segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Um exemplo de imaginação política (Por Salatiel Correia)

O som de João Gilberto, com aquela voz doce e superafinada, ganhava o mundo afora. Nara Leão se tornava a musa inspiradora dos jovens abastados da zona sul carioca. Florescia com toda força o cinema novo de Glauber Rocha, que adquiria respeitabilidade internacional. Na arquitetura, a força expressiva de Oscar Niemeyer moldava os tempos modernos que chegavam entre nós. Pintores, escritores e escultores expressavam-se num ambiente altamente favorável. No futebol, o Brasil conquistava, pela primeira vez, o título mundial. No tênis, Maria Ester Bueno saiu vitoriosa daquele que é considerado o mais importante torneio do planeta: Wimbledon. Essa era a face mais visível de um país que construía a passos acelerados sua identidade.
Estradas rasgavam os sertões do país integrando o centro-sul - um Brasil que o Brasil ainda não conhecia. Usinas hidroelétricas eram construídas, não só tirando milhões de brasileiros da escuridão, como sustentavam nossas indústrias, assim, impulsionando o São Paulo moderno. E, então, o país crescia economicamente a taxas comparáveis às da China de hoje.

O sonho acalentado desde os tempos de Dom Pedro II se tornava uma realidade. Nascia uma nova capital incrustada no coração do Brasil e que integraria os quatro cantos do país. Estávamos nos tempos daquele que é considerado o mais empreendedor presidente que o Brasil já teve: Juscelino Kubitschek de Oliveira. As coisas boas não acontecem por acaso. Por trás delas, existe um rigoroso planejamento alicerçado pela vontade política de fazer - e JK fez!

Para tanto, ele se cercou de gente de primeira qualidade. Não ligou para clientelas tão arraigadas na nossa cultura política. Criou uma estrutura paralela e com esta governou. Tudo gente de primeira qualidade e léguas distantes dos aduladores. O desenvolvimento do Brasil não se deu só na dimensão econômica, mas também cultural. 

Nos tempos em que governou o Brasil o marido de dona Sara, o país vivenciou a fase mais visível que alimenta seu corpo - energia, transportes, a nova capital - mas também se impregnou da fase mais invisível que alimenta a alma humana: a cultura. As coisas boas não acontecem por si só; elas são o resultado de planejamento, vontade política e muita imaginação.

É a imaginação política que conduz por caminhos incertos as sociedades que têm visão e lide-rança para conduzir o processo de desenvolvimento. Visão para enxergar mais adiante, liderança para encantar seguidores.

Um belo exemplo de uso da imaginação política aconteceu recentemente em Santa Rita do Sapucaí com o advento da Cidade Criativa, liderada pelo competente vice-prefeito e ex-diretor do Inatel, professor Wander Wilson Chaves. Ao corpo do desenvolvimento santa-ritense, expresso pelo seu respeitável polo de eletrônica, agregou-se a alma emanada da Cidade Criativa. Puro exercício de imaginação política. Palestras, peças teatrais e shows trouxeram uma dimensão humana para o processo de desenvolvimento local.

Processos dessa natureza se tornam ainda mais sustentáveis quando são resultantes da vontade política emanada pelo poder público. Vontade política que vai além do trivial da construção de praças e estradas, pois agrega à alma dos cidadãos a descoberta de si mesmos a partir da cultura. Que a Cidade Criativa se torne um acontecimento corriqueiro, na terra de Sinhá Moreira, como é a festa de Santa Rita. Acontecimentos como o Cidade Criativa vão sempre em busca da transformação do homem pelo homem por meio do que realmente alimenta e torna a vida neste mundo merecida de ser vivida: a cultura.

(Salatiel Correia é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Planejamento Energético. É autor, dentre ou-tras obras, do livro Tarifas e a Demanda de Energia Elétrica)

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