terça-feira, 11 de março de 2014

RIDEMO: quando a água e o óleo se misturaram

Havia poucos gatos pingados, com fantasias improvisadas, até o carnaval de 1968. Os tradicionais blocos, Democráticos e Ride Palhaço, não desfilavam há 5 anos e as famílias que integravam as duas agremiações pareciam desanimadas em restaurar a rivalidade nascida em 1935. Os bailes no Clube Santa-ritense não eram os mesmos. O salão já não enchia, muitas mesas não eram vendidas e as pessoas não contavam com outra opção para se divertir.
Cleber Miranda, Homero Melão, Aristeu Vianna, Júlio Mendes, Flávio Junqueira, Ronaldo Moreira, Hamilton Faria, Armando Costa, Beto Paduan, Joaquim Ribeiro. Elzi Andere, Valéria Junqueira, Regina Carneiro, Cecília Costanti, não identificada, Mariângela Marques, Magda Marques, Cátia Gomes, Suely Barroso, Ângela Scudeler, Antonieta Bressler e Giselda Ribeiro.
Dona Irene Faria, fiel entusiasta dos Democráticos, percebeu que seria preciso produzir algo para reviver os desfiles que a encantaram desde a juventude e procurou Dona Maria Nazaré Bressler, em busca de alguma sugestão.

Juntas, decidiram correr um livro de assinaturas e promover três noites de carnaval, em que os homenageados seriam os blocos Mimosas Cravinas, Democráticos e Ride Palhaço. Ao tomar conhecimento de que algo estava para acontecer, Dona Eny Andere se prontificou a ajudar no que fosse preciso, já que havia sido a responsável pela chapelaria dos Democráticos.

A verba era curta. Não seria possível produzir carros alegóricos ou usar os tradicionais postinhos de luz. Ainda assim, com o dinheiro arrecadado, 23 crianças desfilariam gratuitamente, ao som da banda J.Abreu.

Estava tudo encaminhado. Os ensaios já começavam, em frente à casa de Dona Irene, fantasias eram confeccionadas, mas ainda faltava um nome. Ridecráticos? O título não soava bem. Foi do Doutor Antônio Junqueira a ideia de batizá-lo de Ridemo. A união da água e do óleo.

A noite de sábado seria uma homenagem às Mimosas Cravinas. Quando Dona Maria Bonita, presidente da agremiação fundada na década de 20, recebeu a visita de uma comissão que pedia o estandarte emprestado para o desfile, ficou muito emocionada e até chorou.

Na primeira noite, sábado de carnaval, os foliões desceram o morro do José da Silva acompanhados pela banda do João do Carmelo, mas não esperavam grande recepção. A emoção foi indescritível quando alcançaram a altura da Matriz e notaram que a praça estava repleta. Depois de tantos anos, a população voltava às ruas para ver um desfile carnavalesco. As marchinhas eram contagiantes. Há muito tempo o hino das Cravinas não era entoado. Ao chegarem em frente à casa de Sinhá Moreira, Dona Maria Bonita pediu o estandarte do bloco e desfilou até o término da praça. O Ridemo ainda deu outra volta antes de adentrar o Clube Santa-ritense que teve lotação esgotada. A animação era tamanha, que os lustres balançavam. O salão estava lotado de foliões, como não se via há muito tempo.

No domingo, o Ridemo voltou às ruas para exaltar o Ride Palhaço. Por contar com um número maior de foliões dos Democráticos, a agremiação homenageada hesitou em emprestar o estandarte, mas cedeu, após um pedido formal de Dona Irene. A segunda noite foi palco de pierrots, colombinas e arlequins, tema preferido do Ride Palhaço. Novamente, o público se maravilhava com o que via. O sonho não havia acabado.

A grande noite, terça-feira de carnaval, teria como gran finale uma homenagem aos Democráticos. Vestida de baiana, uma garotinha empunhava o imponente estandarte branco e preto à frente dos foliões que contagiavam a multidão ao som do hino do bloco. “Vibrem fanfarras da Aurora...” A praça veio abaixo. Confetes e serpentinas eram arremessados por crianças debruçadas sobre bandeiras alvinegras nas janelas. Milhares de pessoas acompanhavam à beira das calçadas. Santa Rita nunca mais seria a mesma. Aquele carnaval abalou as estruturas do Vale. Se os dois blocos não desfilavam há anos, aquele seria o impulso para retomar os trabalhos e voltar com força total, no ano seguinte.

Em 2014, o Ride Palhaço deverá comemorar oito décadas, sem a presença do imponente bloco que estremece o morro. No ano que vem, será a vez dos Democráticos comemorarem seus 80 anos e, ao que tudo indica, as duas agremiações têm tudo para se encontrarem novamente. Como água e óleo não se misturam, dificilmente veremos outra vez uma apresentação do Ridemo. Mas, por conta daquela iniciativa, uma brasa permanece acesa e “se assoprar”, tem tudo para acender de novo.

(Carlos Romero Carneiro)

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