quarta-feira, 19 de março de 2014

#naovaitercopa? (Por Carlos Romero)

- Pra qual time você torce?
- Pra nenhum. Só para a Seleção Brasileira.

Nunca liguei para futebol. Jamais entendi como alguém poderia matar e morrer por um clube que mudava o elenco constantemente e que, no fundo, visava apenas o lucro. O diabo é quem sempre que a passava algum jogo da Seleção, eu vestia camisa, procurava conhecer os jogadores, torcia muito e até chorava quando o Brasil perdia. A lembrança mais antiga de uma Copa do Mundo vem de 1982. Eu ainda era muito criança, nem prestava atenção nos jogos, mas me recordo de umas camisas amarelinhas correndo de um lado para o outro e de um goleiro careca chamado Valdir Peres. Quatro anos depois, a copa do México coincidiu com o meu aniversário e ganhei uma camiseta do mascote. Antes do fatídico jogo entre Brasil e França, passeava de carro com a minha mãe e ela me disse enquanto subíamos a Chacrinha (atual Vila das Fontes): “A França só tem o Platini. Na Seleção Brasileira são todos bons.” Perdemos nos pênaltis e fiquei com uma tristeza danada. Em 1990, minhas recordações são tão passageiras quanto a nossa participação. Na oficina do meu pai, fizemos um bolão que pagaria uma pequena quantia a quem marcasse o primeiro gol e eu quis voltar atrás ao descobrir que havia saído com o Dunga. Apostei minha mesada naquele perna de pau e passei a semana inteira sem tomar coalhada no Modesto ou jogar fliperama no Waltinho. Na Copa dos EUA, lá estava eu torcendo de novo pela Seleção. Dessa vez, o Dunga era o capitão e confesso que minhas experiências traumáticas não permitiram que eu botasse tanta fé em um time em que ele fosse o líder. Não é que deu certo? Primeiro, nossa rua ganhou uma bicicleta por ser a mais enfeitada e convertemos o prêmio em uma grande festa para quem aparecesse. Fomos para a final e o jogo foi aos pênaltis. Eu já tinha visto aquele filme. Já havia presenciado três copas e me decepcionado em todas. Eu não assisti. Fiquei trancado no quarto com uma música no último volume, mas o Brasil ganhou! Que alegria foi aquilo! O inferninho, digo, o Clube Santa-ritense abriu na tarde de domingo, depois de muitos anos, e nos divertimos a noite toda. Depois daquela festa, tornaram-se comuns as festas naquele ambiente, que funcionava, religiosamente, até meia noite. Em 98, o vexame, a final suspeita e uma carta que soltaram na internet que dizia que – por combinação – o Brasil deveria ganhar a Copa do Japão e sediar o mundial de 2014. Tudo o que disseram naquele papel aconteceu! Coincidência ou realidade? Em 2002, o meu amigo de infância na Seleção. Roque Júnior, que chamávamos de Juninho. Vitória, chegada em carro de bombeiro e tudo. Por incrível que pareça, as Copas que tenho menos lembranças são as de 2006 e 2010. Talvez por eu não ser mais criança, ou por já ter visto o Brasil ganhar duas vezes... O fato é que neste ano terá Copa de novo, mas não me sinto nada empolgado. É triste fingir que estes estádios todos não foram superfaturados, que não houve tanta corrupção para isto tudo acontecer. À medida em que a Copa se aproxima, quem sabe eu deixe um pouco de lado essa indignação e torça para o Brasil vencer. Preferia que a sede fosse outra para que pudesse me divertir sem dor na consciência. Será que a vitória terá gosto, mesmo sabendo que depois do campeonato voltaremos para um país sem Padrão Fifa? Só o tempo vai dizer. De uma coisa tenho certeza: boa parte dos brasileiros dariam uma derrota para a Argentina nas oitavas,  em troca de um país com um pouco mais de moralidade e menos Sarneys, mensaleiros e políticos de carreira. Com certeza, vai haver Copa. O que acontecerá enquanto isso é que permanece uma incógnita. Carnaval tá aí. Estou curioso para saber o que virá depois do Reveillon. O jeito é deixar a bola rolar e ficar preparado para entrar em campo se o momento for de mudanças e protestos. E aí? Vai ter copa?

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