quinta-feira, 15 de agosto de 2013

E a TV chegou a Santa Rita... (Por Rita Seda)

Não sei se é lenda ou se aconteceu de verdade. Um ricaço do interior, (daqui? Não sei...), entrou em uma loja da capital e pediu um aparelho de TV. Mostraram-lhe alguns, exibiram imagens e sons e o homem, encantado com aquela caixinha mágica, fez a compra e deu o seu endereço no Sul de Minas para entrega! A frustração foi grande, pois queria mostrar aos vizinhos a novidade e foi informado que o objeto de sonho só servia para a cidade grande. Entretanto, um homem visionário, morador de Santa Rita do Sapucaí, também ia muito à capital e se encantou com a novidade. Só que este pôs a massa cinzenta para trabalhar e resolveu o problema, trazendo um aparelho e fazendo-o funcionar. Santa Rita estava começando sua jornada de tecnologia, que iria culminar em escolas do mais alto gabarito, em fábricas que  fariam com que fosse chamada o”Vale do Silício” brasileiro. Esse homem era o Sr. Marino Briguenti.
Dotado de rara inteligência e espírito empreendedor, foi a São Paulo com seu amigo Dante De Marchi, outro gênio, comprou uma TV Colorado, de 14 polegadas, experimentou-a no alto do Sumaré, percebeu que lá funcionava melhor, familiarizou-se com as  antenas que comprara e deve ter feito a viagem de volta feliz, ele e o amigo, em seu fusquinha alemão, seu grande xodó e fazendo planos mirabolantes. 

Corria o ano de 1951, a TV chegara ao Brasil por obra de Assis Chateaubriand, a 18 de setembro do ano anterior. Novidade das novidades. Só Os Estados Unidos, a Inglaterra e a França  possuíram canais de TV antes do Brasil. Mas o pioneirismo estava na alma do Sr. Marino. Ele não nasceu em Santa Rita, mas, sim, em Ibate, cidade paulista, perto de São Carlos. Antes de vir para cá morou em Paraisópolis, Cachoeira de Minas e havia se casado com Dona Maria Virgínia Ferraz Briguenti, em Itápolis. Fixou-se em Santa Rita com o objetivo de trabalhar em máquinas de beneficiar café e arroz, ótimo  mecânico que era. Mas a TV mudou o curso de sua vida. 

Fez funcionar a TV uma primeira vez, na Fazenda do Alto, sob os auspícios do casal que a administrava, José Carneiro e Lívia Martinez. Muita gente foi para o local conhe-cer a novidade. Sr Marino ligou o botão e... nada de imagem nem som. Suspense! Por que não dera certo? Muitas ideias passaram na cabeça de todos. Quando  os relógios marcaram 16 horas, foi aquela euforia! Esqueceram-se de que a transmissão só acontecia a partir daquela hora... O assombro do povo foi grande! Era transmitida naquele momento a Missa na Basílica de Aparecida e, mesmo em meio a chuviscos, era o sucesso! Ele fez muitas experiências no morro do Cruzeiro, também. O povo enfrentava a subida pelo prazer de ver a programação. O Sr. Marino vibrava com cada progresso. E, já que era questão de altura, montou uma fábrica de antenas para TV e de torres metálicas bem altas para fixar as antenas e receber melhor o sinal. Quem não podia arcar com os gastos da torre comprava a antena e utilizava um cano ou até um bambu... Quantas antenas já vi caídas sobre as casas em dias de chuva com vento forte! Mas deixemos a TV e passemos à vida do Sr Marino. Ele era uma pessoa sociável, tinha muitos amigos e admiradores. Foi católico praticante, confrade vicentino, sempre pronto a ajudar os pobres. Instalou na Rua Silvestre Ferraz o Cine Vitória, muito frequentado; foi  professor na ETE e Radioamador, com o prefixo PY4ASC. Nessa função, ajudou muitas pessoas, pois o telefone era rudimentar e seu aparelho dava resultados muito mais rápidos quando a comunicação tornava-se urgente. Convidada pelas minhas  amigas Arlete e Haidée, suas fi-lhas, fui a sua casa para conhecer o afamado aparelho que  mostrava as pessoas e até o som. Num cenário de bananeiras, flores e outros enfeites, tive o encantamento de ver o artista Agnaldo Rayol cantando.  Momento inesquecível para mim. Mais ainda que esta cena, a outra, do casal Sr.Marino e Dona Virgínia, de mãos dadas, assentados em um sofá, assistindo ao fruto de um trabalho que deixou marcas profundas de gratidão e reconhecimento nesta “Cidade Eletrônica”. Minha eterna admiração ao Sr. Marino. Pioneiro da TV em Santa Rita. Com que alegria deve ter acompanhado o desenvolvimento da tecnologia na terra que o adotou! 

Quem vê meu esposo, Ivon, com suas velharias, livros, papéis, documentos, objetos antigos, não pense que ele  só gosta  disso. Ele é louco, também, por uma novidade tecnológica. E não é de hoje... A primeira TV que comprou foi montada pela primeira turma de formandos da ETE. Um enorme caixão de madeira guardava em seu interior a máquina de imagens e sons. A pioneira! Compará-la com uma TV moderna, fininha, com imagens e sons perfeitos seria nosso primeiro impulso... Bobagem, porém, quando se vê a semente não temos ideia da vida que dela explodirá! Sendo novidade, os vizinhos se apinhavam em nossa sala ou na janela para assistir, de boca aberta, à programação. Um dia, Ivon queria comprar um carro do Zezico,  o pai do Prefeito Jeferson Gonçalves Mendes. Ele fazia qualquer negócio honesto, com bicicletas, utensílios domésticos, carros e até avião! Como o dinheiro era curto, aceitou a TV no negócio e o Ivon  saiu de lá com um jeep Candango, alegria das crianças da família. TVs já eram comercializadas aqui, já tinha repetidor em Brazópolis. Tinha que usar antena, continuava a ser objeto um tanto caro e, por isso, raro. Na Copa de setenta, na final era Brasil contra Itália. Nossa casa regorgitava de pessoas ávidas por torcer para o Brasil. Nossa casa tinha duas janelas enormes na sala, além da porta. Tinha um terraço bem maior que a sala. O jeito foi colocar a TV numa das janelas para que todos assistissem. No decorrer da partida os torcedores xingavam a Itália com nomes horríveis e a minha mãe, italiana apaixonada por sua terra, quase pôs todo mundo pra correr! Tranquei-me no quarto com ela e rezamos muitos terços... Mas confesso que  estava doida para ver nossa seleção ganhar dos patrícios da mamãe! E ganhou bonito!!! Nossa primeira TV colorida, que ainda temos e funciona perfeitamente, foi comprada em setenta e oito (14 polegadas...) para que o mano Pedrinho visse a copa a cores. Três meses depois, ele se foi... Os controles automáticos apareceram, fomos acompanhando a evolução e mudando de aparelho para maior conforto!  Ivon tem uma preciosidade, que não usa, mas que guarda com carinho. É uma TV de uma polegada...Boa para assistir corridas ao vivo... Cada aparelho, uma história. Cada história uma saudade. Cada saudade um retalho de vida.

Oferecimento:

2 comentários:

  1. O Sr Marino Briguenti morava quase em frente a loja da Vivenda Agropecuária, onde eu atendia os cafeicultores e foi lá, em frente a minha mesa de trabalho que conheci o Sr Marino. No primeiro contato não botei muita fé quando ele falava de suas invenções, mas ficávamos muito tempo conversando e ele rabiscando suas idéias no papel.
    Como engenheiro mecânico, me impressionou quando num sábado ele me "alugou" pra mostrar seu projeto de descascador de café em coco que ele propunha para substituir aquelas chapas perfuradas, conhecidas como vazadeiras.
    Ele me dizia que levou a idéia até a "Machinas D'Andréa" e "Pinhalense", mas eles não se interessaram em mudar o sistema, provavelmente porque deixariam de vender vazadeiras, na invenção do Sr Marino, bastava substituir as varetas gastas, que qualquer serralheria poderia fazer.
    Já conheci muita gente boa no que faz, o Sr Marino foi um deles e tive o grato prazer em conviver com ele.

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  2. O Sr Marino Briguenti morava quase em frente a loja da Vivenda Agropecuária, onde eu atendia os cafeicultores e foi lá, em frente a minha mesa de trabalho que conheci o Sr Marino. No primeiro contato não botei muita fé quando ele falava de suas invenções, mas ficávamos muito tempo conversando e ele rabiscando suas idéias no papel.
    Como engenheiro mecânico, me impressionou quando num sábado ele me "alugou" pra mostrar seu projeto de descascador de café em coco que ele propunha para substituir aquelas chapas perfuradas, conhecidas como vazadeiras.
    Ele me dizia que levou a idéia até a "Machinas D'Andréa" e "Pinhalense", mas eles não se interessaram em mudar o sistema, provavelmente porque deixariam de vender vazadeiras, na invenção do Sr Marino, bastava substituir as varetas gastas, que qualquer serralheria poderia fazer.
    Já conheci muita gente boa no que faz, o Sr Marino foi um deles e tive o grato prazer em conviver com ele.

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