segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O empreendedor José Ribeiro da Silva (José da Silva)

José Ribeiro da Silva nasceu no dia 4 de julho de 1900, em Cachoeira de Minas. Filho de Tonico e Dona Mariquinha, sua chegada a Santa Rita do Sapucaí aconteceu quando ele ainda era criança. Sua primeira profissão foi a de Alfaiate. A enorme tesoura que utilizava para cortar os tecidos ainda está guardada na residência onde passou a maior parte da sua vida. Aos 23 anos, José da Silva – como era conhecido – abriu o seu primeiro estabelecimento comercial em uma pequena sala de duas portas, localizada no pé do morro o qual, mais tarde, ficaria conhecido pelo seu nome.
A descoberta de um dom

Através da venda de bebidas, alimentos e utensílios domésticos, o jovem empreendedor não tardou a desconfiar que o comércio seria sua grande especialidade. José da Silva era um vendedor ímpar. Possuía uma habilidade impressionante para negociar e satisfazer seus clientes.  Em poucos anos, o modesto ponto comercial teria que ser subs-tituído por um estabelecimento bem mais amplo para que pudesse oferecer tudo aquilo que seus fregueses solicitavam.

As negociações da “Casa 1001 Artigos de José Ribeiro da Silva” eram feitas através do sistema de cadernetas. Os pagamentos eram realizados apenas uma vez por ano, quando os fazendeiros recebiam o dinheiro proveniente das vendas do café. O mais interessante é a confiança existente na negociação. As cadernetas ficavam sob a posse do freguês e não havia qualquer registro das transações por parte do vendedor. Como se já não bastasse o prazo para pagamento, ao quitar as dívidas o freguês ainda recebia uma grande lata de doces como agradecimento.
Amor para toda a vida

Na juventude,  José da Silva adorava frequentar o cinema.  Naquela  época, os filmes ainda eram mudos e o estabelecimento dispunha de uma orquestra para animar as sessões. Muito mais do que assistir aos filmes de Velho Oeste que enchiam o Cine Theatro Santa Rita, o que ele mais queria era admirar a linda violinista que tocava ao lado do pai e da irmã. A moça se chamava Dinorah e era filha do Violoncelista Joaquim Carneiro de Abreu. Um homem muito bravo que sempre batia a vara do instrumento  em sua cabeça quando algum rapaz a olhava da plateia. Alguns anos depois, o comerciante rea-lizou seu grande sonho: casar com Dinorah. Mal sabia ele que aquele amor duraria uma vida inteira.

Uma nova paixão

Em 1935, José da Silva foi arrebatado por uma nova paixão, também dividida com sua esposa. Surgia nesse ano o tradicional Bloco dos Democráticos, que teve o seu nome entre os fundadores. A primeira sede da agremiação – localizada no antigo prédio do Clube Santarritense (hoje demolido),  foi comprada por ele, em sociedade com mais dois foliões.
Aventuras sobre rodas

José da Silva adorava pilotar sua moto e fez muitas aventuras com seus amigos. Certa vez, ao chegar ao Rio de Janeiro, em duas rodas, com o companheiro Carmelo da Abreu, a dupla de motoqueiros estava tão suja que, por pouco, não foram presos pela Polícia Militar. Em outra ocasião, o comerciante viajava com seu amigo Antônio Lemos Carneiro, na garupa, e só se deu conta de que o passageiro havia caído pelo caminho, quando Antônio parou de responder suas perguntas. Seus familiares também não deixam de relembrar quando ele viajou para Pouso Alegre e, na volta, pegou um ônibus. Havia esquecido de que tinha ido de moto e teve que voltar para buscá-la.
Um combustível nas vendas

Com o passar dos anos, o comerciante construiu um grande estabelecimento comercial, no final da Rua Coronel Antônio Moreira da Costa. Sua residência, por sua vez, foi erigida em cima de seu armazém. Bem em frente, instalou uma bomba de gasolina, utilizada para abastecer os primeiros veículos que chegavam a Santa Rita do Sapucaí. O mais interessante de tais bombas, é que elas funcionavam à manivela. O ven-dedor precisava levar a gasolina para o alto da máquina para depois liberá-la dentro do tanque. Como não dispunha de um sistema para armazenamento, o combustível era depositado em diversos tonéis de madeira, dispostos ao lado do Grupo Escolar Delfim Moreira.

No início da década de 40, José da Silva inaugurou o seu primeiro posto de gasolina, localizado à rua Barão do Rio Branco (em frente à Tipografia Santa Rita). Mais tarde, construiu um novo posto na Avenida Si-nhá Moreira (ao lado da rodoviária). Desde então, qualquer habitante da cidade que comprasse um carro, seria seu freguês.
O reconhecimento

À medida que os seus negócios cresciam, José da Silva se tornava ainda mais popular. O reconhecimento de seus conterrâneos só pôde ser mesmo mensurado quando resolveu se candidatar  às eleições municipais. Em uma época em que os cargos do executivo eram divididos,  o comerciante foi candidato a vice e obteve mais votos do que o Prefeito eleito.

Homem de bem

Outro grande atributo do comerciante era a Caridade.  Crezilda, sua filha caçula, conta que ele perdoou dívidas da cidade inteira. Se o freguês estivesse em apuros, ele simplesmente não cobrava e passava a régua no assunto. Apesar de seus pais terem sido espíritas devotos e terem doado o lote para a construção do primeiro Centro da cidade, ele dizia que não podia se considerar membro da religião, pois tinha a consciência pesada por colocar margem de lucro sobre as suas vendas. Como Maçon, o comerciante foi membro da Loja Maçônica “Caridade Sul Mineira” até o final de sua vida e ocupou o cargo de Venerável Mestre por alguns anos.

Dentro de casa, José da Silva nunca falou um único palavrão.  Jamais falou alto com sua esposa e seus 3 filhos (Crezilda, Lydia e Hugo), que não se lembram de presenciar uma única briga entre os pais. Por outro lado, sua esposa tinha o sangue quente. Dinorah era muito brava. mas também era dona de um coração de ouro.

A despedida

No ano de 1984, José da Silva perdeu o grande amor de sua vida. Aos 86 anos, o comerciante parecia não suportar a perda de sua querida esposa. Vez ou outra, ele corria ao quarto, abria a porta do guarda-roupas,  pegava uma blusa de Dinorah e a cheirava. Quando chegou o carnaval, ao ver o Bloco dos Democráticos todo montado em frente à sua casa, ele não se conteve e balbuciou para si mesmo: “coitada...” Um ano e meio depois, a saudade foi tanta que seu coração não suportou. Falecia, em 1986, um dos habitantes mais queridos e interessantes que Santa Rita do Sapucaí havia conhecido. Na despedida, centenas de pessoas subiram ao “morro do José da Silva” para dar um último adeus. O adeus a um homem que mereceu o seu nome.    
     
Texto baseado nos depoimentos de Crezilda Carneiro Silva Prado, filha de José da silva.
(Carlos Romero Carneiro)

Um oferecimento:

Um comentário:

  1. Olá blogueiro,

    Por favor entre em contato pelo endereço ericampanha.esmc@gmail.com sobre quem detém o direito da fotografia dos pescadores no Rio Sapucaí.

    Obrigada e parabéns pela página.

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