quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Do leito da Santa Casa, o desabafo de um professor - Por Ivan Kallás


Na verdade, não sei sobre o que vai ser este artigo. Nem se vou terminá-lo. Se for publicado, você saberá. Até porque, já recebi dúzias de telefonemas de amigos preocupados, já que fui colhido por uma suspeita genética de TEP: palavrinha boba que disfarça um potencial de morte súbita. 
Chamo meu TEP (Tromboembolia Pulmonar) de “coice de burro velho”. Explico: O véio tava em plena Confraria tomando umas e outras, quando faltou lenha no fogão. Rapidamente apanhou umas taquaras, partiu no meio com coices. Em seguida, reativou o fogo onde o maitre internacional, Serbinenko, produzia panelada de primeira. Daí, para a dor de joelho, no dia seguinte, foi um passo. Depois desceu para a panturrilha, subiu para a coxa. Generalizou para toda a perna, atacando a velha ciática e acabou na injeção de cortisona para dirigir de volta a BH no feriadão.

Interrompo o texto para submeter minhas juntas a duas outras juntas. A primeira, das enfermeiras que dão banho coletivo nos véios, já que nem ir ao banheiro e fazer xixi, estou autorizado. No meu tempo de moço, isso tinha outro nome: suruba. A segunda junta, com lindas médicas e outros caras feios, dizendo que o TEP pode não ser o que era, mas que a Angio TC ia dizer, a não ser que fosse outra coisa. Nesse caso, só seria confirmado com o dopler, cintilografia e meia dúzia de exames. De qualquer forma, já tinham certeza de um ano de medicação, com suspensão da cerveja, cachaça, tira-gosto e todas as alegrias desta vida quase monótona. 

Intervalo escrevendo, levando agulhada e outras cositas mais. Pelo menos já posso ir ao banheiro, arrastando. É preciso chacoalhar devagarinho, sob pena de pitiripaco súbito. Nesse caso, seria levado às homenagens derradeiras ao velho professor, colina acima. Daquela rua que, na minha terra, ninguém quer subir antes da hora. Nem depois. Aliás, nesta questão, todos dão preferência que a homenagem seja aos outros.

Mas, afinal, faremos homenagens ou o velório de um professor? Este velho dinossauro que, muitos dizem, encontra-se em extinção. Pior que, para o mestre, não existe morte súbita. É lenta, decadente e deprimente, com raras exceções. Já assisti a várias. Desde o Diretor do Mestrado que dizia: “Somos partes desta massa cadavérica que se chama UFMG”. Ou a amiga Eunice que, aposentada, me entregou pilha de apostilas, casos e textos, dizendo: “Esta é toda a minha vida. Não tenho coragem de jogar fora. Você pode descartar, escondido, ou digitalizar e ser minha única esperança de ser lembrada.” 

Muitas primas voltaram às salas de aulas. Nem sempre pelo prazer, mas em busca da segunda aposentadoria que melhorasse as finanças. De fato, o salário do professor sempre foi um escândalo e vai continuar sendo. Mesmo com alguns raros profissionais ganhando fortunas. Antes de me mudar para Santa Rita, ganhava US$400,00 dólares a hora/aula no Rio, SP e em BH. Eram poucas, mas bem pagas. Sobrevivia assim e investia, do próprio bolso, na pesquisa de um projeto que chamamos de “Interactor Cyber RV” e que muitos insistem em querer entender. 

A uma professorinha anônima

Gênios ou bobos, considero os professores os maiores heróis deste país. Para simbolizá-los, escolho, não por acaso, aquela que me confessou pretender escrever uma autobiografia. Seria a história de uma professorinha do interior. Ela mostrou-me alguns rascunhos, lindos como seus eventuais artigos em jornais da cidade. Sem prêmios. Raras homenagens fora da sala de aula e alguns textos publicados e que refletiam sua rotina repleta de Amor. A esta professorinha anônima, faço uma homenagem em nome de todos os seus alunos. Não digo o seu nome, mas tomara que não desista. Quem a conhece sabe quem é. Senão, já conheceram alguém parecido. Por seu exemplo, 90% dos professores do país veriam suas vidas espelhadas em uma história que nunca foi escrita. A história de alguém que fez da vida um ato de amor.

Mas, afinal, todos estes prós e contras do país não são fruto de nosso trabalho como professores - não só os da cátedra, famosos, como os da sala de pau-a -pique? Não seria também responsabilidade dos pais, tios e servidores - todos aqueles que ensinam pela demonstração ou pelo exemplo de vida? Não estaríamos vivendo o país que os ensinamos a viver? Não é este o fruto de nosso próprio magistério?

O amigo editor que me perdoe: era para eu escrever minha história de professor, com 40 anos formais de pesquisa e aprendizado. Mas confesso que nunca ensinei nada a meus alunos. Eles aprenderam sozinhos. Aprenderam o que quiseram. Não o que ensinei. Apenas estimulei seus próprios sonhos. Dei aula a vida inteira e não ensinei nada. Mas, talvez, tenha tirado de dentro de alguns ou muitos, o talento que tinham guardado.

Como sempre, imitando nossos políticos, contei, contei e não contei nada. E para deixar todos curiosos, não falo do Mentor Autômato, “O Cyber RV”, premiado protótipo construído, pela primeira vez, na FAI, por nossos alunos. Não foi criado no Carnegie Mellon, nas Universidades de Barcelona ou de Hamburgo. Nem em Harvard ou MIT que, agora, vinte anos depois, se associam para aplicar os primeiros 20 milhões de dólares em parte de uma pesquisa desta natureza. O nosso custaria 2 milhões.

Em suma, se o colapso que me pregou a bunda nesta cama de emergência e que me deixou sem licença para c* e m* sozinho, e nem deixa tirar radiografia sentado, não me levar, ainda vou encher mais a paciência de vocês. Fica para o próximo causo, real ou surreal. Ou mentiroso, como querem meus inimigos.

Como aprendi a estar atento, pois não sabemos nem o dia nem a hora, não se preocupem. O Mentor Autômato que chamo “Interactor-Cyber RV”, já anda por aí, no subconsciente coletivo da Era do Conhecimento e nas planilhas de pesquisa de todas as universidades avançadas.

Se não for pelas bobagens que escrevi e vão pouco a pouco se disseminando na internet, algum professor mais capacitado vai, enfim, compreender melhor e explicar o que ele significa.

Sobre o projeto (Mentor Autômato) referido pelo professor Ivan Kallás:

Ao deixar Santa Rita, como cientista do ano, pela SUCESU, Ivan recebeu promessas de fomentos mi-lionários e apresentou, desde um pedido de ajuda com 1 estagiário ao SEBRAE, até 5 milhões à FINEP. Como resultado deste projeto avaliado em 10 milhões de dólares a cada venda, veja qual foi o resultado:

Foi considerado o 1º projeto eletrônico de entretenimento educativo para carentes no Brasil. Foi considerado o 1º ebook do país para treinamento em massa de executivos tecnológicos (Fiat 1976). foi eleita a melhor ideia em informática e telecomunicações do país (SUCESU 97). Considerada a melhor metodologia mundial de implementação de projetos complexos (Tacom 1999). Foi considerado o melhor gestor de sistemas do mercado (Diretor de Tecnologia, Fiat-IBM). Foi Considerado um sistema pioneiro e competitivo, a nível mundial (Microsoft 2009). 
Vejam, a seguir, a avaliação burocrática que fizeram de seu invento: Disseram que o projeto não se enquadrava nos propósitos do edital de inovação. Afirmaram que faltaram documentos, em duas vias. Disseram que a verba estava 20% acima do limite da lei e que estava classificada em item errado. Ou seja...

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