quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O país da gurizada fandangueira


Brasil é o país do jeitinho. Aqui, sujeito acha bonito fazer nas coxas e se dar bem em cima dos outros. Somos o país da gurizada fandangueira. Uma nação onde as pessoas ultrapassam o sinal vermelho sem se preocupar com a integridade do pedestre; jogam papel nas vias públicas e depois se queixam das enchentes; dirigem bêbadas e depois choram as mortes desnecessárias. Nas eleições, os guris fandangueiros vão às urnas para eleger seus legítimos representantes. Votam em troca de botijão de gás, cesta básica, gasolina e até cachorro-quente.

Na tragédia de Santa Maria, aconteceu exatamente o mesmo que acontece em todos os desastres brasileiros. A banda, deu um jeitinho de comprar o sinalizador por um preço irrisório, sabia que o teto era de espuma, mas botou fogo assim mesmo. Ou seja: eles agiram exatamente igual aos motoqueiros inconsequentes que costuram o trânsito, aos motoristas que fazem loucuras nas estradas, aos moradores que ocupam áreas de risco ou aos “brasileirinhos” que fazem “gato” na Energia Elétrica. Tudo é festa! No final, se der merda, é só arrumar uma desculpa e um bom advogado.

O que falta no Brasil, inclusive no sul, é decência. O incêndio na Boate Kiss aconteceu por uma sucessão de erros, justamente no estado considerado mais evoluído da Federação. Não havia bombeiros suficientes para fiscalizar as instalações da casa noturna, a banda não atinou que os fogos poderiam provocar um acidente, os seguranças não pensaram na integridade dos jovens, não havia qualquer restrição contra menores no recinto e não existia saída de emergência. Em resumo, foi preciso morrer duzentas e tantas pessoas para que o país da gurizada fandangueira se preocupasse com os perigos de todas aquelas irregularidades.

Será que as coisas vão mudar daqui pra frente? Provavelmente, não. O Brasileiro continuará ocupando as beiras dos rios, destruindo o meio ambiente, elegendo políticos corruptos, furando fila e tentando se dar bem na primeira oportunidade. Além de mestres do jeitinho, somos também especialistas em encontrar desculpas para as nossas cagadas. A todo dia, uma tragédia acontece na Amazônia, outra em São Paulo, mais uma no Nordeste e nem o Sul está imune.

No Brasil só vai preso quem não tem dinheiro. Aqui, o cara mata e depois se elege deputado para ganhar imunidade. Desvias verbas da saúde ou da educação porque sabe que o crime irá prescrever. Na capital federal, leis bizarras são criadas em dias de carnaval ou de futebol porque sabem que o eleitor quer mais é "tchu e tcha". Aqui é o país do jeitinho. No mundo inteiro a Interpol procura o Maluf, mas aqui ele é deputado. Somos país da gurizada fandangueira. Até quando?

(Carlos Romero Carneiro)

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