sexta-feira, 25 de abril de 2014

Chico Lobo interpreta 'moda de viola' em Santa Rita do Sapucaí, MG

Voltar à tradição da cultura caipira é o que permite o show do violeiro Chico Lobo, que se apresenta nesta sexta-feira (25) no Teatro Inatel em Santa Rita do Sapucaí (MG). Mineiro de São João Del Rei (MG), o artista é considerado um dos mais ativos violeiros da música regional brasileira. Seus espetáculos são marcados pelas canções tradicionais de folias, congados, catiras, as modas de viola e as raízes da música caipira.
hico Lobo usa a viola caipira de 10 cordas para interpretar seu repertório influenciado pelas canções típicas da cultura brasileira. Ele ainda conta histórias da sua carreira e dos lugares por onde passou em forma dos tradicionais "causos", relatados com a simplicidade e o bom humor típicos do formato.
O evento é aberto a todos os públicos e para a entrada, basta trocar um litro de óleo de cozinha pelo ingresso nos pontos indicados abaixo. O produto será doado para o Centro Hípico de Equoterapia e o asilo de Santa Rita do Sapucaí.
Serviço:
Chico Lobo Moda de Viola
Quando: 25 de abril de 2014, às 20h
Onde: Teatro Inatel
Endereço: Avenida João Camargo, 510
Quanto: 1 litro de óleo
Pontos de troca: Casa Miranda, Xiko's Lanches, Restaurante do Bá, Boutique Thenácy e D.A. Inatel e nas entidades beneficiadas

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O milagre da minha vida (Por Rita Seda)

Sempre soube que eu sou fruto de um milagre. Por intercessão de Santa Rita de Cássia, meus pais receberam a graça de ter doze filhos. Criaram todos com muito carinho. Até pensavam que ficariam com aquele bonito número,que lembra os apóstolos de Cristo. Mas, eis que mamãe fica grávida novamente e novamente a expectativa cristã de mais um membro na grande família. Oito dias antes do parto, mamãe sentiu a criança morrer em seu ventre. Sensação inexplicável para quem nunca a sentiu. A criança, que já estava em posição encaixada para nascer, flutua, sobe, parece estar em cima do coração, pedindo socorro... Naquele tempo, para a futura mãe, o único recurso era rezar e esperar! Não sabe o que a espera, confia sua vida a Deus. Passei por isso na minha terceira gravidez. Sei exatamente como é. Mamãe tinha filho de dois em dois anos. Estava perto dos cinquenta... Após passar por esse sofrimento voltou à vida normal, talvez pensando que sua função de gerar filhos tivesse encerrada ali. Entretanto, uma décima quarta gravidez aconteceu e repetiu-se na íntegra aquele sofrimento. Mulher forte e corajosa, voltou novamente à sua rotina até que percebeu outra vida pulsando em seu ventre... Que terá ela pensado? Qual teria sido sua reação? Imagino que foi de resignação, mas, como gato escaldado tem medo de água fria, ela foi procurar uma advogada: a Santa das causas impossíveis. Ela contou a todos que pediu duas coisas e prometeu uma: pediu que a criança nascesse viva e que fosse a última! E prometeu que, independente do sexo, levaria o nome da santa. Rita ou Cássio. E aí eu entro na linda história da dona Pepa e seu Dorato, um casal forte, cristão, temente a Deus e repleto de amor. Nasci! Ao vir ao mundo já era tia muitas vezes!!! Meu irmão mais velho já estava com trinta anos! Não co-nheci avós, não tive irmãos com idade para brincar comigo ou me acompanhar nas travessuras... mas, tudo bem,  me adaptei, fui muito amada por todos da família. Fui também bastante doente, meu pulmão era chegadinho numa pneumonia e numa bronquite... Tenho que cuidar dele com carinho, agora mais ainda! Claro que tive na vida momentos de curiosidade sobre minha existência. Mas os afazeres foram sufocando as dúvidas e eu vivi plenamente.  A história pararia aí, se, no ano de 2013, eu não fizesse as cirurgias de catarata. Através da sabedoria do amigo médico que as fez, dos exames, da própria cirurgia, ele concluiu que eu fui vítima de Tóxicoplasmose. Com simplicidade, ao revelar que nada pôde fazer para “melho-rar” meu olho direito, revelou-me que eu tinha  as cicatrizes dessa doença e que eu desse graças a Deus, pois  era fruto de milagre: poderia ter morrido ao nascer, vir com deficiências gravíssimas, cega, muda, surda e que só tive essa sequela de perda de 80% de visão num olho! Bem, ele não conhecia a fé corajosa de uma dona Pepa, do alto de seus cinquenta anos e o poder intercessor de sua Santa, a Advogada dos Impossíveis, Santa Rita de Cássia! E de tudo isso eu concluo: Grande é o Amor de Deus! Tenho muito o que agradecer! Sou resultado da intercessão da Advogada Santa Rita de Cássia e do amor misericordioso de Deus!

Exposição de jesuítas chega ao sul de Minas

Exposição foi criada sob a chancela do Papa Francisco, durante a 
Jornada Mundial da Juventude, e tem percorrido o país.
A Exposição Itinerante “Paixão e Glória” está no sul de Minas. Com entrada franca, a mostra conta a história da companhia de Jesus no mundo em nove ambientes, alguns interativos. As informações com Daniela Ayres.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Intel faz parceria com DL para crescer no segmento de tablets

A Intel, que lidera o mercado global de chips para computadores e servidores, com participações de mercado de 94% e 98%, respectivamente, quer acelerar a sua entrada tardia no segmento de chips para dispositivos móveis. A companhia negocia parcerias com multinacionais e fabricantes locais para uso de seus processadores em tablets. No mundo, a Intel já fez acordos com as fabricantes Lenovo, Dell, Hewlett-Packard (HP), Samsung, Asus, Toshiba e Acer.
Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/Valor
No Brasil, a companhia anuncia hoje uma parceria com a Digital Life (DL) e o lançamento do primeiro tablet fabricado localmente com chip da Intel. O processador é da família Atom, usado também em smartphones. O tablet que será apresentado hoje possui 8 gigabytes (GB) de memória e preço sugerido de R$ 449. Modelos com pouca memória (4 GB ou 8 GB) costumam ter preços entre R$ 200 e R$ 600 e são voltados a atividades de entretenimento, como leitura e navegação na internet.
Steve Long, diretor-geral da Intel para América Latina, disse que essa é a primeira parceria feita pela companhia no Brasil. "A Intel decidiu escolher a companhia que mais vende tablets no país para aprender a redesenhar os processadores e atender melhor esse mercado. Espero ter outros modelos disponíveis no Brasil este ano", afirmou.
Fundada em 2004 pelo chinês Paulo Xu, a DL começou como fabricante de panela elétrica para cocção de arroz japonês e diversificou sua atuação ao longo dos anos. A lista incluiu aparelhos de DVD para veículos, tocadores de MP4 e MP5, babá eletrônica e outros produtos. Desde 2010, a companhia dedica-se à produção de tablets. Com aparelhos vendidos a preços populares (entre R$ 300 e R$ 600), a DL lidera o mercado brasileiro de tablets, superando rivais como Samsung Electronics e Apple, de acordo com a consultoria GfK.
Em 2013, a DL vendeu 1,5 milhão de tablets e atingiu 17,9% de participação nesse mercado. Paulo Xu, presidente da DL, disse que as vendas da companhia cresceram 50% no ano passado e a meta é aumentar a produção em 67% este ano, para 2,5 milhões de unidades. "A partir do segundo semestre, a DL começou a produzir com os benefícios do Processo Produtivo Básico (PPB) e, com isso, passou a crescer de forma acelerada", afirmou Xu.
Xu disse que a DL já tem encomendas de varejistas de tablets com processadores Intel, mesmo antes do lançamento do aparelho. "Há uma percepção no mercado de que os processadores da Intel têm boa qualidade", disse. O executivo estima que os tablets com chip da Intel vão responder por 30% das vendas da DL este ano, ou cerca de 750 mil unidades.
A busca por parceiros locais faz parte do plano global da Intel de ganhar espaço no segmento de chips para tablets e smartphones. Para o segmento de tablets, a meta da companhia é fechar 2014 com 40 milhões de aparelhos vendidos, o equivalente a 15,2% do mercado mundial.
De acordo com a consultoria Gartner, as vendas de tablets no mundo cresceram 68% no ano passado, para 179,5 milhões de unidades. Este ano, o aumento será de 47%, para 263,5 milhões de unidades. No Brasil, as vendas de tablets tiveram expansão de 157% em 2013, para 8,4 milhões de unidades, segundo a consultoria IDC.
A Intel demorou a definir uma estratégia de competição no mercado de processadores para dispositivos móveis. Atualmente, o mercado é dominado por chips desenvolvidos com design da britânica ARM. Na produção de processadores para tablets e smartphones, as principais rivais são AMD, Samsung e Qualcomm.
O grande desafio para a Intel é conseguir oferecer chips de baixo custo para atender o mercado, que é dominado por tablets de preços populares (abaixo de R$ 500 por unidade) e que usam o sistema operacional Android, do Google. Long disse que a Intel tem procurado desenvolver processadores que ofereçam mais economia de energia e com custo de produção mais baixo, seguindo a mesma linha dos modelos da ARM.
A companhia também incluiu nos chips o seu antivírus McAfee e alguma melhora na capacidade de processamento, para que tablets com pouca memória também possam executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo - à semelhança dos notebooks e tablets com memória superior a 32GB.
O tablet desenvolvido pela DL começou a ser fabricado esta semana na unidade da fabricante em Santa Rita do Sapucaí (MG). A expectativa é que as vendas tenham início ainda este mês no país.

sábado, 5 de abril de 2014

O poeta das gentes e da natureza (Por Ivon Luiz Pinto)

Como é complicado entender alguns dos mistérios que Deus coloca em nossa vida!  O nascimento de uma pessoa é recebido com alegria e festa. É a felicidade de comemorar o dom da Vida e a beleza de ser um ser único, insubstituível e irrepetível. Não haverá ninguém igual, mesmo que sejam gêmeos univitelinos. Nascemos para sermos únicos. A sabedoria popular diz que Deus fez e jogou a forma fora. E assim  entendemos e aceitamos. Na outra ponta da corda, no outro lado da medalha, está a morte, o fim da caminhada. Ela chega trazendo tristezas, insatisfação e choro. É difícil aceitar a morte. Parece que ela tem o sabor de traição e a gente pergunta com olhos vermelhos pelo choro e coração entristecido: Por que morreu? 
Ninguém pergunta ou perguntou porque a gente nasce. Nós olhamos o ato de nascer como função normal, com  entusiasmo, mas sem intimidade. Ali está um ser que vamos aprendendo a amar, a querer e a ter intimidade. São passos que percorremos no desenrolar da vida. Mas no momento do nascimento nada disso ainda existe. Por isso não interrogamos. Porém a morte nos surpreende numa caminhada de convivência e intimidade, chega quando já aceitamos a companhia e a convivência da pessoa. Por isso ela dói, mesmo sabendo, pela fé, que quem partiu está nos braços do Criador gozando da felicidade eterna.

Sentir saudades, sempre sentiremos, ter desejo de estar ao seu lado, sempre  teremos, mas o que consola, o que alivia a dor da separação, o que dá alegria e põe esperança no coração é saber que o tempo que vivemos juntos, o tempo partilhado no trabalho, no lar e nos lazeres, foi um tempo abençoado e intensamente amado. Assim foi para mim, assim é para vocês. 

Hoje, a saudade tem nome de Luiz Carlos Carneiro. É interessante notar a afinidade que ele teve com a paixão. Em tudo que fez ele colocou o selo forte da paixão. Parece que essa foi sua característica, sua norma, seu modo de vida. No esporte foi um grande goleiro, uma fera rápida debaixo das traves, perfeito e apaixonado, para alegria e segurança de seu time e desespero e raiva do adversário. Contudo, foi na fotografia que ele mais se distinguiu e dominou. Por trás de suas lentes poderosas ele se transformava e tinha ousadia, essa caraterística de todo artista. Via ângulos que nós mortais comuns não percebemos. Certa vez conversando sobre fotografia e filmagem ele disse que filme é uma fotografia em movimento e por isso tem que ter a mesma técnica e respeito aos princípios fotográficos.

Há pessoas que fazem poemas com palavras, e são interessantes, pois tem cadência e rima; outros há que fazem poemas com sons e são muito importantes, pois a música enleva a alma e aquece os corações. Mas há outras, e estas são as melhores, que fazem poemas com as imagens e retratam a alma e o coração, pois que falam de saudade. Luiz Carlos foi esse poeta. Mario Quintana, certa vez, disse que a morte não é importante, o que importa é viver, e o Luiz soube viver, muito, intensamente, apaixonadamente, e deixou sua marca em cada um de nós, quer seja por sua paixão ao futebol, quer pelos consertos de geladeiras, ou pelo apego ao DEMO ou pelas fotografias e filmagens.

Um amigo, João Paulo de Oliveira Neto, postou no meu face “Ninguém enxergou Santa Rita do Sapucaí tão bem como o nosso amigo Luiz Carlos. Com a ajuda das suas lentes e sua sensibilidade, ele deixou um legado inestimável para a memória cultural da nossa cidade. Certa vez flagrei o Luiz e sua big câmera sobre um tripé, captando o voo das aleluias  subindo o rio. Esse era o grande Luiz Carlos.”

Assim era ele, o poeta das gentes e da natureza.

Oferecimento:

quinta-feira, 3 de abril de 2014

A história de voos e rasantes de uma heroína chamada Gaivota

A vida de Lauir Gonçalves Pereira, em Pérola, interior do Paraná, era de uma típica família de classe média.  O pai era cafeicultor, a mãe dona de casa. Ao se casar, com apenas 16 anos, a adolescente mudou-se para Campo Mourão, onde passou a oferecer aulas de teclado e órgão. A facilidade com que lidava com a música, levou-a ao sexto ano do curso de piano e proporcionou uma grande procura na cidade. Quando abriu a sua própria escola, mais de 70 alunos estavam matriculados. Ela mesma produzia as partituras, desenvolvia o material didático e criava um jornal para divulgar os acontecimentos do ambiente escolar.
Gaivota, como sempre foi conhecida, não era rica, mas tinha uma vida confortável. Era proprietária de duas casas, tinha carro e uma empregada responsável pelos serviços domésticos e pelo preparo das refeições. As coisas mudaram quando um exame de rotina detectou um adenoma na glândula hipófise e surgiu a dificuldade de obter tratamento pelo SUS, na rede de hospitais do Paraná. Nessa altura, o marido de Lauir havia se mudado para o Piauí, a trabalho, e ela soube que poderia ser mais fácil conseguir tratamento nos hospitais públicos de São Paulo. Ao vislumbrar tal oportunidade, a professora mudou-se com a filha para a capital paulista, com a promessa do marido de que bancaria o aluguel, água, luz e alimentação.

Mal chegou à cidade grande, Lauir descobriu, após o divórcio, que as coisas não eram como pensava e, acamada por sua enfermidade, não tinha condições de se locomover sozinha. Sua filha completava 16 anos e era quem a auxiliava nas tarefas mais simples. Para sobreviver, Danlary preparava chocolate e vendia nos bares. Nesse período, sua filha matriculou-se no curso de jornalismo da Mackenzie e a vida melhorava aos poucos. 

Se os planos não aconteceram como ela havia planejado, a casa caiu quando descobriu que o marido não estava enviando dinheiro para pagar o aluguel e elas foram despejadas. Lauir e sua filha, Danlary, dormiram alguns dias na rua, até que foram resgatadas por alguns membros de uma igreja evangélica que as receberam na garagem. Como elas se recusaram a participar dos cultos, já que eram de outra religião, foram expulsas do local e caminharam dois dias pelas ruas de São Paulo até que fossem acolhidas por um dos “chefes” do Morro da Kibon que se solidarizou com a situação e lhes ofereceu um barraco de madeirite. A vida era tranquila na favela. Não havia roubos, a porta não tinha nem maçaneta e eram respeitadas pela comunidade. Apaixonada por animais, diversos moradores levavam cães feridos para que Lauir cuidasse e, depois de alguns meses, as moças dividiam o único cômodo do barraco com cerca de 14 deles.

Um ano e meio após se mudaram para a Kibon, o homem que as havia ajudado pediu o barraco de volta e, mãe e filha, caíram de novo nas ruas. Naquele dia, queimaram tudo o que não podiam carregar e partiram com poucos pertences para a noite escura de São Paulo, acompanhadas por quatro cães que serviam como guardiões. “Nenhuma pessoa chegava a cinco metros de nós, sem que eu deixasse. Eu dormia com a corrente da coleira enrolada no meu braço. Se alguém se aproximasse, os cães nos avisavam.” – relata Lauir.

Era dura a vida nas ruas. Alguns dias, elas dormiam em postos de gasolina. Em outros, ocupavam casas interditadas. No restante, sobreviviam nas calçadas e contavam com a boa vontade dos paulistanos. “Nós não passávamos fome. Sempre tinha alguém para ajudar. Um dia, um homem não reparou que eu morava na rua e deu 25 quilos de ração para os cães. Eu nem tinha como carregar aquilo.” – conta Danlary.

Algo que causava grande preocupação nas moças era a higiene pessoal. Para evitar o acúmulo de sujeira e outros transtornos, Danlary abriu mão da vaidade e raspou os cabelos. Para se lavarem, a única opção era utilizar as pias de bares e restaurantes, onde faziam uma limpeza básica. Apesar de passarem por grandes provações e sobreviverem da maneira mais precária possível, elas jamais perderam a dignidade.

A compra de um guia turístico sinalizou a saída de São Paulo em busca de um destino menos adverso. Enquanto Danlary dava preferência ao litoral, Lauir lembrou-se do quanto seu pai era caridoso e optou pelo local onde ele havia nascido: Minas Gerais. Para isso, precisariam caminhar pela Fernão Dias, até Mairiporã, onde conheceram um “trecheiro” (nome dado às pessoas que caminham de cidade em cidade, por opção) e que indicou uma tal “Santa Rita do Cupuaçu” como boa opção para trabalhar na “panha” do café. “Eu tinha intenção de trabalhar na roça, local onde poderíamos viver com os nossos cães. A oportunidade que aquele homem nos mostrou, pareceu ser a melhor, no momento.” – lembra Gaivota.

Ao se aproximarem de Pouso Alegre, um caminhoneiro perguntou se elas queriam alguma coisa e elas pediram para dormir no baú do caminhão. O homem procurou conhecer um pouco da história daquela família e soube que elas procuravam uma Santa Rita que não tinha no mapa. “Não seria Sapucaí?” – perguntou o homem. Lauir disse que o trecheiro poderia ter se enganado e ele contou que havia nascido por aqui. “Vamos comigo. Levo vocês até lá.”

Ao desembarcar em Santa Rita, no dia 17 de abril de 2009, Lauir e sua filha foram até a pracinha da Rua da Pedra e pediram um lanche ao Zé do Trailer. “Ganhamos três lanches. Um para cada uma de nós e outro para os cães.” A mesma cordialidade não encontraram no albergue, já que a política era não aceitar mulheres. Não havia saída. Seria preciso dormir em um palco montado na praça.

Enquanto dormia no coreto, Lauir foi surpreendida, num dia frio, com a presença de um policial e de uma assistente social. “Venho da parte do meu superior pedir que vocês vão embora de Santa Rita. Ele mandou dizer que vocês não são bem-vindas aqui. O que a assistente social não contava era que Danlary era bem informada e respondeu no mesmo tom: “Não é porque estamos na rua que vocês estão lidando com pessoas ignorantes. Vivemos em um país democrático e temos o direito de ir e vir. Se vão nos prender, queremos saber qual é a acusação.” 

Algumas pessoas que passavam pelo local perceberam o movimento e tomaram as dores das moças. Para resolver o problema, cederam suas casas por alguns dias, até que elas conseguissem moradia. “Enquanto minha filha dormia dentro das casas eu ficava com os cães do lado de fora. Eles tinham nos acompanhado até ali. Não poderia abandoná-los naquele momento.” – relata Lauir.

De abril até novembro, as moças tinham uma casa alugada através de mobilização popular e viviam de bicos. No final do ano, Danlary conseguiu seu primeiro emprego na cidade, em uma videolocadora. Na mesma época, os Vicentinos ofereceram uma casa nas proximidades da Linear e tudo começou a dar certo. O pior passou.

Para levar sustento ao lar, Lauir tomou conta de uma senhora enferma por um ano e meio, trabalhou alguns meses na Fênix e vendeu doce de leite nas ruas, até aprender com os seus amigos – os moradores de rua – uma profissão que viria a desempenhar muito bem: a coleta e venda de materiais recicláveis. Atualmente, Gaivota pode ser vista na cidade com uma carrocinha onde carrega latinhas, garrafas pet, papelão e outros tipos de sucata. Com o dinheiro que arrecada, é possível pagar os exames de sua filha, grávida do segundo filho, e manter as contas em dia.

Sempre com um sorriso estampado no rosto, esta heroína sonha em conseguir um carrinho melhor para realizar seu trabalho e tem realizado os preparativos para a chegada do próximo neto. “Eu conto com a ajuda dos Vicentinos que me fornecem uma cesta básica e me mandam algumas frutas nos finais de semana. Minha filha retornou à faculdade, mas precisou abandoná-la porque não tivemos condições. É um sonho dela poder trabalhar no auxílio de pessoas carentes. Todas as semanas, vou à beira do rio e reencontro os amigos que ensinaram a minha profissão e com quem convivo até hoje. Para mim é uma honra tê-los conhecido e tenho orgulho da minha trajetória. Através das dificuldades, amadureci sem nunca perder a fé. Não tenho raiva, nem vergonha. Deus está sempre na frente da minha vida e acredito que muitas conquistas ainda estão por vir.” – finaliza Lauir.

(Carlos Romero Carneiro)

Oferecimento:

quarta-feira, 2 de abril de 2014

A última lição que o meu pai deixou (Uma homenagem a Luiz Carlos Lemos Carneiro)

Quando era criança, fui com um amigo à loja do senhor Jovino Batista, enfiei um disco debaixo da camiseta e saímos correndo. O neto do comerciante, que trabalhava como balconista, nos reconheceu e ligou para a minha casa. Eu coloquei um boné para não ser reconhecido, troquei de roupa e fui lá com o meu pai. O rapaz agiu de uma maneira bacana: olhou bem para o meu rosto, virou para ele e disse que havia se enganado. Alguns minutos depois, o telefone da minha casa tocou novamente. Ele disse que ficou sem graça, mas que havia me reconhecido. “Vamos voltar lá.” – disse o meu pai.
Ao chegarmos à loja, meu pai tornou a perguntar se era eu e o vendedor balançou afirmativamente a cabeça. Ele pagou pelo disco e me disse: “Está vendo? Se você queria era só me pedir. Toma... o disco é seu,” Meu pai quebrou o disco na minha cabeça e me entregou para que trouxesse de lembrança. Em seguida, levou-me a um comissário de menores, que era nosso vizinho, para que tomasse providência quanto ao meu caso. Coincidência ou não, era o meu avô, Antônio Bernardino. Meu pai foi taxativo: “Quero que o penalize como achar melhor.”

Meu avô me pediu para sentar ao lado da cama e me deu conselhos, explicou o valor da honestidade e reprovou a  minha conduta. Naquele dia, fui educado de todas as maneiras. Meu pai, empregou a força. Meu avô, as palavras. 

Demorou para eu absorver o que havia acontecido. Por alguns dias, chegava em casa e meus pais se recusavam a falar comigo. Daquele episódio em diante conheci o valor do “nome” para a minha família. Eu soube o que significava uma reputação e passei a zelar por ela. Em resumo, aprendi da forma mais dura, o que era caráter e jamais tornei a tocar no que não era meu. 

As lições que o meu pai me dava eram sempre severas. Algumas me deixavam profundamente magoado e, ainda criança, não entendia de onde vinha toda aquela dureza. Quando chegou a adolescência, comecei a processar tudo o que vivi e a questionar o seu comportamento. Passamos um bom tempo afastados. Nenhum dos dois dava o braço a torcer.

Quando terminei a faculdade, voltei para Santa Rita e meu pai foi fundamental nos primeiros anos de vida adulta. Estava desempregado, minha mulher (na época, namorada) grávida e eu dependia das “mesadas” dele para comprar fraldas e papinhas. Nesse período, tomei um choque de realidade, fiquei um pouco azedo e comecei a aprender sobre a vida. Foi um processo doloroso e meu pai acompanhava de perto, ajudando no que fosse necessário. 

Em 2008, fundamos o Empório de Notícias. A ideia era apresentar textos construtivos, exaltar as personalidades locais e retratar a história. Não seria difícil. Eu colecionava jornais antigos desde a infância e meu pai era dono do maior acervo fotográfico – e cinematográfico - que a cidade já viu. Em todas as edições, sempre pedia ajuda e tinha em mente a sua aprovação. Será que ele vai gostar? Ele ficará orgulhoso se eu escrever sobre isso? Acho que será sempre assim.
Em uma das edições, meu pai seria o entrevistado. Eu não me sentia com liberdade para fazer perguntas sobre sua vida pessoal e Evandro Carvalho encarregou-se do trabalho, enquanto eu fotografava. “Luiz Carlos, muralha santa-ritense” – era o título. Ele ficou muito contente com aquilo, mas estava habituado com aquele tipo de coisa. Já havia concedido entrevistas sobre carnaval, sobre seus tempos de jogador profissional, sobre Sinhá Moreira e assuntos das mais diversas naturezas.

Enquanto meu filho crescia, eu começava a entender o meu pai e dar mais valor nos seus gestos. Ele e Gabriel eram agarrados. Não raramente, o moleque dava pulos nas suas costas e eu o repreendia por levar em conta que meu pai já não era tão resistente. Quando me tornei pai, uni os exemplos dele e de minha mãe e compreendi a importância da coerência, da atuação social, do interesse pelas raízes de nossa comunidade e da valorização das pessoas que estavam à minha volta.

Por incrível que pareça, a última lição que meu pai me deu, aconteceu em seu velório. Em momento algum tive coragem de adentrar o salão de eventos da Maçonaria. Meu irmão e minha mãe fizeram o mesmo. Eu sabia que, se o visse, teria uma fotografia dele que não gostaria de guardar. Pouco minutos após a chegada de seu corpo, inúmeras pessoas, de todos os bairros e camadas sociais, começaram a entrar. Cada uma delas remetia a um momento da minha existência com ele. Pouco a pouco, via figuras que estabeleceram conexões com tudo o que ele havia feito. Os primeiros a chegar foram seus amigos de futebol. Companheiros do Pouso Alegre, do Industrial, dos jogos de várzea e dos treinos dos veteranos vinham em grupos de várias gerações. Ao abrir o caixão, os soluços de Mazula me fizeram correr ao banheiro para chorar. Em seguida, foram chegando os moradores da Rua Nova e me lembrei das inúmeras vezes em que acompanhei meu pai nos preparativos para a Escola de Samba Sol Nascente, que ele ajudou a fundar, ou quando o time de seu grande amigo – o Samuelzinho – foi campeão invicto do campeonato da Liga. “Fiquei 3 campeonatos sem tomar um único gol” – dizia o meu pai com orgulho. Meus olhos marejaram quando chegaram os amigos do Bloco dos Democráticos. Meio sem querer, ouvia os comentários de que seria preciso colocar uma flâmula ou camiseta ao seu lado e aquilo me dava um baita orgulho. 

Minha imaginação corria, enquanto tentava conter as lágrimas. Eu via pessoas que nem imaginava de onde eram e me emocionava com tamanha demonstração de afeto. Onde ele havia conhecido todas aquelas pessoas? Teria filmado seus casamentos ou aniversários? Seriam amigos da rua ou talvez clientes dos seus tempos de refrigeração? Não tinha a menor ideia. Aqueles pensamentos eram, vez ou outra, substituídos por alguns comentários ao redor: “Ele era meu ídolo no Pouso Alegre (Quando o time sagrou-se campeão mineiro). Ainda criança, pulava o muro do estádio para vê-lo jogar”; “Quando caí de bicicleta, estava à beira da morte e ele me levou nos braços até o hospital.”; “Ele fez um apanhado das cenas em que meu falecido filho aparecia e me deu de presente.”; “Eu estou chorando por ele e ninguém imagina por que. Luiz Carlos me ajudou muito, sem nunca contar a ninguém.” Esta última frase lembrou-me do dia em que um homem chegou à minha casa com um saco de mandioca e disse: “Eu morava na rua. Ele montou uma casa pra mim e me deu uma geladeira. Agora que virei agricultor, venho trazer um agradecimento.”
Ouvi dezenas de histórias naquele velório. Soube que, ao ser anunciado durante a missa o seu falecimento, houve uma grande comoção e várias pessoas começaram a chorar. Em determinado momento, um rapaz da Assembleia de Deus chegou até mim para dizer o quanto estava grato por ele tê-lo ensinado a filmar. Aquela passagem me remeteu aos anos em que trabalhei como iluminador nas filmagens de casamentos. Em uma das cerimônias na Assembleia de Deus, gravávamos o casório da filha do pastor. O sermão foi tão longo que eu cochilei em pé e queimei a careca de um convidado. Ao sairmos, meu pai disse, aos risos: “Eu também já estava quase dormindo.” 

Eu esbocei um leve sorriso quando vi várias pessoas que meu pai havia botado apelido adentrarem, sem parar, aquele ambiente... Caçapa (que ele tratava com um filho), Xerife, Gaiola, Gentalha, Lambão e até sua inseparável cachorra, a Marmota (que batizamos de Nina) – estavam todos lá. Ele era mestre em botar alcunhas que se tornavam indissociáveis de suas vítimas. Centenas de pessoas na cidade tiveram os nomes esquecidos por sua causa e ele tinha orgulho disso.

No dia do sepultamento, a rádio Difusora fez um link ao vivo e prestou uma bela homenagem ao meu pai. Soube que várias pessoas ligaram lá para dar depoimentos. Na internet, centenas de comentários sobre a importância que ele teve em suas vidas começaram a surgir nos mais diferentes perfis. Aos poucos, diversas pessoas começaram a me adicionar como amigos, talvez por não saber (até então) que eu era filho dele. 

No salão da Maçonaria não havia espaço para tantas coroas de flores. Algumas pessoas me pediram para deixar filmar, mas não tive coragem de permitir. Quem sabe ele até gostasse da ideia, mas seria dolorido demais reviver aquilo. Ao chegar o carro funerário, na hora do sepultamento, as coroas de flores não cabiam. Seria necessário fazer mais viagens para depositá-las no túmulo. Na saída, havia um grande número de pessoas. Algumas que eu nem conhecia, choravam copiosamente. Em frente ao jazigo da família Carneiro, local onde foram depositados os restos mortais do meu bisavô Bernardino, do meu avô Antônio, da minha tia Cida, dentre outros parentes queridos, algumas homenagens foram feitas e seu último ato foi aplaudido pelos amigos e parentes que ali estavam. Em nome da família “Democráticos”, o Mill anunciou que seria feita uma homenagem a ele e o hino do Bloco foi tocado. Confesso que jamais ouvirei aquela música novamente sem lembrar-me dele. Jamil, nosso grande amigo e que trabalha no cemitério, também fez um bonito discurso e finalizou: “É a primeira vez que peço a palavra para dizer alguma coisa em um sepultamento. Ele era muito querido.” Quando colocaram o último tijolo - cena duríssima, diga-se de passagem - lembrei-me da cena em que aprendi a andar de Mobilette: ele pulou da garupa e me deu um impulso para que eu continuasse sozinho. 

No dia seguinte, o vazio. Eu abri os olhos, lembrei o ocorrido e pensei: “Meu Deus, aconteceu mesmo.” Na sala, seu computador estava montado sobre a mesinha, lá estava o DVD do casamento que havia gravado 6 dias antes e uma saudade que preenchia todos os cantos da casa. Enquanto tentava me recompor lembrei uma figura que eu estimava muito, a querida Alicinha Baracat, e imaginei como seria a entrevista que meu pai concederia ao desembarcar, mais leve e sem dores, do lado de lá. Com certeza contaria orgulhoso sobre a grande despedida que recebeu naquele 14 de março de 2014 e da alegria em ser tão efusivamente reverenciado por amigos que cultivou a vida toda. 

Ao juntar os fragmentos de sua partida e transformar em uma lição que carregarei pela vida, concluo que quero ser uma pessoa mais simples e cultivar tantos amigos quanto ele conquistou. Quero tornar-me mais útil e ser feliz pela realização dos outros. Jamais pensei que aquele homem, forte que era, fosse embora tão rápido, e percebo que a vida é curta demais para darmos valor ao que é pequeno. 

Agradeço muito a todos que, de uma forma ou de outra, prestaram homenagens e nos ampararam nos momentos difíceis. Para finalizar, uma frase que nunca disse: “Eu te amo, pai. Até algum dia.”

(Carlos Romero Carneiro)

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