segunda-feira, 20 de junho de 2011

Grandes recordações do amigo Benedito “Zeferino”

 
Como era a rua do Bepe quando o senhor se mudou para a cidade?

Na rua Genoveva da Fonseca existia uma olaria que pertenceu o senhor Bepe Murano. Ele fabricava tijolos. Quando eu comprei este terreno aqui (Benedito mora naquela rua) precisei colocar 400 caminhões de terra no local e cobrir o buraco feito para a retirada do barro. Aqui não tinha rua, só uma porteira na esquina lá de cima (Rua Antônio Teles).

Na rua da pedra havia muitas casas?

Não tinha nada na Rua da Pedra. Nas redondezas da Rádio Difusora, bem na esquina, havia o comércio do senhor Brandão que nós chamávamos de “Secos e Molhados”. De lá até a pracinha, devia ter, no máximo, umas 15 casas. Em frente ao atual açougue do Celsão havia um ponto de pouso de boiadeiros, de propriedade do senhor João Pelonha. Naquele tempo, era preciso dormir no meio de caminho ou então nesses pontos de pouso para tropeiros. Eu já che-guei a dormir 15 dias em uma ponte em Guaratinguetá, junto com o gado.

Como era o seu trabalho?

Nós comprávamos gado de fazendeiros da cidade e íamos vender para os frigoríficos. Como não havia caminhão, íamos tocando a boiada. A gente passava por muitas propriedades até chegar ao destino e, de vez em quando, era preciso contar o gado para ver se não havia “ficado boi na ribada” (perdido pelo caminho).

Acontecia muito estouro de boiada?

Já ouvi muitos casos de boiada passar por uma cidade e acabar estourando por causa do latido de um cachorro. O estrago era tão grande que chegava a derrubar uma casa. Comigo não aconteceu isso não, mas tivemos que cercar o gado muitas vezes para não invadir bares e propriedades.

Mais tarde, o senhor trabalhou com açougue?

Eu comprei o meu primeiro açougue no Antigo Mercadão (Praça da Katrin). Além do meu, havia mais 3 açougues. Por dentro, era tudo muito simples. Só tinha uma barrinha de azulejo na parede. As nossas máquinas eram todas manuais. Em torno do prédio, em uma espécie de varandinha, ficavam os vendedores de pastéis, peixes e outros produtos. Iam muitas pessoas ao mercado mas, naquele tempo, existiam também muitas vendas nas roças. Na descidinha da rua Nova, havia uma escadaria grande de cimento que dava acesso à pracinha da cadeia.

O senhor teve açougue em outros lugares também?


Sim. Eu também tive um açougue em frente ao antigo Bar do Didi. Fica no mesmo local onde o senhor Hercílio montou um salão de barbeiro, alguns anos depois. Um fato interessante é que, naquela época, quando a gente vendia uma peça de alcatra, não podia vir um pedaço de picanha no meio (a picanha é a capa da Alcatra) porque se não as pessoas não queriam levar. Como ninguém comia, eu era obrigado a vender carne moída de picanha. Hoje, a picanha custa mais caro do que a alcatra! (Risos)

Como foi a sua infância?

Na infância, eu morei na região do vintém, logo depois do Mato Sanico. Naquele tempo, a vida era muito sofrida para nós. Com 8 anos de idade, eu tinha que levantar às 3 horas da madrugada, esperar meu irmão tirar o leite, colocá-lo em garrafas e vir vender na Rua Nova, no bairro do Matadouro, na Rua do Queima... Custava um tostão a garrafa de leite. Quando terminava de vender, voltava pra casa, almoçava e vinha para o grupão estudar. Andava a pé e descalço. O primeiro calçado que eu usei na vida foi aos 16 anos de idade. Na minha sala de aula quase ninguém tinha sapato. Minhas professoras foram a Dona Mariquinha Marques, a Dona Mafalda e a Dona Odete, que era muito brava!

O senhor levava merenda de casa?

Na rua da Pedra tinha uma padaria e meu pai sempre me dava 200 Réis para comprar merenda. Uma vez eu entrei no estabelecimento e veio uma mulher para me atender. Eu pedi um bolachão e, quando fui entregar o dinheiro, ela disse que eu já tinha pago. Na verdade, tinha mesmo uma moeda em cima do balcão, mas não era minha. Ela insistiu que estava tudo certo, mas eu fiz questão de pagar. Quando cheguei em casa, o dono da padaria havia contado para o meu pai o acontecido e ele me falou: “Esse seu gesto foi o maior presente que você me deu na vida!”
A vida era muito dura no início?

Quando eu casei, fiz uma casinha de pau a pique, com chão de terra, que não tinha nem mobília. Trabalhei na enxada para muitos fazendeiros e ganhava “4 merréis” por dia. Era o mesmo preço de um quilo de toucinho. Então eu comecei a criar alguns animais para comer, outros para vender e ganhar um dinheirinho. Nessa época, levava cerca de 60 porcos daqui para Natércia. Ia tocando estrada afora e vendendo pelo caminho. Levava uns 2 dias para chegar lá. Era muito difícil, mas graças a Deus, deu tudo certo.

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