terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

No tempo das batucadas

 Das lembranças mais antigas que tenho do carnaval santarritense, as que marcaram mais a minha infância foram as das batucadas que partiam do alto da rua nova. A ideia daquele espetáculo era recolher a maior quantidade possível de dinheiro, através de um evento improvisadíssimo, com a intenção de tomar um mé no carnaval.

As batucadas eram formadas, basicamente, por instrumentos de percussão e alguns personagens folclóricos como a vaca e o bonecão. Tais elementos botavam a criançada para correr e faziam muito valente mijar nas calças. O mais difícil era conseguir uma cabeça de boi e pintar com spray. Já o bonecão, entrava em ação ao colocar uma cabeça de pano sobre uma grande caixa de geladeira. Esta receita sempre dava certo e quem lucrava muito era o bar do Seu Lupércio.

Para arrecadar o dinheiro, havia uma tradição que a sacolinha fosse carregada por um casal com aparência respeitável. Como não havia mulher nas batucadas, um doidão sempre se vestia de dona de casa. O pré-requisito para este posto era que a dupla fosse da confiança do grupo para que as moedas não fossem desaparecendo no decorrer do percurso.

Como a fantasia mais fácil de ser conseguida em época de carnaval é o vestido velho da irmã, os integrantes da bateria travestiam-se de mulher. Os desfiles começavam sempre nas manhãs de domingo e terminavam mais ou menos ao meio-dia. A cachaça rolava solta no decorrer do trajeto e, não raramente, a temida vaca era abandonada em frente ao grupão ou perto da casa do senhor Luiz Alito. Tudo era muito precário, mas a atuação dos moradores da tradicional Rua Nova era sempre motivo de admiração dos habitantes da cidade.
 Há muito tempo não vejo batucadas por aqui. Possivelmente, quando os mais antigos moradores do bairro Rua Nova e Eletrônica deixaram de participar do evento, a tradição foi esfriando. Nos anos seguintes, o mais próximo que vi dessas manifestações genuinamente populares foi o surgimento do extraordinário Pó-pô, com aquele hino que consistia apenas em repetir seguidamente o nome do bloco. Ainda assim, quando volto meus olhos ao passado ainda me divirto com aqueles foliões incríveis e suas divertidas formas de cair na folia para sair – por aguardados 4 dias - da pesada rotina de trabalho.
(Carlos Magno Romero Carneiro)
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