terça-feira, 19 de julho de 2011

Pegue o seu guarda-chuva que o circo chegou!

Lá vem chuva!

Santarritense que se preze sempre foi apaixonado por espetáculos circenses. Tão apaixonado, que basta um companhia armar sua grande lona colorida em um terreno baldio da cidade para alterar até mesmo a previsão meteorológica regional. Toda vez que um circo aparece por aqui, chegam também nuvens negras que logo se transformam em toró dos brabos. Para confirmar essa mística, reza a lenda que quando a Avenida Delfim Moreira ainda era de chão batido, choveu tanto durante a estada de um circo por aqui que um elefante atolou nas proximidades do Grande Armazém de Secos e Molhados e precisou ser retirado com a ajuda de um carro de boi. Hoje em dia, os circos não costumam utilizar animais selvagens. Vez ou outra, surgem alguns carros de som pela cidade anunciando a presença espetacular de animais domésticos adestrados como o “Cachorrinho do Curíntias” ou o “Cachorrinho do Parmeira”. Ainda assim, todo mundo se diverte com as atrações ou até mesmo com os improvisos dos artistas.
A crise dos circos

 Em um dos últimos espetáculos de um circo na cidade, uma frase durante a apresentação do Táxi Maluco (um Fiat 147) chamou a atenção: “Acenda as luzes, Maestro”! Nesse momento concluí que a crise estava forte. Se em um circo, onde o som era mecânico, o “maestro” estava encarregado de cuidar das luzes, imaginei que a coisa andava realmente preta para aqueles corajosos artistas itinerantes. A verdade é que depois que a televisão tornou-se peça fundamental nos lares dos brasileiros, os circos começaram a sofrer sérias dificuldades financeiras e raramente aparecem por aqui. Se no passado a população da cidade disputava lugares nos espetáculos, atualmente as pessoas só tem ido mesmo em duas situações: quando é criança ou quando tem filho pequeno.
Marreco e a mulher gorila

São lendários os desafios travados entre lutadoras profissionais com os valentões da cidade, em circos que nos visitavam. Até hoje as pessoas ainda contam histórias sobre a vitória do Zé Mecânico sobre “Olga Zumbano” ou lembram a coça que Dito Cutuba levou da lutadora conhecida internacionamente como “Broto Cubano”. Certa vez, no final da década de 80 eu presenciei um espetáculo muito interessante em um desses circos que vieram para cá. A atração principal era a terrível “Mulher King Kong” que havia desafiado qualquer homem da cidade para um duelo de luta-livre. Quando o momento mais esperado da noite chegou, a temida lutadora, com poucos golpes e pescoções já tinha liquidado o rival santarritense e começou a tirar sarro da platéia realizando enervantes cenas de “bunda-lelê” em cada um dos 4 cantos do recinto. A cada rebolada, a “King Kong” mexia também com os brios da torcida e alcançava com su-cesso o seu intento: atrair a atenção de algum valentão para desafiá-la no dia seguinte. O clímax foi atingido quando a moça pegou o microfone e perguntou se não tinha homem na cidade. Naquele momento eis que surgiu do meio da platéia, pulando o alambrado de forma desengonçada, o saudoso “Marreco”, que gritava enfurecidamente: “Tem eu”! A torcida foi à loucura! Chegava um salvador do orgulho local, para por fim à tirania daquela terrível carrasca. Tudo ia bem, até que Marreco chegou às cordas do ringue improvisado no centro do picadeiro. O caldo entornou... nosso herói enroscou a perna nas cordas e tomou um tombo homérico, se estatelando dentro da “praça de guerra”. Isso foi suficiente para que a lutadora pegassse a toalha que estava pendurada em seu ombro, enrolasse no pescoço do pobre Marreco e iniciasse uma sequência de golpes que nunca ninguém tinha visto até então nas redondezas. Durante intermináveis 5 minutos, a multidão via o pobre Marreco ser arremessado de um lado para outro do ringue, voando a mais de um metro de altura do solo. O infeliz representante da masculinidade local, que já tinha entrado no ringue meio de fogo, saiu de lá ainda mais alterado e com uma resposta que lhe causaria um grande arrependimento no dia seguinte. Ao ser pressionado pela torcida ele acabou dizendo SIM quando a lutadora propôs uma revanche! Quem esteve presente na “vingança” do santarritense disse que a “mulher gorila” ensinou a platéia a assar um “Marreco” com a-penas 5 golpes. O mais interessante dessa história é que existe registro em vídeo. O cinegrafista Luiz Carlos ainda guarda esse espetáculo em DVD para o deleite dos admiradores do saudoso santarritense, que faleceu alguns anos depois. Um vídeo para ficar para a história.
O desafio no trapézio

Por falar em Luiz Carlos, ele também foi atração principal em um espetáculo santarritense. Quando ouviu dizer que ganharia um grande prêmio o voluntário que conseguisse encarar com sucesso o show de trapézio, ele topou a parada e quando a notícia espalhou acabou lotando  o famoso circo Nhana. Quando chegou o momento do desafio, ele subiu as escadas, segurou o trapézio e se preparou para saltar, quando um dos artistas que estava ao seu lado o empurrou. Luiz Carlos despencou lá de cima, segurando o trapézio com apenas uma das mãos, deu umas duas balançadas e só não caiu para fora da cama elástica porque uma de suas pernas ficou presa nas extremidades da proteção. Esse vídeo ele jura que não existe. Vai saber... se fosse comigo eu também não mostraria.
(Carlos Magno Romero Carneiro)

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