sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

José Wilson Ribeiro, o homem que nasceu para o trabalho

O caminho de casa até a escola de um bairro rural de Natércia era feito em apenas 15 minutos. Trabalho mesmo José Wilson teria depois do almoço, quando se juntava aos irmãos para ajudar o pai na lavoura. Seu trabalho era colher a mandioca e distribuir em dois jacás que se equilibravam nas laterais de seu cavalo. Em casa, era preciso lavar a mandioca e depois raspá-la. O passo seguinte seria passar tudo em um ralador para depois coar.  Quando a água decantava, o polvilho ficava no fundo e era separado. O processo se repetia no decorrer do mês até que fosse produzida uma quantidade suficiente para ser usada em casa ou, eventualmente, comercializada.
Wilson em frente à Fábrica de Camas (Avenida Delfim Moreira), com a esposa e seu filho Renato na Mercearia.
Aos 17 anos, José Wilson e os irmãos começaram a pressionar o pai para se mudarem para uma cidade maior onde buscariam um bom emprego. Ciente de que os filhos já estavam crescidos, o agricultor mudou-se com sua família para um bairro chamado Mamona, nas redondezas do Vintém. Enquanto o pai montava uma horta nos fundos de casa, os rapazes conseguiram trabalho em uma cerâmica, onde passaram a fabricar telhas e tijolos.

Com o passar dos meses, os irmãos Ribeiro souberam que uma fábrica de camas, localizada na Avenida Delfim Moreira, estava contratando e pediram uma oportunidade ao proprietário, conhecido como senhor Totonho. Juntos, foram admitidos para envernizar e embalar camas que eram despachadas por trem, para todo o estado.

Mesmo bem empregado na fábrica, José Wilson era um jovem muito empreendedor e estava sempre atento às oportunidades. Certa vez, ao receber a oferta para compra da sapataria de um amigo que iria se mudar, falou: “Como posso comprar a sapataria? Eu nunca mexi com isso na vida!” E o amigo retrucou... “Pode ficar tranquilo que te ensino o ofício.” No dia seguinte, sua rotina mudou. Ao sair da fábrica, entre 4 e 5 da tarde, corria para a sapataria onde trabalhava até as 10 da noite. Na quarta-feira, José já havia aprendido a fazer a famosa meia-sola e Dinho Sapateiro deu no pé.

Montada em frente à Estamparia Santa-ritense, a sapataria de José Wilson era muito concorrida. Enquanto estava na fábrica, um primo vindo de Natércia realizava os trabalhos. Depois das quatro da tarde, o rapaz assumia. Em uma época onde os calçados eram mais inacessíveis, eram bem comuns os reparos. Trabalho era o que não faltava e a pequena empresa dobrava turno.

Sempre muito econômico, com o passar dos anos, José Wilson se casou e teve três filhos: Renato, Roldan e Alfredo. Quando completou 10 anos, o mais velho passou a auxiliar o pai na sapataria e lá permaneceu por 5 anos, quando decidiram vender o estabelecimento.
Sem jamais abandonar o trabalho na fábrica de camas, garantia de um sustento no final do mês, o jovem empreendedor teve a ideia de abrir uma padaria na Rua do Queima e convidou um compadre para fazer sociedade. Juntos, alugaram um cômodo do Tião Tibães, construíram o forno e compraram todo o maquinário.

Se José Wilson não tinha medo de pegar no batente e estava sempre de olho em um bom negócio, a vida ficaria ainda mais agitada ao dar início ao novo empreendimento. Diariamente, o rapaz saía da fábrica às 5 da tarde, descansava um pouco, ia para a padaria às 8 da noite para preparar a massa, voltava para casa, enquanto o fermento agia, e retornava às 11 para assar os pães. A jornada tinha fim às 4 e meia da manhã e começou a deixá-lo insatisfeito. A saída foi arrendar a sua cota e partir para outra. Para ajudar o compadre, montou uma mercearia (quase em frente à Lanchonete Xiko´s) e passou a comercializar os pães em outra região da cidade. O estabelecimento tinha de tudo: frios, quitandas, doces, bebidas, armarinhos. Dava gosto de ver o negócio prosperar e foi preciso pedir demissão na fábrica para dar conta do recado.

Enquanto o tino comercial falava alto, o empreendedor continuava atento e, se um ou outro amigo passava pela mercearia para oferecer uma proposta, a confiança era incrível. “Eu não perdia um bom negócio. Lembro que um amigo estava se mudando para BH e me vendeu sua casa em 10 vezes. Eu paguei em 4 prestações e nem me dei ao trabalho de conferir. Só depois de alguns anos foi que tive curiosidade de saber como era a casa e fiz algumas reformas. Aconteceu o mesmo com uma casa ali na várzea. Eu pedi um recibo e só fui conferir alguns meses depois. Minha esposa era costureira e me ajudava muito. Devo muito a ela.”

Certo dia, enquanto atendia na Mercearia, José Wilson recebeu a visita do senhor Juquita que ofereceu um dos terrenos que estava loteando no bairro que, mais tarde, recebeu o seu nome. “Eu e meu sogro compramos 22 lotes. Na minha parte, montei uma olaria e contratei um amigo para tocar. Com os tijolos que produzia, construí a minha casa e faturei uns trocados. Eu saía de lá que era puro barro.” A maior venda de tijolos aconteceu durante uma visita do então prefeito, Antenor  Pinto de Almeida, que encomendou 100 mil para a construção das arquibancadas do campo da Liga Santa-ritense de Futebol. Depois de alguns anos, Wilson vendeu os lotes e já nem se lembra direito onde sua olaria ficava.

Depois de uma vida de lutas e conquistas, José Wilson olha para trás e orgulha-se de sua trajetória. Ao folhear os álbuns de família, os olhos do senhor de 80 anos ainda brilham ao recordar o dia em que deixou a pequena propriedade rural de Natércia para prosperar através do trabalho. Em um mundo onde os jovens são incentivados a trabalhar cada vez mais tarde, este ilustre morador de nossa cidade mostrou que, através do esforço, é possível realizar os sonhos. 

(Carlos Romero Carneiro)

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