quarta-feira, 17 de agosto de 2011

As raízes da família Kallás

Membros da grande família Kallás.
Em busca de paz

Imagine o seu país ocupado por tropas militares de uma nação vizinha e pouco simpática. Pense no sofrimento de uma perseguição religiosa levada a efeito pelos invasores. Calcule o constrangimento de ter de abandonar seu país, mudar-se de continente e, por fim, ser confundido com aqueles que oprimem e espoliam seu povo. Situações como essa parecem impensáveis aos brasileiros do século XXI. Não para os cristãos libaneses que aqui desembarcaram na primeira metade do século passado, deixando para trás a hostilidade dos turcos e muçulmanos.

As colônias libanesas

Santa Rita do Sapucaí acolheu várias famílias oriundas do Líbano: Abdalla, Andare, Andery, Baracat, Kallás, Murad, Nassar, Rezeck e Ruade. O clã dos Kallás é um dos mais presentes na história e nos lares da cidade. O primeiro re-presentante dessa família a pisar o território santarritense foi José Abrahão Kallás que, em 1909, trouxe consigo a esposa Zarife e muita esperança em seus alforjes. Nagib Elias, sobrinho de José Abrahão, chegou à cidade na mesma época. Nos anos que se seguiram, vieram três irmãos do pioneiro (Antônio, Elias e Júlia) com seus cônjuges e filhos.
Raízes de Cedro

O ramo da família Kallás que fixou-se em Santa Rita tem como berço a pequena vila de Fakiha, localizada no fértil Vale do Bekaa, leste do Líbano. No limiar do século XX, a pacata população local se reunia à noite em frente às casas para conversar, cantar e saborear damascos, uvas, nozes e figos. O lugarejo não ficou imune às atrocidades da Primeira Grande Guerra (1914-1918), durante a qual os soldados da Turquia saquearam e mataram centenas de libaneses. Com a derrota dos turcos, o Líbano passou a ser dominado pela França, que concedeu-lhe independência em 1944.
Família se reúne para receber Bispo Dom José Kallás - 1952
O interesse pelo Brasil

De acordo com o médico David Carvalho Kallás, o interesse dos habitantes de Fakiha pelo Brasil teve início em 1876, quando o imperador Pedro II visitou as ruínas de Baalbek, no Vale do Bekaa. A libanesa Salma Aoun Kallás, moradora de Santa Rita desde 1948, conta que o território brasileiro exercia grande atração sobre seus conterrâneos.

Alguns diziam que o ouro brotava do solo na aprazível nação tropical, mas foi preciso muito trabalho para alcançar a riqueza no Brasil. Comerciantes natos, os imigrantes libaneses demonstraram grande habilidade atrás dos balcões santarritenses.
Fakiha, berço da família Kallás.
Outono do Patriarca

O patriarca José Abrahão não demorou a conquistar espaço e respeito, fundando a Casa Kallás em 1913 na praça Santa Rita. Conta-se que a agência do antigo Banco Nacional em Itajubá foi aberta graças a um depósito do comerciante, no valor de 1.500 contos de réis, a pedido do ex-presidente Wenceslau Braz. Em 1917, Nagib Elias inaugurou seu estabelecimento comercial, na rua Silvestre Ferraz, logradouro que receberia muitas outras empresas criadas pela colônia libanesa. Instalaram-se na “rua da Ponte”, por exemplo, os grandes comerciantes Abrahão Elias e Felipe Elias. Outros, como Chafik e Toufik, optaram por fazer negócios na avenida Dr. Delfim Moreira.

Alguns imigrantes da família Kallás recomeçaram sua vida no Sul de Minas atuando como mascates. Foi o caso de José Calixto, cujo sobrenome é uma forma aportuguesada de Kallás. Natural de Baalbek, fugiu da casa dos pais aos 14 anos e escondeu-se no porão de um navio para reencontrar sua irmã Zarife em Santa Rita. Boa prosa e inteligente, fez seu pé-de-meia como vendedor ambulante e conseguiu montar um bar na praça Rui Barbosa, nas proximidades do antigo Clube Santarritense.
Dona Salma e filhos em frente às ruínas de Baalbek
José Calixto almejava levar a filha Maria Rita Calixto de Castro para conhecer Baalbek. Sua morte precoce, aos 44 anos, pôs fim ao sonho. Salma Kallás teve o privilégio de retornar à terra natal e reencontrar seus progenitores, em 1982. Porém, aquela não foi uma viagem tranquila: justamente durante a visita, Salma viu Fakiha sendo bombardeada por israelenses, numa ação militar que teve sete vítimas fatais. O conflito ceifou até mesmo a vida do então presidente libanês, Bashir Gemayel. No ano em que Salma fez sua segunda viagem ao Líbano (2005), foi a vez do primeiro-ministro Rafik Hariri ser assassinado. 

Fincando raízes

Longe dos combates intermináveis do Oriente Médio, a família Kallás encontrou, no Vale do Sapucaí, um solo fértil para a paz e muitas oportunidades, apesar da penosa adaptação ao clima tropical, à língua portuguesa e aos costumes brasileiros. Do clã não saíram apenas homens de negócio, mas também insignes magistrados, médicos e professores. “Os libaneses vieram pensando em voltar, mas gostaram tanto daqui que construíram casas, tiveram filhos e não voltaram mais”, relata Salma Aoun Kallás. “Sofremos muito, mas vencemos”, acrescenta Maria Rita Calixto de Castro.
(Jonas Costa)


Esta matéria é um oferecimento de: 

11 comentários:

  1. Gostei muito da matéria, meu avô é Calixto também(João Calixto da Cruz) e os traços dele são muito parecidos como os da família Kallas.Minha família(materna) é da região de Campanha(Sul de Minas) minha mãe e tios dizem que ele veio do Líbano, queria saber se há informações de outros membros da família em outras regiões de Minas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá Crente
      A família Kallas está presente em muitas cidades do Sul de Minas, com destaque em Santa Rita do Sapucaí, Passos e Itajubá.
      Já realizamos tres encontros da família em Passos, catalogando mais de 500 pessoas. No mundo inteiro identificamos cerca de 2000 parentes na Europa, EUA e outros países.
      A Mary da casa Joka, em Itajubá, mantinha a árvore genealogica com até 2.000 primos. Promoviam o encontro mas parecem que desistiram de manter.

      Ivan Kallas ivankallas@oi.com.br

      Excluir
  2. pera ai voce e kallas eu tambem e sou de parte materna ;devemos ter parentesco pois so existe 1 familia kallas

    ResponderExcluir
  3. sou kallas e nao sabia PROFUNDAMENTE isso

    ResponderExcluir
  4. Gostei muito sobre essas inofrmações, gostaria de saber mais, pois meu Avô também é Calixto, e provavelmente do Sul de minas, (Joaquim Calixto da Cruz), e os traços dele também saõ muito parecidos com essa familia, e ao Judeu crente, nosso sobrenome é muito parecido, podemos entrar em contato, por aqui!

    ResponderExcluir
  5. Vejam em meu perfil facebook um pouco da história da família.
    Vejam em meu http://cyberveio.blogspot.com.br/ mais um pouco.
    Ivan Kallas ivankallas@oi.com.br

    ResponderExcluir
  6. Meu avô veio do Líbano de 1929 , originalmente o nome dele era Jorge Bacus Andery, porém no Brasil foi registrado como Bacus Jorge Bacus... Alguém da região com sobrenome Andery ?

    ResponderExcluir
  7. A cidade de Passos-MG é um grande grande reduto da Família KALLAS. Poderíamos agitar um grande encontro familiar com muito kibe e afins.🤩😍

    ResponderExcluir
  8. Amei saber a história da família sabia um pouco pois qnd eu morava em Sta Rita minha vovó Salma
    q Deus a tenha em um bom lugar ja havia me contado.....Nossa familia e enorme......

    ResponderExcluir
  9. Meus bisavós também estavam em Santa Rita desde 1906.Alexandre Abdalla Nassar seu nome consta no Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro como negociante em Santa Rita. A partir de 1921 vieram meus avós Gabriel Alexandre Nassar e Cecília Anderi Nassar,com 2 filhos nascidos em El Kfour Líbano,Massoud e Latif Nassar, os demais 9 filhos são Santaritenses. Meus avós vieram para Itajubá em 1941.

    ResponderExcluir