quinta-feira, 22 de março de 2012

Adelino, o “pai dos pobres”

 Conheça um dos maiores humanistas de que a cidade já teve notícia
Há quem diga que ele foi uma das criaturas mais caridosas que Santa Rita do Sapucaí já conheceu. Outros comentam que ele “dava tudo de si, sem pensar em si mesmo”. No entanto, como dizia seu filho, Rui Carneiro Pinto, “o tempo apaga tudo”. Quase tudo. Nessa edição do Empório de Notícias, contaremos um pouco da vida de “Adelino Carneiro Pinto, também conhecido como “O pai dos pobres”.

No morro do Zé da Silva (Rua Cel. Antônio Moreira da Costa) ficava a farmácia do Senhor Adelino Carneiro Pinto. Num sobrado com grandes escadarias, ficava instalado o seu laboratório e também um consultório onde atendia os clientes vindos de todos os cantos da cidade e da zona rural. Na entrada, dois grandes vasos faziam a decoração da farmácia. Já no laboratório, um jacaré de ferro fazia suporte para a balança que pesava os componentes das poções que tantas vidas salvaram. Ali, milhares de sais eram misturados através de fórmulas utilizadas para amenizar as dores dos santarritenses.

Nascido em Itamonte no dia 13 de setembro de 1893, Adelino Carneiro Pinto aqui instalou sua farmácia, após se formar pela Escola de Farmácia e Odontologia de Ouro Fino, em 1915. Magro, alto, muito calmo e genero-so, não havia pobre que saísse de sua farmácia desiludido ou desesperado. Todos que ali entravam, encontravam o bálsamo para seus males físicos e, muitas vezes, para as dores morais. Para as pessoas mais humildes “Siô Dilino”, ou “Pai Dilino”, era quase um santo.

Uma de suas histórias

Eram nove horas da manhã quando entrou na farmácia um senhor alto, muito bem vestido e de boa aparência, aparentando uns 40 anos de idade. O homem foi logo perguntando: “Quem é o dono da farmácia?” Encostado no balcão o senhor aguardou a presença do “Seu Adelino”.

- O senhor tem morfina?
- Desculpe, mas nós só vendemos com receita.
Neste momento, o homem tirou um revólver da cintura, apontou para os dois farmacêuticos e disse:
- Ou me vendem a morfina ou morrem os dois.

Seu Adelino, sem alternativa, foi até o armarinho de medicamentos controlados e pesou a quantidade exigida da droga. O homem agradeceu, desculpou-se, teceu alguns comentários sobre o horror de ser viciado e saiu apressadamente com o revólver na mão. Fugiu. Seu Adelino teve dó mas, mesmo assim, chamou a polícia local que o encontrou na construção da Escola Normal, debaixo da escada, já sob efeito da droga. Quando o homem saiu do êxtase, logo foi levado à delegacia. O farmacêutcico não o abandonou. Mandou-lhe cobertores e alimentos. O homem ficou preso por mais três dias, quando Seu Adelino retirou a queixa e o encaminhou para um tratamento especializado em uma cidade vizinha. Na verdade, era vítima da dependência, não um bandido.

Varíola

Outro fato interessante foi quando ele salvou a vida de uma vítima grave de Varíola. Mesmo sabendo que, apesar de vacinado, seria acometico pela terrível febre que marca o início da doença, Adelino ficou dois dias com seu filho cuidando do paciente. Até a doença abortar por efeito da vacina, ele passaria dias ardendo em febre.

As diversas atribuições

No início do século XX a população carente era muito grande e os recursos eram mínimos. Nesse cenário, o senhor Adelino servia com gentileza e prontidão. Com o passar dos anos, o bondoso farmacêutico começou a ser referido como “O pai dos pobres”. O fato é que ele marcou época. Muitas pessoas não sabem, mas nosso homenageado teve um papel fundamental em acontecimentos históricos decisivos de nossa vida local. Adelino foi Inspetor escolar durante muitos anos, foi fundador e diretor da Sociedade Filantrópica Santa-ritense (que depois se transformou em Sociedade de Assistência aos Pobres) e fundador da Cooperativa Agropecuária local. Membro influente da Loja Maçônica “Caridade Sul Mineira”, Adelino foi seu presidente por mais de uma vez. Outra atribuição que lhe foi confiada foi a presidência do Centro Espírita “Amor e Caridade Santa-ritense”. Adelino também foi fundador da Casa de Vitor (Lar da Criança Pobre) e vereador por diversas legislaturas. Diretor e professor do Instituto Moderno de Educação e Ensino, suas palavras de carinho até hoje são lembradas por seus antigos alunos.

Na década de 20, Adelino foi convidado, para se tornar diretor do velho Ginásio. Não tendo como negar o convite, assumiu por dois anos a direção. Algum tempo depois, já esgotado pelo trabalho incansável, seu coração começou a fraquejar. Os pés inchavam e já não podia subir as antigas escadarias, pois lhe faltava o ar. Nessa época, ele teve que abandonar parcialmente as lides farmacêuticas. O fato é que, depois dessa enfermidade, ele precisou reduzir, e muito, o seu ritmo de trabalho.

O Adeus
Casado com Geni Carneiro Pinto e pai de 6 filhos, aos 70 anos de idade este grande farmacêutico e humanis-ta comoveu toda a cidade. Em 14 de julho de 1964, Santa Rita perdia um de seus mais diletos filhos adotivos. Naquele dia, Adelino terminava seu compromisso na terra mas tornava-se imortal em muitos corações de pais, mães e pessoas que encontraram em suas palavras e medicamentos o cari-nho, o conforto e o apoio de que tanto precisavam. Sua morte encheu de tristeza todas as ruas de Santa Rita e estampou nas páginas da história o exemplo de virtude que norteou toda a sua existência.

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2 comentários:

  1. Fiquei muito feliz por saber um pouco sobre a história de meu avô, que infelizmente, não pude conhecer. Agradecida, só tenho a dizer que se mais pessoas tivessem essa consciência sobre o que é a vida em comunidade, o país estaria bem melhor!

    Abraços,


    Adriana Villela Carneiro

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  2. E hoje depois de tantos anos tenho o mesmo tarbalho do meu tio avo.
    Com carinho....sou medica e trabalho com pessoas com problemas de vicio
    Miriam Pinto Athayde

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