segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Vale a pena viver? (um texto acalorado de Ivan Kallás)


Hoje, pela milionésima vez, me indago 
sobre a natureza e o propósito desta vida.

Desde quando me perguntei isto pela primeira vez? Aos 6 ou 7 anos? Na adolescência e juventude a angústia de tal dúvida talvez fosse maior. Ou os efeitos mais dolorosos. Várias vezes me indaguei sobre se valeria a pena viver ou ter nascido. Nem me lembro se pretendi algum dia acabar com a vida. Talvez sim. Mas queria mesmo era morrer naturalmente. Ou melhor. Não ter nascido. E lembro de pais, avós e tias se perguntarem, nas dificuldades: O que vim fazer neste mundo?

Quase septuagenário, a dúvida reincide. Vale a pena viver? Chorei na véspera de aniversário. Não por tristeza específica. Tenho vida boa. Modesta mas equilibrada. Problemas comuns. Perspectivas para os filhos melhores talvez que as minhas. É uma vitória. Missão cumprida. Posso dizer que, medianamente, sou feliz. Seja lá o que isto for. Mas chorei. Voltei a indagar se vale a pena. Revisei mágoas, ódios, desafetos, fracassos. Sobretudo os mais próximos ou de lembrança mais insistente. Quis vê-los todos mortos. Ou humilhados. Por mim de preferência. Mas acabei desviando tais pensamentos pelo carinho dos amigos. Mensagens no face. Presenças físicas. Mimos, brindes, comemorações, bolos, fotos. Estava meio bêbado. Mas dormi feliz.

Ganhei dois livros, um sobre o Século XX. Outro, sobre Catarina a Grande. Décadas atrás os leria num só fôlego. Hoje, minha autonomia de voo, não atinge 40 páginas. Prefiro artigos. Para assuntos leves, meditações e até contos ou piadas, não ultrapasso meia página. E ainda faço inimigos. Resultado do impacto virtual. Redes Sociais. Net. Por falar nisso, lembro-me de minha terra. O Vale da Eletrônica onde, às vésperas das eleições, publiquei meu último artigo do leito do hospital. Aliás penúltimo.

O último foi censurado. Agressivo? Restrição eleitoral? Polêmico? Com este último termo retorno à razão de estar agora escrevendo. Também de ter parado de escrever por meses. Cansei de polêmicas. Mas não consigo fugir delas. Conto causo saudoso do pai da prima e sou mal interpretado. Nos tornamos desafetos. Outra prima, dileta de juventude, entra em seu apoio. Depois nos desentendemos sobre quem mais ajudou quem, numa demanda antiga. E me desentendo com o velho e doente repórter, meu caquético companheiro de aventuras do último causo. Vetado: Tio e Véio escapam do capeta com a ajuda de Dito Cutuba e Zé Mecânico.

Parei aí. Brigamos porque? Porque eram dois diabos velhos, cada qual se julgando senhor da razão. Hoje ele curte pilhéria minha, num post de amigo comum. Apago e repito o comentário, para não aparecer sua curtição. Curtiu de novo, desta vez junto com amiga. Já não posso apagar. Apagá-lo sozinho não tem como. Apagar a amiga por causa dele seria imbecil. Então ficou. Melhor seria virar marajá aposentado, com alto salário. Ficaria quietinho, desfrutando. Mas não tive competência. Ou? O que mais ficou sem solução na minha vida? Sem solução, solucionado está?

Fico verificando o rol de desafetos. Que quero atropelar sem bafômetro. Poucos, mas profundos. O parente que me parece ter sido traidor. O vizinho que pode ter sido desonesto. O juiz que dizem ser venal. O mecânico que estaria sendo safado. O fulano que ….?

E tantas pessoas com quem me desentendo. Alguns por anos a fio. Outros pelo resto do dia. Ou por minutos. Sob aquele lema pornográfico de que vingança é prato que se come frio. Melhor congelado para não derreter. Não acabar. Enquanto, nas ruas, hoje se mata por qualquer dez merréis. Até de graça. Pra treinar pontaria. Meu rol de desafetos, pequeno, mas existente, vai se mantendo. E somente assim descubro o que ficou sem solução na minha vida.

Volto ao meu editor, que respeita mas reclama das longas férias do escritor. Não quer polêmicas mas mensagens, história, lembranças, incentivo. Restrição que habilmente engano, misturando causos inocentes com tempero de pimenta brava. Ou até veneno pra elefante. Com endereço certo.

Revejo os seis ameaços de artigos que esbocei nos últimos meses. Todos pela metade. Revejo o ex-amigo com quem fui ao inferno no último causo (censurado) e desejo que ele tenha ficado por lá. Honestamente. Desde que não me segure junto. Se ele gostar? Azar. Aí eu vou também.

Por isso repito meu atual lema. Filosofia C&A. Da vaca. Tou Cagando & Andando. Já cumpri 67 anos de vida quase responsável. O resto que s* f**, inclusive o Editor, se censurar o texto. Mas não me condene a palavra ou atire a primeira pedra antes de ler e compreender até o fim.

Afinal descobri, porque não morri. É a Lei da Atração. Recebi, nos últimos meses, a par de meia dúzia de péssimas notícias, decepções e alguns fracassos, uma corrente contagiante de abraços, votos, estímulos, pedidos, conselhos,... O aluno que sonha trabalhar comigo. A jovem africana que me consulta de longe. Outro pede ajuda. A ex-aluna relembra aulas que já esqueci. E tantos outros, outras, outros. Para que continue, continue, continue. Afinal, continuar para que?

Até que hoje, recebi aquela notícia. Contrária à expectativa. Facada nas costas. Mas não doeu, salvo no primeiro susto. Suei frio. Vou invocar Joaquim Barbosa. Como dizia Ziraldo, facada no pulmão só doi quando ri. Pensei. Assimilei. Absorvi. Conclui que o golpe foi chinfrin. A notícia não derrubou. Minha vida não mudou. Não perdi nada. Perdi foi a vontade de matar o responsável. Ou de morrer. E descobri, finalmente o que a mensagem dos amigos queria me dizer.

Você não pode morrer. Não pode sumir. Não pode se calar. Porque?

Pois ainda não aprendeu a perdoar

Me perdoem os amigos. E se danem os inimigos. Porque, a partir de hoje, não os tenho mais. Estão todos perdoados. Pelo menos vou fazer uma força danada. E gostem alguns, odeiem outros. Eu amo a todos. Por isso não morri. Para tem mais algum tempo para amar. Continuo vivo, feliz, escrevendo. De raiva é que não morro mais. Morra quem não aprender a perdoar.
E que no inferno tenha facebook só com gente chata.

Notações: "s* f**" quer dizer "seja feliz".
Oferecimento: Modesto

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