terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Lembranças de Carnaval - Por Joice Carneiro Carneiro Brandão

 O título parece um clichê obrigatório vindo de quem tem pelo menos meio século de vida e muitas histórias para contar, e não de alguém com vinte e poucos anos. Mas, se esse alguém vive em uma cidade como Santa Rita, mais precisamente no morro do Zé da Silva, esta regra não se aplica.

Tenho a sorte de ter passado minha infância aqui, e a felicidade de estar sempre perto dos preparativos para o carnaval, mesmo não sendo fanática. Minhas lembranças carnavalescas começam nos anos 80 quando, ainda criança, queria desfilar nos Democráticos. Era a época em que o saradíssimo He-Man estava no auge de sua forma física e os Democráticos o adotaram como tema para o bloco infantil. Eu, fantasiada com um gorro rosa-choque (do Gorpo, lembram?), mais chorei do que desfilei. Tudo bem, exceto pelo He-Man que entrou em decadência, os outros carnavais foram melhores.

Como todos devem lembrar, Ride e Demo deram um tempo nos desfiles no começo da década de 90, mas o carnaval aqui nunca passou em branco. Quem não se lembra do “mini trio elétrico” que fazia a criançada ferver? Eu, claro, fervia junto desde os preparativos.

Não me lembro a data exata, mas de acordo com minhas lembranças fonográficas (Cara caramba cara caraô, e outros sucessos) foi entre 1992 e 1994. Nós, crianças, passávamos a tarde no barracão dos Democráticos ajudando a ornamentar o mini trio elétrico, seja pintando, colando espelhinhos ou jogando purpurina. Era um orgulho vê-lo no alto do morro mais tarde e apontar: “Aquilo ali fui eu quem colei!”. 

Quem tinha pessoas apaixonadas por carnaval na família, se sentia em casa. Tinha sempre um pai, um tio, um avô lá no meio, no teste do “alô-som”, ajudando com o gerador que sempre nos deixava na mão, carregando aparelhos pra lá e pra cá e mexendo com toda essa parte sobre a qual eu não entendo nada.

Assim que chegava a noite, o mini trio elétrico se preparava para sair em frente à casa da minha avó, onde o banheiro era gentilmente cedido a outras crianças que o usavam pela última vez antes de encarar a maratona de desfilar, fantasiadas ou não. Daniela Mercury era a Ivete da época, com o “Canto da Cidade”. Alceu Valença também entrava na playlist com “Me segura que eu caio” e, avançando a madrugada, quando acabava a pilha da criançada, os manguaçados se incumbiam de desfilar.

Tamanho era o sucesso do mini trio que, uma vez, resolveram chamar umas estonteantes e rebolativas mulatas cariocas para abrir alas para o caminhãozinho. Com trajes mínimos essas mulatas fizeram a alegria dos marmanjos, que perdiam a compostura diante de tanta “abundância”. Nunca ninguém havia desfilado com trajes tão pequenos naquele circuito, que também contornava a Igreja Matriz.

O mais interessante era reparar no comportamento das pessoas. Como criança não bebe, dava para perceber quem se transformava em meio à bagunça. Pessoas muito conhecidas, outras nem tanto - todo mundo enchia a cara e, quando não ficavam chatos, ficavam cômicos. Cansei de ver bêbado chorando de emoção, cantando junto, erguendo os braços e balançando de um lado para outro . 

Enfim, foi uma época mágica, mesmo sem o brilho dos principais blocos da cidade. Isto mostra a paixão que os santarritenses têm pelo carnaval, e como são criativos para se divertir mesmo não tendo os melhores recursos. Nem mesmo toda esta estrutura que temos agora de iluminação, arquibancadas e som são capazes de substituir o calor (LITERALMENTE!) daquela época: do gerador, do empurra-empurra para conseguir ver o bloco passar e dos carregadores de postinhos de luz - por muito tempo, esta foi a única mesada do ano de boa parte da molecada.

Democráticos e Ride Palhaço voltaram à ativa. O mini trio virou patrimônio do Bloco das Piranhas e foram aparecendo outros blocos. Lembro quando surgiu o Bloco do Urso: uma batucada desordenada em frente à igreja, com uns vinte camaradas e uma Ivete Sangalo de papelão. Hoje, quem diria? São uma marca registrada e conhecida, que atrai milhares de camaradas do Brasil inteiro e são bem capazes de trazer uma Ivete em carne e osso. 

As crianças que se divertiam observando os embriagados naquela época, hoje também enchem a cara e ficam chatas ou cômicas, com a diferença de não se emocionarem tanto. Afinal, não se faz mais músicas de carnaval como antigamente.

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2 comentários:

  1. Parabéns, Joice, Adorei seu texto. Leve, fácil de ser lido e sensível. Exatamente como eu penso que deve ser uma crônica. Você é filha da Fátima e do Newton? Estou tentando deduzir isto pelos sobrenomes, já que sou contemporânea deles. continue escrevendo. dá para ver que você vai longe.

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  2. Vivi em Santa Rita por 13 anos. Curti demais o carnaval. Era Demo e minha mão, dona Guaracy, Ride. Ela trabalhava todos os anos costurando as fantasias.
    Uma epoca de um carnaval grandioso e gostoso. Blocos de rua divertidissimos e Demo e Ride dando um show de beleza nas noites de domingo e terça.

    Mas sempre alertei que a gastança desenfreada criaria problemas para a manutenção dos blocos, pois a prefeitura nunca abria os olhos para o potencial enorme do carnaval santarritense. Havia tambem, na minha opinião, um tanto de desrespeito com o publico, pois o bloco que saia na frente, frequentemente atrasava o desfile propositalmente, visando prejudicar o outro. No fim, o prejudicado era o publico que era obrigado a esperar por muitas horas pelos desfiles sem um minimo de conforto.
    Faz tempo que não vou à Santa Rita no carnaval, pois no ultimo que fui, me decepcionei muito.

    Este ano, estou aí de volta. Mas o meu querido Demo e o "odiado" Ride até onde sei não estarão nas ruas.

    Mamão

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