sexta-feira, 30 de maio de 2014

Santa Rita, no início do Século XIX (Por Côn. José Augusto de Carvalho)

Em toda a vastidão de terras a que se dava o nome de região do Sapucaí, com cerca de 500 alqueires em meio de ubérrimos sítios de elevações e várzeas cultiváveis, apenas um local estava sem dono e totalmente abandonado às margens de um insignificante veio d’água a que os primeiros habitantes (índios) deram o nome diabólico de Mosquito (o belzebu das escrituras). 
Na ocasião, aquela vasta região era ocupada por índios nômades vindos do alto do Sapucaí, em Itajubá ou da Vargem Grande (Brasópolis), onde civilizações eram plantadas ou tangiam para o oeste. Faziam apenas parada à beira da Lagoa do Bicho, onde esperavam outros bugres que vinham da Mantiqueira para com eles rumarem aos Campos de Caldas. Lá é que estavam seus últimos refúgios, para onde já tinham ido irmãos de raça e parentes que se espalhavam além do Rio Cervo, já na praia do Melado (um dique formado por cascalhos e areias do Rio Dourado, após ser bateiado o ouro de aluvião); no Muro, em Santa Quitéria  (Ipuiuna) e na Água Limpa (Santa Rita de Caldas).

Subindo a serra, os doces e suaves índios Sapucaias deixavam para sempre as regiões da Mantiqueira e do seu querido rio Sapucaí. À margem esquerda do Sapucaí, entre Pouso D’Anta e Pedra Redonda (atual pedreira, na entrada da cidade) havia uma passagem obrigatória para as vargens do Mosquito e para quem desejasse ir além. Bem mais acima, em frente ao Pouso D’Anta (Fazenda Santa Rita, dos herdeiros de Benedito Rennó), havia o ponto dos barqueiros. Ali, alguns homens jovens e robustos, que buscavam a outra margem do rio, venciam a nado as águas correntosas, bem em frente à Lagoa do Bicho, quando o tal riacho caía no Rio Sapucaí.

Mais para cima, na barra do ribeirão das Antas, havia o ponto das canoas, onde, por volta de 1835,  mais ou menos, foi construída a primeira ponte de madeira ligando o Pouso D’Danta ao primitivo arraial de Santa Rita. Tal ponte, no entanto, estava fadada a ruir-se com uma grande cheia, 6 anos depois, quando foi construída outra, além de uma reta do rio, um pouco abaixo da povoação. Mais tarde, em 1899, foi substituída pela ponte metálica, que caiu em 1981.

Com a primitiva ponte, abriu-se caminho para viajantes do sul e do oeste à procura de um oásis de paz, em meio ao sertão das Gerais. Quem seguisse a leste do Ribeirão do Mosquito, forçosamente era encaminhado para a região da Capituva e, mais além, para a Mantiqueira. Ao norte, atravessando o Vintém e subindo a serra do Mata Cachorro, bem no alto, se descortinavam planaltos, planícies e vargens das regiões do Turvo e, além, de Volta Grande (Careaçu), na época um arraialzinho com pinta de freguesia (do tempo de D. João VI).

Ao oeste, um pouco abaixo da barra do Vintém, no Sapucaí, havia outro ponto das canoas ou vão das boiadas, a caminho do Pouso Alegre do Mandu, já então uma robusta vila onde um padre era o chefe municipal e, ao mesmo tempo, Vigário e Senador do Império do Brasil.

Ao noroeste, estava a Serra da Manoela que, atravessando-a de ponta a ponta, bem no norte estava Santa Catarina (Natércia). Desta última localidade, um dia ali chegou, parou quase nada e partiu por volta de 1820, uma família de portugueses que veio residir entre os ribeirões do Vintém e do Mosquito, fundando um arraialzinho encantador que, mais tarde, seria a mais sorridente cidade do Vale do Sapucaí. 

Houve um tempo em que os desiludidos do ouro e das pedras preciosas retornaram em massa à lavoura e à pecuária para o sul, nas regiões ribeirinhas do Sapucaí. Nesse momento, apenas as áreas de mais ou menos 1200 alqueires de terras, entre os ribeirões do Vintém e do Mosquito, sendo este último até o sítio das Capituvas (Capituva Nova, porque a velha era a Vila, hoje Pedralva), viviam abandonadas e delas se contavam lendas fatídicas de peçonhas, cobras e animais selvagens, além de monstros residentes nos riachos e nas lagoas às margens do Sapucaí. Fica para uma outra história

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