposição). E Vargas disse: “Sim, mas é o deputado mais sério que existe dentro do partido. Esse é um inimigo que eu respeito!”
No dia 12 de outubro, ele pousou em um avião Douglas C47 e vieram mais dois aviões T6. Chegou às 10 horas aqui com as escolas todas na rua, tremulando bandeirinhas. O ministro almoçou na casa da Sinhá e, às duas horas da tarde, voltou para o Rio. Ele deixou dois chefes de gabinete para assinar a documentação de recebimento do campo de aviação e sua transferência para a prefeitura. Quando deram seis e meia da tarde, a Dona Maria José me chamou e pediu para que reunisse meus colegas para conversar com a Sinhá. Às sete horas, chegamos lá e fomos apresentados como estudantes da cidade. Veja só como são as coisas... Sinhá Moreira apresentou aqueles capitães vindos com o ministro que contaram a ela que a aeronáutica havia aberto uma escola que preparava alunos para a Academia da Força Aérea. A escolha era feita por concurso e as provas seriam em São Paulo. O capitão então perguntou se nós gostaríamos de fazer a prova e nós dissemos que sim.
Inauguração do Campo de Aviação pelo Ministro Nero Moura.
Como foi a viagem?

Alguns dias depois, Sinhá Moreira nos falou: “O exame será no dia 5 de janeiro e já está tudo acertado. Já comprei as passagens para vocês irem às sete da manhã.” Fomos de jardineira, debaixo de um temporal, passando por Cachoeirinha e Ouros para chegar às cinco horas da tarde em Paraisópolis. De lá, embarcamos em um ônibus que nos levaria até São José dos Campos. Dez horas da noite pegamos outra baldeação e só foi chegar ao seu destino por volta da meia noite. Quando botamos os pés em São Paulo, havia um senhor, com dois carros pretos, esperando a gente. Ele tinha uma lista com os nomes de cada um de nós e foi chamando um a um. O homem era ninguém menos que Walter de Carvalho, o gerente do Banco Nacional na capital paulista. Dona Sinhá tinha pedido e ele que nos recebesse.

Como foram as provas?

As provas eram enormes. Tivemos exames a semana inteira, alojados na Base Aérea. Português, ciências, história, geografia, inglês e Francês. Eram 1800 alunos para 120 vagas. Ao terminar a seleção, nós debandamos para Santa Rita e ficamos esperando o resultado. Passou o mês de janeiro todo e nada. No dia 5 de fevereiro, o papai estava na estação daqui de Santa Rita quando o Lima, que era o chefe dos Correios, disse: “Alcides, você viu o jornal? Parabéns, heim! O Hermes passou!” Eu deveria ter me apresentado no dia dois de janeiro e fui correndo falar para a Dona Sinhá. Ela perguntou como é que eu não tinha visto e eu contei que o telegrama devia ter se extraviado.
As filhas de Hermes brincam com o Presidente João Figueiredo.
Os exames continuaram?

Sim. Quando cheguei a São Paulo, fui fazer um exame de saúde na Policlínica da Aeronáutica e um dos médicos disse que eu deveria fazer uma operação de amígdala. Eu disse a ele que se me operassem eu toparia. Eu fui para um hospital no Campo de Marte, onde o cirurgião era o próprio médico que havia me examinado. Naquela época, eles colocavam um laço de aço na amígdala e cortavam. Eu passei 10 dias no hospital. A comida era pão, água e leite. Perdi 10 quilos e saí de lá um caco.

Depois disso, teríamos que fazer um exame psicotécnico no Rio. Estava lá, operado, sem um tostão no bolso e fiquei desesperado quando soube que teria que viajar sem dinheiro. Decidi então ir ao Banco Nacional e falar com o doutor Walter. Quando cheguei, vi que era um banco monstruoso. Ao me dirigir ao balcão de atendimento pedi para falar com ele:

- Eu queria falar com o gerente.
- Quê?
- O gerente não é o Doutor Walter? Eu queria falar com ele...
- Você é de onde?
- Sou da terra dele. Ele me esperou na rodoviária outro dia para fazer o exame da aeronática.

Quando eu falei que fiz prova na aeronáutica, um homem sentado em um banco, ao lado do guichê, perguntou: “Você está indo estudar em Barbacena? Eu sou sargento da aeronáutica! Eu sirvo aqui no quartel na Zona F.” E eu disse: “Eu to hospedado lá! Comendo o pão que o diabo amassou!” Ele riu e falou: “É assim mesmo... Para quem está começando é desse jeito. E você está querendo falar com o gerente? Saiba que estou esperando há 3 horas para falar com ele e nada! Ninguém fala com ele fácil não!” Nesse momento, eu pedi à atendente para dizer que era o Hermes Moreira. Sabe o que aconteceu? Quando ela contou que eu estava lá, uma porta enorme de carvalho se abriu, o Walter saiu e gritou: “Vem cá menino!” O sargento olhou pra mim com uma cara assustadíssima. Daí eu disse que precisava ir ao Rio de Janeiro fazer exame psicotécnico e que não tinha nenhum dinheiro. Ele me perguntou quanto eu precisava e eu falei que queria um dinheiro para ficar no bolso, uns cinquenta mil Réis. Sabe quanto ele meu? Quinhentos mil Réis! Era dinheiro a dar com o pau! Valeria uns cinco mil Reais hoje. Eu perguntei como faria para pagar e ele me disse para deixar com ele. Nunca mais vi aquela conta.
Hermes (Primeiro à esquerda) em recepção à Miss Universo.
Eu fui para o Rio de Janeiro, fiz o psicotécnico e depois viajei para Barbacena, onde estudaria. Papai só me viu em maio, quando foi a Belo Horizonte e passou para me visitar. Estudei o primeiro e o segundo ano do segundo grau em Barbacena. No terceiro, já nos transferiram para a escola de aeronáutica, no Rio de Janeiro. Nessa época eu saí como aspirante e iniciei o curso na escola de aeronáutica ali mesmo. De lá, fui para Fortaleza e voei nos primeiros caças que haviam no mundo. Éramos nove pilotos de caça e, ao terminar o curso em Fortaleza, voltei para o Rio como instrutor. Nessa época, eu me encontrava muito com a Sinhá Moreira que estava no Rio de Janeiro para fazer um tratamento de câncer. Uma noite, liguei para a casa da Dona Carminha e pedi para visitar a irmã. Eu saí da casa de um colega meu e levei uma amiga – noiva dele. Fomos ao encontro de Sinhá Moreira. Dona Carminha morava em uma casa na Vieira Souto. Hoje, no local, está construído um prédio e diversos santarritenses têm apartamento lá. Quando chegamos, Bilac não se encontrava. Estavam apenas Carminha e Sinhá. A sala era uma penumbra. Ao começarmos a conversar eu disse que estava indo embora e que estava muito alegre e ela quis saber das minhas peripécias. Conversamos das oito às onze da noite. Na despedida, quando nos levou até o portão, Sinhá olhou para a minha amiga e perguntou: “É noiva?” Eu disse que não e ela respondeu: “Você tem que se casar com uma moça de Santa Rita, viu?”. Três meses depois, Sinhá faleceu.

Um pouco da carreira de Hermes Moreira, nos anos que se seguiram:

Em 65, Hermes foi para Pirassununga, onde trabalhou como chefe de manutenção e instrutor. Casou-se no mesmo ano com Regina, em Santa Rita – com quem teve três filhas. No dia da cerimônia, diz a lenda que um piloto que veio assistir ao casamento, teria passado com um avião por baixo da ponte velha. Em 1976, Hermes fez o curso de Estado Maior no Rio. Em 1978, tornou-se diretor de ensino na Base Aérea de São Paulo. Em 1979, passou a comandar a Base Aérea de BH e, três anos mais tarde, foi nomeado subcomandante da Base de Natal. Em 1984, fez o curso de política estratégica aeroespacial na Escola do Estado Maior e, no ano seguinte, tornou-se vice-chefe da aeronáutica no gabinete presidencial. Com a morte do presidente Tancredo Neves, viajou com José Sarney por dois anos até ser designado Adido da Aeronáutica em Paris, onde morou até 1989. No retorno ao Brasil, se tornou Vice Chefe da Secretaria de Inteligência da Aeronáutica e Chefe do Centro de Comunicação Social. Em 1990, o presidente da República o nomeou Brigadeiro. Dois anos depois,  foi subchefe do Enfa, hoje Ministério da Defesa. De 92 a 93, com a patente de Major Brigadeiro, foi comandante do 5º Comando Aéreo Regional, em Porto Alegre. Em 1996, mudou-se para Brasília onde ocupou o cargo de subchefe de ensino aéreo. Após 46 anos de FAB, ocupando alguns dos mais altos postos da carreira militar, em 1997, Hermes entrou para a reserva e voltou para a Santa Rita do Sapucaí, onde vive até os dias de hoje.