terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Os geniais Irmãos De Franco

O elo que une a tradicional família De Franco aos Democráticos é muito antigo. Logo na primeira diretoria do Bloco, constituída em 1935, já constava o patriarca, Henrique De Franco, como diretor artístico da agremiação. No decorrer dos anos, sua família também passou a desfilar e a trabalhar na confecção dos carros. Com a ajuda de 10 irmãos que, mais tarde, se tornaram essenciais aos Democráticos, a família De Franco passou a ser uma referência nacional em alegorias e ornamentos em madeira e virou lenda na cidade.

O que mais chamava a atenção nas esculturas dos De Franco sempre foi a delicadeza dos detalhes e a habilidade que tinham em ampliar qualquer peça. Uma das lendas que ronda o morro do José da Silva é a de que, certa vez, havia uma desconfiança sobre a resistência do elefante, em um dos carros alegóricos da década de cinquenta. Para provar o contrário, os mais antigos dizem que os De Franco pediram ao Senhor Hugo que subisse na tromba do bicho e pulasse várias vezes em cima para provar que o trabalho era perfeito mesmo. Quem duvidou acabou perdendo a aposta e uma foto (abaixo) eternizou o momento.
Outra obra muito lembrada foi a dos camelos, todos em madeira trabalhada, que deram vida ao carnaval na primeira metade do século XX. O carro alegórico ficou tão perfeito que chegou a ganhar um prêmio em Belo Horizonte e esteve em exposição por muito tempo na cidade.
No ano em que o Bloco desfilou com o tema “Atlântida - Continente Submerso”, os Irmãos De Franco alcançaram a perfeição ao criar dois enormes peixes que tinham sua base invisível ao público. Ninguém entendia como duas esculturas daquele porte podiam se sustentar à frente do carro alegórico sem partir ao meio. Segredos que só aquela família genial conhecia.
Dentre todas as obras impecáveis, capazes de fazer tremer qualquer folião da agremiação rival, talvez a mais marcante tenha sido o navio do Peter Pan, criado para o Desfile das Crianças, em 1980. Ornamentado com todos os detalhes de um navio perfeito, o público parecia não acreditar no que via quando uma enorme embarcação começou a descer o morro. No lugar das águas, uma multidão de aficcionados acompanhava aquele desfile incrível.
Algo muito interessante também era o sigilo que os irmãos tinham na confecção de suas obras. Nem mesmo os mais fanáticos tinham acesso ao bem guardado barracão. Naquela fábrica de sonhos entravam apenas os ajudantes essenciais que tinham o privilégio de testemunhar o aparecimento de verdadeiras joias saídas das mãos daqueles grandes mestres. Tudo feito ali. Cada detalhe era arquitetado no local e executado através de grandes armações trançadas e encobertas com madeira, utilizando uma técnica que ninguém mais tinha.
Na década de 80, três dos irmãos foram os grandes responsáveis por estas obras criadas em Santa Rita: Ditinho, Maurício e Joel. Juntos, ele delinearam sonhos, construíram maquetes perfeitas e as reproduziram em grande escala. Através de suas mentes incríveis, gôndolas venezianas foram transportadas para a praça da matriz, lindas espanholas desfilaram sobre violões e leques, crianças brincaram livres em carrosséis magníficos e o morro mais querido da cidade foi tomado pela fantasia.
Com o passar do tempo, os De Franco foram se afastando do trabalho por motivo de saúde. Um a um, o Bloco foi perdendo a constribuição imprescindível daquela importante família. Dos 10 filhos, restou apenas Joel, o caçula, que nos contou algumas histórias memoráveis com a ajuda da amiga Lucrécia Adami.
Atualmente, apesar da falta que eles nos fazem, ainda temos a ajuda de seus filhos e sobrinhos. No início do novo milênio pudemos reviver o trabalho desses grandes artistas, quando Toninho, junto com seu irmão, esposa e filhos assumiram a diretoria da agremiação e decidiram colocar os Democráticos na rua. Naquele ano, uma viagem incrível através da força dos 4 elementos, levou cachoeiras, vulcões, furacões e labaredas ao espetáculo. Hoje, quando relembramos as vitórias do Bloco do coração bate a saudade dessas grandes figuras. Restam as lendas perdidas entre as memórias de outrora e a saudade de tempos que não voltam mais.
 
Agradecemos aos amigos Joel De Franco e Tia Lucrécia Adami pelos depoimentos.    
(Por Carlos Romero Carneiro)

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Um comentário:

  1. É rapaz nem Las Vegas com toda sua magia mexe ou mexeu tanto com meu imaginário como esses momentos mágicos de minha infância/adolescência.Valeu a veia articulista e saudosista, bota saudosista nisso em Carlão. Eu ví sua carinha de quem queria mais é comer algodão doce do que desfilar no carro alegórico.kkkkkkk

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