sexta-feira, 26 de abril de 2013

PRÓXIMA PARADA, ESTAÇÃO RENNÓ

Por muitas décadas, a Estação Rennó foi um grande escoadouro da produção – não somente da família  que lhe emprestou o nome – como para diversos fazendeiros da região. Bem ao seu lado, um bairro construído na propriedade do Se-nhor José Ribeiro Portugal e sua esposa, Dona Cota, fornecia todos os recursos necessários aos moradores da região e ainda traz recordações a quem viveu por ali.
Por volta de 1910, era intensa a vida na Fazenda Moreira. No local havia uma fábrica de laticínios que, mais tarde, foi vendida à família Silvestrini e transferida para Pouso Alegre. Para a alfabetização infantil, uma escola também foi construída e atraía colonos, filhos de fazendeiros e crianças da cachoeirinha. 

Para abastecimento dos moradores, um bem montado armazém fornecia uma grande variedade de artigos e utensílios domésticos. Como o pagamento dos empregados era feito no local, todos eles faziam suas anotações na caderneta e recebiam o ordenado – no final do mês – já com os referidos descontos. Wanda Portugal Rennó, moradora do local por nove anos, conta como foram os tempos em que trabalhou no estabelecimento comercial: “O armazém era do tio Arthur Dias Pinto e eu trabalhei lá por um período. Em seu interior, havia um balcão, ladeado por uma grande quantidade de sacarias. Ao fundo, uma prateleira com garrafas e copos. Por muitas vezes, fui encarregada de abater porcos e preparar a banha para conservar a carne dentro de latas. Naquele local existia também o único telefone do bairro, onde todos iam para realizar ou receber suas ligações.”

Ao lado do Armazém, havia uma grande casa onde moravam os donos da propriedade. Em seguida, à sua direita, outra residência servia de moradia para Luiz Moreira Costa e Maria da Conceição Rennó. 

Nos feriados e dias santos, uma grande quantidade de parentes desembarcava na Estação, vindos de diversas cidades. Um deles, José Pinto, chegava de madrugada e, como o trem não parava nesse horário, ia jogando as malas pouco antes da estação e pulava do vagão em movimento. Outro visitante, Joaquim Ribeiro Portugal, filho dos proprietários, era o mais renomado neurologista do país e havia sido agraciado com o “Bisturi de Ouro”, na Alemanha – distinção feita aos maiores cirurgiões do mundo. Nos dias de festa, uma banda de música animava o local e era comandada por Maestro Quinzinho, também membro da família e que morava em São Bento do Sapucaí.
Para entreter a criançada, não faltavam atrações naquela propriedade tão rica. De dia, as brincadeiras aconteciam nos terreiros de café, nos trilhos com vagões utilizados para transportar a produção, na Cerâmica de telhas e tijolos ou na incrível plantação de pinheiros, composta de cerca de 100 mil unidades. 

Ao anoitecer, o senhor Luiz Moreira deixava a seriedade de lado e colocava cabaças iluminadas com velas para simular fantasmas, contava histórias de lobisomem e até de assombração. “A gente ficava com tanto medo que, para sair da nossa casa e ir até a casa da vó Cota, fazíamos todo o trajeto em fila indiana, correndo a toda velocidade.” – lembra Wanda. Apesar do medo de percorrer o pequeno caminho, todo aquele esforço valia a pena. Afinal, as crianças seriam recebidas com bolinhos de chuva, pipoca, pasteizinhos de fubá e outras guloseimas. 

Entre uma brincadeira e outra, a criançada era convocada a pegar no batente. Umas das missões era ajudar Dona Ana, esposa de Juca Paca, administrador da Estação, a descascar amendoins. Como pagamento, ganhavam os deliciosos pés-de-moleque que deram origem aos produtos que, anos depois, seriam os concorridos doces de Piranguinho.

Outra ocasião muito animada marcava as festas juninas do bairro, que atraíam, não somente os moradores da região, como também diversos habitantes de Santa Rita. “Em uma dessas comemorações, minha mãe (Dona Conceição Rennó) foi soltar rojões e um deles estourou em seu rosto. Apesar de estar grávida, ela não se machucou, mas o susto foi tamanho que minha irmã nasceu no outro dia.” – conta Wanda.

De tempos em tempos, um médico de confiança era escalado para realizar consultas aos colonos, aplicar vacinas, indicar vitaminas e oferecer tratamentos. O primeiro de que se tem notícia foi o Doutor Lisboa, sucedido pelos Doutores José Seabra e Edmundo Prado Moreira. Após as consultas, os moradores da região partiam todos em carros de boi, enfileirados pela estrada de chão.

Com a morte do senhor José Ribeiro Portugal e de sua esposa, as terras foram divididas e a Estação Rennó acabou demolida. Atualmente, quem administra a propriedade que guarda alguns traços da disposição original é o Doutor Luiz Fernando Bitencourt. Entretanto, ao caminharmos por aquela propriedade tão bonita, ainda é possível notar alguns resquícios da história de santa-ritenses que ali cresceram e ajudaram a fazer Santa Rita do Sapucaí, a cidade em que temos orgulho de viver hoje.

(Carlos Magno Romero Carneiro)

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