sábado, 5 de abril de 2014

O poeta das gentes e da natureza (Por Ivon Luiz Pinto)

Como é complicado entender alguns dos mistérios que Deus coloca em nossa vida!  O nascimento de uma pessoa é recebido com alegria e festa. É a felicidade de comemorar o dom da Vida e a beleza de ser um ser único, insubstituível e irrepetível. Não haverá ninguém igual, mesmo que sejam gêmeos univitelinos. Nascemos para sermos únicos. A sabedoria popular diz que Deus fez e jogou a forma fora. E assim  entendemos e aceitamos. Na outra ponta da corda, no outro lado da medalha, está a morte, o fim da caminhada. Ela chega trazendo tristezas, insatisfação e choro. É difícil aceitar a morte. Parece que ela tem o sabor de traição e a gente pergunta com olhos vermelhos pelo choro e coração entristecido: Por que morreu? 
Ninguém pergunta ou perguntou porque a gente nasce. Nós olhamos o ato de nascer como função normal, com  entusiasmo, mas sem intimidade. Ali está um ser que vamos aprendendo a amar, a querer e a ter intimidade. São passos que percorremos no desenrolar da vida. Mas no momento do nascimento nada disso ainda existe. Por isso não interrogamos. Porém a morte nos surpreende numa caminhada de convivência e intimidade, chega quando já aceitamos a companhia e a convivência da pessoa. Por isso ela dói, mesmo sabendo, pela fé, que quem partiu está nos braços do Criador gozando da felicidade eterna.

Sentir saudades, sempre sentiremos, ter desejo de estar ao seu lado, sempre  teremos, mas o que consola, o que alivia a dor da separação, o que dá alegria e põe esperança no coração é saber que o tempo que vivemos juntos, o tempo partilhado no trabalho, no lar e nos lazeres, foi um tempo abençoado e intensamente amado. Assim foi para mim, assim é para vocês. 

Hoje, a saudade tem nome de Luiz Carlos Carneiro. É interessante notar a afinidade que ele teve com a paixão. Em tudo que fez ele colocou o selo forte da paixão. Parece que essa foi sua característica, sua norma, seu modo de vida. No esporte foi um grande goleiro, uma fera rápida debaixo das traves, perfeito e apaixonado, para alegria e segurança de seu time e desespero e raiva do adversário. Contudo, foi na fotografia que ele mais se distinguiu e dominou. Por trás de suas lentes poderosas ele se transformava e tinha ousadia, essa caraterística de todo artista. Via ângulos que nós mortais comuns não percebemos. Certa vez conversando sobre fotografia e filmagem ele disse que filme é uma fotografia em movimento e por isso tem que ter a mesma técnica e respeito aos princípios fotográficos.

Há pessoas que fazem poemas com palavras, e são interessantes, pois tem cadência e rima; outros há que fazem poemas com sons e são muito importantes, pois a música enleva a alma e aquece os corações. Mas há outras, e estas são as melhores, que fazem poemas com as imagens e retratam a alma e o coração, pois que falam de saudade. Luiz Carlos foi esse poeta. Mario Quintana, certa vez, disse que a morte não é importante, o que importa é viver, e o Luiz soube viver, muito, intensamente, apaixonadamente, e deixou sua marca em cada um de nós, quer seja por sua paixão ao futebol, quer pelos consertos de geladeiras, ou pelo apego ao DEMO ou pelas fotografias e filmagens.

Um amigo, João Paulo de Oliveira Neto, postou no meu face “Ninguém enxergou Santa Rita do Sapucaí tão bem como o nosso amigo Luiz Carlos. Com a ajuda das suas lentes e sua sensibilidade, ele deixou um legado inestimável para a memória cultural da nossa cidade. Certa vez flagrei o Luiz e sua big câmera sobre um tripé, captando o voo das aleluias  subindo o rio. Esse era o grande Luiz Carlos.”

Assim era ele, o poeta das gentes e da natureza.

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