quinta-feira, 13 de junho de 2013

SANTA RITA DO SAPUCAÍ DESPEDE-SE DE ALICINHA BARACAT

O EMPÓRIO HOJE ESTÁ DE LUTO PELO FALECIMENTO DE NOSSA QUERIDA AMIGA, ALICINHA BARACAT. ESTA FOI, SEM DÚVIDA, UMA DAS PESSOAS MAIS ESPECIAIS QUE A CIDADE JÁ CONHECEU E FARÁ UMA FALTA IMENSA PARA TODOS NÓS, SANTA-RITENSES.  
AOS FAMILIARES DE UMA DE NOSSAS MAIORES
CONTERRÂNEAS, OS NOSSOS MAIS PROFUNDOS SENTIMENTOS.
ATÉ A PRÓXIMA, ALICINHA. 
SENTIREMOS A SUA FALTA.
UM BATE PAPO COM MARIA ALICE BARACAT

A senhora morou na Avenida Delfim Moreira na infância?

Eu estava lendo a última edição e gostei muito daquela foto que mostrava o início da rua da pedra. Eu me lembro muito bem daqueles carros de boi, voltando para a roça. Geralmente eles vinham do Bom retiro, do vintém, daqueles lados. Isso me deu muita saudade dos tempos de criança. Nessa época eu morava na primeira quadra da avenida, perto da rua da ponte. Era a última casa do primeiro quarteirão. Ao lado da minha ficava a chácara da Dona Antonieta. Essas eram uma das únicas casas da avenida. Somente no último quarteirão é que tinha algumas outras construções. No final da avenida ficavam a Escola Normal, o prédio do seminário, a casa da Dona Adélia e a residência do senhor Zequinha Adão.


Quais era as suas brincadeiras na infância?


No carnaval, haviam dois blocos: o Democráticos e o Ride Palhaço. A gente via aqueles blocos luxuosos desfilarem e, quando chegávamos em casa, queríamos fazer os nossos bloquinhos na calçada. Nós brincávamos muito disso. Pegávamos uns caixotes de madeiras, colocávamos rodinhas, enfeitávamos de papel crepon e dizíamos que eram os carros alegóricos.

Outra coisa que nós gostávamos era de teatrinho. Na casa do senhor Teixeira, onde morou também o pessoal do Pedro Andare, tinha um porão grande onde a gente fazia teatrinho. A entrada era um palito de fósforo, mas não podia ser riscado. (risos) Ali nós dançávamos e nos apresentávamos em cima de caixotes.

Depois de algum tempo, quando nos mudamos para a rua da ponte. eu me afastei dos meus amigos de infância, como o Marcos Flávio, e só voltamos a nos unir muitos anos depois para formar o Bloco Bandalheira e um grupo de teatro chamado GRUTA.


Como era o Bloco Bandalheira?


Quando o Bloco dos Democráticos ou o Ride deixavam de desfilar, surgiam os blocos para tentar animar. Mesmo os bailes do clube, quando não tinham os blocos não era a mesma coisa. Daí apareceram bloco como o “Milhonários da Alegria”, a “Escola de Samba do Tonico”, o “Hora H” e o “Bafo da Onça”. Lembro que a gente sempre ia atrás da bateria do Tonico para poder aproveitar o som, porque no nosso bloco não tinha. Nós não tínhamos dinheiro para fazer nada muito elaborado.


A senhora ajudou a fundar o Feirão Folclórico?


Criamos em 1981. Era um grupo muito bom. Naquela época, já existia um festival de música sertaneja promovido pela Emater e nós resolvemos criar um evento maior. Nós tivemos uma ajuda muito grande da Dona Terezinha e das filhas dela. Também participaram da criação do projeto o Marcos Flávio, o Victor Grilo. o Nando Almeida, a Eliana Miranda e a Célia Rocha. Foi um sucesso. Naquele mesmo ano, também ajudamos a criar o primeiro Desfile de Cavaleiros. Aquilo movimentou muito a cidade.

Fico muito feliz de ter participado. Foi um momento muito inspirado de nosso grupo ter criado o Feirão Folclórico. O evento até desapareceu um tempo. mas agora eu parabenizo o prefeito e a Secretaria de educação, por terem entusiasmo de fazerem acontecer.


Como foi a sua juventude na cidade?


Eu gostava muito de ler. Tudo o que caía na minha mão eu lia. Nós tínhamos uma grande vontade de conhecer alguma coisa diferente mas nós não íamos muito a outros lugares. Eu falava para o meu pai: “Com tanta cidade no mundo como Paris, Rio de Janeiro ou São Paulo e o senhor muda do Líbano e vem logo para Santa Rita? Aqui não tem nada pra ver!” Daí ele respondia: “E o que é que eu ia fazer em Paris com esse bando de crianças?” (Risos) De fato, os libaneses faziam isso mesmo. Eles viam para as pequenas cidades e crescia junto com elas. Tanto que a rua da ponte era de maioria Libanesa.


O que o seu pai fazia?


O meu pai (Dib Baracat) tinha uma loja de eletrodomésticos. Chamava “Casa do Rádio”. Ele também vendia tecidos para confecção de ternos, corte de seda natural e outras coisas. Ele tinha muito bom gosto. Ia para São Paulo e comprava cortes de seda lisa e estampada. Sua preocupação era nunca repetir dois cortes iguais. Ele sabia que, como a cidade era muito pequena, se fizesse isso, teria problemas. Infelizmente ele morreu com 59 anos.


Como era viver na rua da Ponte?


Eu gostava muito. Nunca me esqueço quando o trem chegava. Nós conseguíamos ouvir a maria fumaça lá da rua de casa e víamos diversas charretes passarem com os viajantes que chegavam à cidade. Todo dia o senhor Chico, aquele senhor que sempre puxou uma carrocinha com dificuldades na rua, passava em frente de casa carregando o rolo de filme que ia passar no cinema.


Como era a sua época de escola?


Na minha época de escola nossa turma era a mais espoletada. Como eu não tinha irmãs, fazia as mesmas coisas que os moleques faziam. No meu tempo de Colégio Sinhá Moreira, que ainda era chamado Escola Normal, tinha uma dessas caixas de abellhinhas minúsculas. Uma vez eu pedi para ir ao banheiro - a gente pedia para ir à “casinha” - e matei a vontade que sempre tive de cutucar aquelas abelhinhas com um pedaço de pau. Quando eu mexi lá, aquelas abelhas ferveram e foi uma coisa louca. A escola inteira ficou cheia daquele bichinho. Aquilo me rendeu um castigo feio! (Risos)

A senhora lembra de outra história da Escola Normal?

Lembro também quando eu estava no primeiro ou segundo ano primário, estudava no segundo andar e chegaram falando que o Chiquinho da Borda tinha aparecido no prédio da escola. Chiquinho era o famoso “coisa ruim da Borda”. Um diabinho que aparecia naquela cidade e que causou medo na região inteira. Quando surgiu aquele boato, foi aquele alvoroço e todo mundo ficou morrendo de medo. Ninguém queria descer as escadas. Teve menina que queria pular lá de cima. Até pra eu dormir foi difícil. Isso foi uma coisa que apavorou a gente. (Risos)


Quais são as coisas que mais marcaram a senhora?


Uma coisa que ficou muito marcada na minha memória foi a chegada dos Expedicionários. Eu ainda era muito criança, mas foi uma alegria muito grande quando eles retornaram à cidade. Lembro que eu vi o expedicionário João Adami, que era meu vizinho, e aquilo me trouxe uma alegria muito grande. Do portão da minha casa, eu não sabia se ria ou chorava. Outra coisa que não sai da minha cabeça eram as brincadeiras na praça. Eu acho que não tem uma única pessoa que tenha vivido em Santa Rita e não tenha escorregado no coreto. Aquilo não pode morrer.


Conte-nos sobre o seu irmão Marcos Baracat


Quando nasceu o meu irmão Marcos (Baracat), em 1945, a minha avó estava lá em casa. Ela era uma pessoa boníssima, mas nunca deixava a gente chegar ao portão. Quando ela vinha para a nossa casa a gente sempre ficava sem poder sair. Naquela época eu era tão ingênua que nem percebia que a minha mãe estava esperando neném. Ela ficava grávida e a gente nem sabia.

No dia em que ele ia nascer, a minha avó acordou a gente cedinho e pediu para a gente ir brincar na rua. A gente achou estranho ela ter mandado a gente brincar. Foi aí que o meu irmão Jorge sugeriu que nós fôssemos até a esquina da estamparia brincar. Nós fomos e levamos juntos o Emil e o Mansur. Para nós era uma aventura. Quando nós chegamos na metade do caminho, notamos que estavam virando lá na esquina da estamparia uma boiada. Nós tivemos que pegar as crianças mais novas, colocar no colo e chegar correndo em casa. Foi um sufoco. Quando entramos no portão, já escutamos um choro. Era o Marcos (Baracat) que tinha acabado de nascer.

Como era o Marcos na intimidade?

Era uma pessoa incrível. Não digo isso por ser meu irmão, mas o Marcos era uma pessoa especial em termos de levar alegria a todo lugar onde ia. Uma vez, ele com os amigos resolveram matar um carneiro nos fundos de casa. Junto com a turma toda, havia um rapaz chamado Rodolfo ou Lindolfo, ajudando. Quando terminaram de preparar a carne, eles deram uma saída e, quando voltaram, viram que os miúdos do bicho tinham sumido. Depois de muito tempo foi que eles perguntaram para o tal Lindolfo, que falou: “Uai, Baracat! Eu pensei que era pra levar pra minha casa!” Daí o Marcos respondeu: “Olha meu filho, você tá pensando muito! Eu vou botar um camisolão branco em você e deixá-lo em baixo do abacateiro pra ver se você escreve alguma coisa bonita pra nós! (risos)

O Marcos tinha as trapalhadas dele, fazia muita graça, mas foi uma pessoa de muita fé. Tinha dia que ele dormia com o terço na mão. Infelizmente, os meninos lá de casa foram embora muito cedo. Nós tínhamos as nossas brigas, que chamávamos de “Baracat Brigas LTDA”, mas foi um tempo muito gostoso. Era tudo muito bom.

3 comentários:

  1. Uma pessoa muito bacana. Muito amiga de minha mãe, e irmã de um grande amigo meu, o Marcos "Capivara" Baracat....

    Meus pesames à familia...

    Mamão

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  2. Ai Tia Alice que pressa foi essa??? a gente ficou triste demais.... E agora???

    Rita Baracat

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  3. Não conhecia este site e abri por acaso num e-mail de parabéns para mim, numa notícia dada aqui Adorei a entrevista da Alicinha, que foi mais ou menos uma infância igual a minha. Ia até copiar a entrevista para mandar à Rita Céres, qdo vi os comentários e acessei. Vai fazer muita falta para cidade e os parentes e amigos. Mas foi uma pessoa feliz pois era mto amada por toda cidade e participava mto. A gente tem que colocar como ANÔNIMO que fica mais fácil de entrar o recado.Alice também era colunista social, como eu que fui 40 anos, nos jornais da cidade, começando com Sr Zito, Ivo e Rubens com o FALA..BEAGÁ.
    A família de Dib e Antônia está toda reunida agora no outro plano. Que Deus os proteja Jandyra Adami

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