sexta-feira, 9 de maio de 2014

No Dia Mundial da Dança, contamos a trajetória de Ândrea Falsarella

A primeira recordação que Ândrea Falsarella tem do mundo da dança vem de seus 3 anos, quando os pais a levaram para experimentar sapatilhas que seriam usadas em uma apresentação no jardim da infância. Mal sabia que, daquele dia em diante, aqueles calçados a guiariam pelos caminhos mais importantes de sua vida. 
Em meados de 1980, a recomendação de um ortopedista para uma correção nos joelhos fez com que a garotinha integrasse a primeira turma de ballet para crianças, criada pela professora Vera Lúcia Martinez. As aulas aconteciam no terraço do Edifício Santa Rita. Algumas cadeiras era usadas como barra, as vidraças do salão de festas improvisadas como espelho e a paixão pela dança só aumentava. 

Ândrea vivia tão intensamente o mundo do ballet que era levada pela “Tia Verinha”, como ficou conhecida, para as aulas na vizinha Pouso Alegre. A bordo de uma Fiorino, a menina ia contando as curvas da estrada e ensaiava mentalmente os passos que daria como bailarina em uma apresentação que aconteceria em setembro.

No dia do grande espetáculo, o teatro da ETE estava repleto e chegava o momento de Ândrea se apresentar. O piso de madeira, entretanto, fez com que a menina vestida de formiguinha escorregasse e se lembrasse de uma valiosa lição de sua mestra: “Se cair, levanta, sacode a poeira e dá volta por cima”. Foi o que ela fez. A plateia adorou quando viu a menina bater o pó do vestido, ajeitar as anteninhas e continuar dançando. 
As palmas fizeram com que ela se sentisse cada vez mais segura da dança e do que queria fazer da vida. Aos 7 anos, quando alguém perguntava o que queria ser quando crescesse, não hesitava: “Quero ser professora de dança. Não vou dançar para companhias porque quero ter filhos” – e as pessoas ficavam surpresas com seu desembaraço.

Do collant rosa dos bebês, Ândrea conquistou o direito de usar o azul marinho das bailarinas mais velhas e evoluía sua técnica a cada dia. As aulas, agora, aconteciam em um salão sobre o fliperama do Waltinho, em uma das casas demolidas da praça. 
Em 1982, Verinha mudou-se para Volta Redonda e a menina de oito anos ficou órfã de professora, até conhecer um dançarino chamado Sérgio, com quem começou a aprender jazz. Naquele período, recebeu inúmeros convites de seu amigo João Bosco e tornou-se figura constante nos famosos eventos sociais, frequentes na década de 80. 

Em sua primeira apresentação, em um daqueles bailes, um fato inusitado marcou a vida da dançarina. Seu pai tinha deixado um copo com whisky sobre a mesa, ela confundiu com guaraná e virou de uma só vez. Sorte que tinha acabado de dançar. Precisou ser levada às pressas para casa e só acordou no dia seguinte.
Com a volta de Verinha, em 1986, Ândrea recomeçou as aulas de balé. Aos doze anos, foi convidada para ser sua ajudante e auxiliava as crianças menores.

Em 1989, decidiu dar aulas de dança e, por um ano inteiro, teve apenas uma aluna, Alessandra Nassar. Com a febre da lambada pelo país, a professora aproveitou a alta procura e lotou uma sala oferecida por seu amigo Giovani De Franco, nos fundos da Clínica João Paulo II. Após o nascimento de sua filha, chegava a hora de dar uma parada e dedicar-se, exclusivamente, à Mayara.
Em pouco tempo, recebeu um “paitrocínio” e, em agosto de 1993, deu início à Academia de Dança Ândrea Falsarella. No final do ano, Ândrea criou uma apresentação para mostrar o rendimento das alunas e produziu um espetáculo chamado “A dança pelo mundo”. Os eventos ficariam muito concorridos entre os santa-ritenses e passaram a constar no calendário de eventos da cidade.
Se quando começou a lecionar sua sala era minúscula, a chance de expandir os negócios surgiu quando o fotógrafo Massaro emprestou o segundo andar de seu prédio com a intenção de atrair público para sua recém montada loja. Com um salão de duzentos metros quadrados, o número de alunos multiplicou-se rapidamente e Ândrea livrou-se do aluguel por um ano.

A vantagem de se ter muitos alunos era que os eventos também podiam ser maiores e mais bem produzidos. Isso foi notado durante o espetáculo “O Quebra-nozes”, em 1995, que proporcionou um show jamais visto em Santa Rita, até então. “Aquele foi um divisor de águas para nós. Desde então, deixamos de ter medo e passamos a sonhar cada vez mais alto. Foi uma época muito marcante para mim, principalmente porque tive  o meu segundo filho, o Pedro Henrique.” – conta Ândrea.
Uma incerteza econômica afetou o país durante a transição do Plano Real e a dançarina viu sua escola esvaziar. De 150 alunos, ficou com apenas um terço desse número e não conseguia pagar o aluguel. Corria 1998 quando Ândrea mudou-se para São Paulo onde conheceu pessoas importantes para o seu aperfeiçoamento. Nessa época, teve a oportunidade de estudar e trabalhar na Cia de Jaime Arôxa, frequentar aulas de ballet na escola de bailados do Teatro Municipal, participar de apresentações em emissoras de televisão e tomar parte do elenco de dançarinos do programa “Ligação”, da TV Gazeta.
A volta de Ândrea para Santa Rita aconteceu em 2003, quando decidiu cursar faculdade de Educação Física, em Pouso Alegre. Em menos de um mês, conseguiu emprego na FAI e passou a lecionar no Curso Aberto à Maturidade e na Aquanauta. Quando criou coragem de abrir novamente a Academia, a aposta foi tão certeira que sua escola foi inaugurada com 150 alunos. No evento de 2005, “Em ritmo de cinema”, os 984 lugares do Auditório da ETE não foram suficientes. “Muitas pessoas ficaram sentadas no chão.” Daquele ano em diante, foi necessário criar dois dias de apresentação, uma delas em benefício da Creche Santa Rita.

Atualmente, a Academia de Dança Ândrea Falsarella possui 240 alunos, sendo que 80 deles integram um projeto chamado “Associação Cultura Pró Dança”, que dá oportunidade de crianças conhecerem o mundo da dança, mediante pagamento de um valor mais acessível. 
O grande acontecimento de 2014 tem sido o retorno de Mayara, que estava estudando em Campinas, e a retomada dos trabalhos ao lado da mãe. O próximo espetáculo, intitulado “O Mágico de Oz” promete ser o melhor dentre todas as edições. “Minha filha leciona Jazz, dança de salão e balé. É a primeira santa-ritense com bacharelado em dança e sinto um grande orgulho disso.” - conta.

Ao fazer um balanço sobre a carreira, Ândrea emociona-se: “Eu não sou nada sem o apoio desta cidade. Devo muito aos pais dos alunos que acreditaram em mim. Sou uma pessoa muito realizada, profissional e pessoalmente. Estou no melhor momento da minha vida e fico muito feliz que a Academia esteja sendo tão bem classificada em eventos de renome internacional. É o retorno de um trabalho sério e que conta com o apoio inestimável de meus cola-boradores, Alex Ferreira, Mayara Falsarella e Maria Drummond, além da administração do meu marido Richard Carvalho.
(Carlos Romero Carneiro)

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