sábado, 31 de janeiro de 2015

Opinião: Lamento (e sentimento) no Morro

Estava finalizando a Edição 85 do Empório de Notícias quando senti um delicioso cheiro de carne de porco, que exalava do outro lado da rua. Vinha do bar do Dija, o glorioso Dija Gastronomia, que preparava um lombo com feijão tropeiro, digno dos melhores restaurantes do país.
Atravessei a rua e encontrei no bar um movimento incomum. A freguesia também era um pouco diferente da formada por alguns dos caras mais bacanas da cidade que, diariamente, travam discussões acaloradas sobre Lacerda, Brasil Império e que passam horas tentando lembrar o nome da filha do Getúlio. "Ivete!" - Gritou Djair.

Depois da primeira cerveja, liguei as peças. Notei que aquelas pessoas que não via há tempos, faziam parte de algo que me trazia profundas lembranças. Tratava-se de foliões dos Democráticos que chegavam ao morro do Zé da Silva, o que me fez lembrar do meu pai, do meu avô, do senhor Hugo, do meu amigo Marcelo, da estimada Dona Lydia e de tantas figuras que traziam vida e alegria ao bairro.

O morro nunca mais foi o mesmo sem eles. Tatau estaria fazendo alguma piada entre os boêmios. Meu pai deveria estar correndo de um lado pra outro com fios enrolados nas mãos. Possivelmente, Marcelo estaria acendendo foguetes com uma bituca de cigarro, na esquina do Grupão. Seu Hugo não esconderia o choro.

A rua ficou apinhada de foliões com camisetas pretas, antes do anoitecer. Um carro de som ousou tocar o hino do bloco e vi os olhos de muitos foliões marejarem. Olhei para a janela de casa e vi minha mãe soluçar enquanto Carlos Brejeira prendia os cordões da faixa em um suporte que meu pai deixou. "Está tudo pronto. É só encaixar." - Ele disse.

Quando tocou "bandeira branca" vi aquele morro vivo novamente e pensei: "Por que deixamos que a prefeitura destruísse a nossa tradição?" Entra gestão e sai gestão e vejo o maior patrimônio cultural do povo santa-ritense se transformar em joguete político. Não temos muita escolha. Os tempos são outros. Precisamos de apoio e se decidirmos descer a praça, não teremos suporte porque, para alguns, é muito bom que os blocos desfilem como uma parada militar em uma avenida curta, em frente a arquibancadas de rodeio.

Quando descíamos do morro, era uma diversão para nós. Partíamos da rua mais tradicional e contornávamos o ponto zero da cidade, o lugar mais democrático, a praça Santa Rita. Não foi Castro Alves quem disse que "A praça Santa Rita é do povo, como ó céu é do avião?" Da avenida, não estamos em nosso território. Somos muito mais uma peça no tabuleiro do populismo do que mantenedores de um ritual que poderia perdurar por anos.

Ontem, eu vi muito mais gente madura, do que nova. Este hiato causado pela falta de apoio a uma tradição iniciada por nossos avós e bisavós pode ter feito com que os blocos passassem a respirar com ajuda de aparelhos. Portanto, não posso deixar em branco minha decepção por tamanha insensibilidade de nossos governantes. Não falo dessa, ou de outras gestões em particular, mas de todas, sem exceção. Desde que decidiram deformar nosso ritual em nome de um suposto conforto, o projeto mais genuíno de todos foi condenado. Se não voltar ao que era antes, a tradição vai ser interrompida e quando as futuras gerações olharem para trás e perguntarem porque o carnaval de rua acabou, devem saber a verdade.

Portanto, meus caros, se queremos contribuir para que Santa Rita seja realmente uma "Cidade Criativa", devemos empreender novas ações, mas nunca nos esquecermos da mais tradicional de todas: os nossos antigos carnavais. Saudações Democráticas.

(Por Carlos Romero Carneiro)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Uma santa-ritense e sua paixão pelo skate (Danlary Tomazini)

Depois de uma semana com desencontros e muita chuva, saímos a procura de Gabriele, pela vizinhança. Para nossa surpresa, todos com quem conversamos do Beco da Creche até a Rua Nova, onde mora, sabiam de quem se tratava. Ao chegar sem aviso em sua residência, encontramos uma família bastante hospitaleira, e uma garota amável, porém, um pouco receosa com a nossa entrevista. Extremamente tímida e delicada, ela poderia ser mais uma adolescente que, aos 15 anos, divide o tempo entre os estudos, os dedilhados no violão e coisas típicas da idade, não fosse por uma paixão: o skate. Acostumada a praticar atividades esportivas desde pequena, quando estava com 12 anos sua turma da escolinha de futebol, no Alcidão, parou de frequentar os treinos e ela sentiu a necessidade de escolher um novo esporte. “Eu não consigo ficar parada”, disse Gaby, e foi aí que teve a ideia de pedir um skate para a mãe. Na companhia do padrasto, Humberto, também skatista, começou a frequentar a pista na Beira-rio e não parou mais.
De lá para cá, Gaby evoluiu bastante sua técnica e, em junho desse ano, motivada por seu primo Breiner, participou de sua primeira competição, o “Circuito The Point de Skate” na cidade de Cambuí. Ganhou em primeiro lugar na categoria Feminino, onde concorreu com mais três garotas do Sul de Minas.

Aqui na cidade, entre as mulheres, ela é veterana. A prática do skate chegou a Santa Rita em meados dos anos 80 e, desde então, era praticada quase que somente pela ala masculina. Outras garotas já se aventuraram antes, mas todas abandonaram logo. Gaby é a única que continua firme. “Muitas meninas têm vontade de andar, até me pedem para ensinar. Mas todas têm medo de cair, de se machucar. No skate isso é inevitável, tem que ir sem medo”, explica ela que, quando anda, demonstra uma incrível desenvoltura e tranquilidade nas manobras. 

Gaby conta também que sofre alguns preconceitos. Muitas pessoas ainda enxergam o esporte como inapropriado para meninas e, frequentemente, é alvo de más línguas. Mas isso não a abate e, com o incentivo da mãe Sidnea e demais familiares, ela afirma que se sente muito bem quando está andando e não pretende parar.

É com determinação que expressa também a vontade de se profissionalizar, o que só não ocorreu ainda, pois, segundo ela, apoio e patrocínio são difíceis de se conseguir na cidade, tanto por parte da prefeitura, como pela falta de uma loja especializada em produtos do ramo que, geralmente, são as responsáveis por auxiliar esportistas do gênero.

Ainda esperamos ouvir muito o nome de Gaby. Mais um talento com que a Rua Nova presenteia a cidade. 

(Por Danlary Tomazini)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A viagem e as lutas de Kesato Ueta: de Kochi-Ken a Santa Rita do Sapucaí

Kochi-Ken é uma cidade japonesa localizada no sul da ilha de Shikoku, de frente para o Oceano Pacífico. A região é famosa por possuir alguns dos rios mais limpos do país, como o Shimanto, que corre na parte ocidental da província, descendo pelo Monte Ishizuchi, até a Baía de Tosa. 

Nascido em 1940, Kesato Ueta é filho de agricultores daquela região e passou a infância toda brincando naquelas águas cristalinas, escalando suas verdes montanhas e ajudando sua família na lavoura.
Das lembranças que carrega da II Guerra, Kesato recorda-se de poucas. A mais marcante é da recomendação que os adultos faziam às crianças para não usarem chapéus brancos, o que poderia facilitar a identificação pelos aviões inimigos. Como estava longe dos grandes centros, Kochi-Ken não foi bombardeada. Os únicos efeitos foram o racionamento de comida, a falta de energia elétrica e a dificuldade para comprar peças metálicas.

Seu pai, Mituyoshi, sempre gostou de lidar com máquinas, aptidão que transmitiu ao filho. Em sua aldeia, o lavrador era o único que tinha um rádio, fato que atraía a atenção da vizinhança. Quando cresceu, o garoto aprendeu a consertar tratores, automóveis e outras máquinas, conhecimento que lhe seria muito útil no futuro.

A situação na província não era das mais promissoras, quando Kesato soube que havia oportunidade de trabalho nas lavouras brasileiras e decidiu arriscar tudo no novo mundo. Com apenas 137 dólares no bolso, o rapaz embarcou no navio Sakura Maru, em setembro de 63, com destino à cidade paulista de São Roque, onde teria emprego por um ano.

Após 35 dias de viagem, o navio desembarcou no Porto de Santos com um bom número de imigrantes. Para Kesato, entretanto, as dificuldades estavam apenas começando. O japonês não conhecia uma única palavra de nosso idioma e tinha dificuldade até para dizer que estava com sede. Quando terminou o contrato, período em que trabalhou na lavoura, foi preciso cair no mundo e encarar uma série de desafios. Separado por uma língua completamente diferente, teve muita dificuldade para se locomover, lidar com pequenas negociações ou realizar entrevistas de emprego.

Depois de muito sufoco, Kesato conseguiu trabalho na empresa Alpha Romeo e, além do baixo salário que recebia, ganhou algo que carregaria por toda a vida. Foi na linha de montagem da empresa francesa que um conterrâneo que o chefiava passou a chamá-lo de Napoleão, alcunha que o identifica até hoje. Em 1970, ao ser batizado para que pudesse casar com Emiko, uma brasileira descendente de japoneses, foi a primeira vez que o apelido constou em documentos oficiais. 
Ao terminar o contrato de 5 ou 6 meses com a indústria automobilística, Kesato passou a atuar na cidade de Mauá, bem na época em que a empresa fechou. Sem alternativa, foi convidado por um freguês a vir buscar serviço no sul de Minas e acabou aceitando. 

O japonês chegou em Cachoeirinha no início da década de 80 e, por 2 anos, trabalhou em uma plantação de arroz. Em busca de um trabalho que oferecesse melhores condições, veio para Santa Rita e bateu na porta de todas as oficinas que encontrou, sem obter sucesso. Como nada em sua vida veio de maneira fácil, decidiu abrir uma oficina na Várzea e passou a contar com a sorte para conquistar os primeiros clientes.

No início, a situação era difícil para Napoleão. As pessoas ainda não o conheciam, não tinham confiança em seu trabalho e levou certo tempo para que descobrissem o quanto era talentoso e confiável. Depois de alguns meses, sua oficina tornou-se disputadíssima e era preciso agendar com grande antecedência para realizar um reparo. 

Apesar de reservado, o japonês tornou-se muito estimado pelos santa-ritenses que fazem questão de cumprimentá-lo quando o encontram pelas ruas da cidade. Com a enfermidade de sua esposa, Kesato fechou a oficina e, sempre muito solícito, passou a cuidar dos serviços domésticos e dar a atenção de que ela tanto precisava.

Ao fazer um balanço de sua vida, desde que abriu a oficina, em 1985, Napoleão diz que sente grande admiração pelos santa-ritenses, por ter sido acolhido com carinho e consideração. Ele conta que, apesar de não ter nenhum contato com os parentes no Japão, espera poder retornar à terra natal e rever as águas que o marcaram na infância. “Em 2003, recebi uma carta de uma sobrinha. Ela avisava que minha mãe havia falecido e solicitava minha assinatura para dar prosseguimento ao inventário”. – conta o mecânico, que ainda carrega um forte sotaque.

Para finalizar, mandou uma mensagem a Santa Rita: “Gostaria de agradecer aos santa-ritenses pelo apoio. Quando caminho pelas ruas, muitas pessoas que não consigo reconhecer ou que mudaram de feição me cumprimentam, mas não consigo me recordar de todas. Quero que saibam que tenho orgulho de viver aqui e de contar com a amizade de todos vocês. Muito obrigado!”

(Carlos Romero Carneiro)

Oferecimento: Imobiliária Oriente

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Infância em Santa Rita (Por Hermann Nass)

Nasci em Santa Rita do Sapucaí, uma cidade cercada por fazendas de café e de gado, situada nas montanhas de Minas Gerais. O Vale do Rio Sapucaí, que corta a cidade, é conhecido também como centro de formação e desenvolvimento nas áreas de eletrônica e telecomunicações. Hoje, Santa Rita é uma próspera cidade do interior, com cerca de 40 mil habitantes, com excelente ensino e qualidade de vida acima da média. 
Quando criança, eu brincava pelas ruas de Santa Rita com primos e mais primos. Minha avó era a matriarca de sete filhos, cada qual com sua prole generosa. A mais velha, Regina, tinha outros sete filhos; Aída era mãe de três garotos na minha faixa de idade; Joel e Oswaldo tinham dois filhos cada. Juntando com os três da minha mãe, Célia, dava uma garotada animada. Entre as brincadeiras prediletas da meninada estava pescar lambari ou passear às margens do Rio Sapucaí. A gente só não chegava perto do rio no verão, época de chuvas fortes e abundantes. Os mais velhos nos contavam histórias trágicas de trombas d’água terríveis, que arrastaram gente e destruíram casas e pontes. Os raios também eram assustadores. Tínhamos medo e ficávamos aninhados perto da vovó Helena, como pintinhos protegidos pela galinha. A luz sempre acabava e ninguém se mexia. Pegar em metal, como faca ou panela, nem pensar! Atraía raio.

Quando a tempestade passava, era hora de conferir os estragos. O mercado velho sempre inundava, tanto que acabou sendo demolido e reconstruído em um lugar mais alto. Mesmo assim, a chuva desse começo de ano também atingiu o novo mercado, além de grande parte da cidade que surgiu lá na “vargem”, às margens do rio cor de calda de chocolate, bem naquele lugar onde nós gostávamos de brincar quando crianças.

(http://fiapodemanga.blogspot.com.br)

Opinião: À espera de um milagre

Estava lá Sinhá Moreira, lendo os posts do glorioso grupo Povo de Santa Rita, vendo todo mundo reclamar que a cidade não tinha nada (Oh céus! Oh vida! Oh azar!) e pensou: vou criar uma escola! Ela desligou o computador e procurou pessoas que a ajudassem no projeto. Daí podem pensar: "Mas ela era cheia da bufunfa! O pai era banqueiro!" Mas quem pode negar que ela teve iniciativa? Com o professor de Itajubá, José Nogueira Leite, foi a mesma coisa. Ele passava horas jogando Candy Crush no seu iPhone quando teve a ideia de criar uma faculdade de engenharia. "Eureka!" - parafraseou Arquimedes! Como o pessoal de Itajubá curtia, comentava e compartilhava mas não agia, ele veio para Santa Rita, procurou a Sociedade dos Amigos da Cidade (quem participa?) e o Clube Feminino da Amizade e fundaram o Inatel. Uau! Instituto Nacional de Telecomunicações! Sonharam alto! 

Se Santa Rita teve, um dia, um hospital modelo, não pensem que foi obra do divino. Por lá passaram figuras como José Palma Rennó e Dona Conceição Rennó, também membros do glorioso grupo "Povo de Santa Rita" que ouviram as reclamações e partiram para o front! Dona Conceição, por exemplo, ia apagando todas as lâmpadas do hospital no final do expediente e até bordava as roupas de cama quando chegava em casa! Ela era rica, podia ficar em casa vendo Maria do Bairro, mas não esperava as coisas caírem do céu. Hoje, um outro grupo de pessoas vem queimando fosfato pra tentar descobrir uma forma de impedir que tenhamos que correr para Pouso Alegre quando precisarmos curar uma unha encravada. Cada um desses voluntários sabia que quando assumisse o rojão, um tanto de gente iria reclamar, jogar pedra na Geny, dar tapa na pantera, mas houve coragem para chamar a responsabilidade e manter o prédio em funcionamento.

A relação que existe entre a votação expressiva que Aécio Neves teve em Santa Rita e todas as obras empreendidas no Vale da Eletrônica, é que quem fica esperando o estado prover tudo são os cozidos e não os empreendedores. E nós somos empreendedores, não somos? Portanto, homens de pouca ou muita fé, se foi importante promover a cultura através do Cidade Criativa (que não é uma iniciativa da prefeitura somente, mas de todas as instituições da cidade), devemos olhar para outros pontos onde há carência de nossa contribuição e nos mobilizarmos em benefício do município. "Poupar o fôlego pra esfriar a sopa." - como dizia o reconhecido doutor Muela PhD. Se há outros pontos a ponderar, porque não nos mobilizarmos nessas causas, como essa turma que, ora trabalha pela cultura, ora pela saúde, mas que não fica à espera de um milagre?

(Carlos Romero Carneiro cutucou você.)

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Leucotron lança aplicativo que promete baratear a conta telefônica

Aplicativo grátis está disponível para Android e IOS e funciona como agenda alternativa para os usuários que desejam gastar 
menos e fazer a gestão da conta telefônica.

A Leucotron Telecom, empresa do Vale da Eletrônica que desenvolve soluções de telecomunicações, acaba de lançar o LigBarato. É um aplicativo grátis, disponível para Android e IOS (www.leucotron.com.br/ligbarato), que funciona como agenda alternativa para quem deseja ter menos despesa com celular.

As ligações para celular costumam representar um grande gasto para as pessoas comuns, e mesmo para proprietários de pequenos estabelecimentos, como lojas, consultórios médicos, escritórios de advocacia, clinicas de psicologia, entre outros. As chamadas para celular são as maiores vilãs das contas telefônicas, especialmente quando efetuadas para operadoras diferentes. Afinal, com a portabilidade dos números, ficou ainda mais difícil detectar de qual operadora é um determinado número de celular.

Há algumas soluções no mercado que buscam resolver esse embate, mas sempre com muitos contratempos: dificuldade de navegação, pouca usabilidade, cobrança por consultas adicionais, base de consulta desatualizada, aplicativo pesado, mudança na agenda original, desorganizando contatos que são sincronizados com contas de e-mail, Whatzapp, entre outras. Ao final, o que era para ajudar, muitas vezes, se transforma em um transtorno para o usuário.

O LigBarato nasceu a partir de estudos baseados em Design Thinking para suprir as deficiências das opções já existentes no mercado. É leve e fácil de navegar. Traz uma agenda alternativa e, para números que não estão na lista de contatos. O usuário pode realizar a consulta rapidamente e prosseguir a ligação. E, caso queira uma ajuda mais detalhada, há ainda a possibilidade de realização de levantamentos, em percentuais, dos contatos que a pessoa tem por operadora de móvel e de fixo.


Faça o download em www.leucotron.com.br/ligbarato (disponível para Android e IOS).

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

O coração de Dona Maria (Por Danlary Tomazini)

Em 1999, D. Maria acolheu a bisneta Manoela, com pouco mais de um ano e portadora de necessidades especiais. Em 2002, notícia inesperada: dois bisnetos que ela nem sabia da existência, estavam em um abrigo infantil em Campinas. Assumiu prontamente o posto de acolhê-los. Quatro meses se passaram, a papelada oficial transitava entre o fórum das duas cidades e, em uma quinta feira, recebeu o aviso. As crianças deveriam ser retiradas naquela tarde. Maria, que no dia anterior fizera um cateterismo, ignorou a ordem de repouso e foi buscar os pequenos Felipe de um ano e meio e Vitória de nove meses. Pouco tempo depois, Manoela não resistiu aos problemas de saúde e faleceu.

Em 2010, a história se repetiu. D. Maria tomou a frente da criação de mais dois bisnetos, João Pedro, 4 e Gabriel, 1. A essa altura, as pessoas, sabendo que D. Maria e a família viviam de modo simples e com certa dificuldade, chamaram-na de louca. “Deixa levar para o abrigo” um conhecido falou. Mas D. Maria diz que louco mesmo é quem acha que ela largaria sangue do sangue dela longe do amor da família. E não parou por aí. Ano passado recebeu o João Lucas que está com um ano e três meses. Maria não se arrepende de nada: “Foi Deus quem colocou essas crianças na minha vida”. Agora ela sonha em ver os bisnetos formados, sair do aluguel e finalizar sua casa para deixar um teto aos bisnetos e à filha mais nova, Aline: seu eterno braço direito que, afetuosamente, participa na criação das crianças, hoje já crescidas.

Maria Aparecida Silva de Barros, 75 anos. A menina que chamava Dona Marieta Capistrano de “Mãe Ota” e aprendeu com ela a religião e a importância de ajudar quem precisasse. Viveu em Santa Rita até os 21 anos e, apesar da educação conservadora que recebeu, recorda-se saudosamente dos bailes que frequentou no 13 de Maio. De volta a Santa Rita, quatro filhos, 10 netos e 22 bisnetos depois, talvez já não seja tão menina, mas mantém o sorriso, a alegria e, principalmente, o amor de menina. Amor puro e verdadeiro.

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quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Arquivos da Folha de São Paulo sobre Santa Rita

10 de setembro de 1982 – Mulher de Fernando da Gata pede ajuda
“Maria de Fátima Félix da Silva, 19 anos, mulher de Fernando da Gata – e seu filho, Vítor, de 7 meses, estão em São Paulo. Ela procura um emprego, com o qual espera sustentar a criança e reconstruir a vida. Fátima afastou-se do filho apenas uma vez, quando esteve presa na Delegacia Seccional de Osasco.

Apesar de ter sido espancada, algemada e arrastada pelos policiais dentro da sua casa, Maria de Fátima não se mostrou revoltada. Disse que um dos investigadores tornou-se seu amigo e que está tentando ajudá-la. ‘Tudo o que quero é um emprego, pois não sei roubar.” – desabafou.

‘Chegamos a Pouso Alegre por volta do meio-dia da sexta-feira. A cidade estava tensa e armada. Tive que preparar o leite do meu filho dentro do carro. Não tinha nada para comer. Todos estavam esperando Fernando. Um policial disse que ele aproximou-se, mas percebeu alguma coisa estranha e fugiu. Voltei para Osasco e dormimos em uma imobiliária porque, no tempo em que estive fora, policiais da Rota invadiram a minha casa e roubaram tudo, desde mantimentos e comida para a criança, até roupas.’ 

No dia seguinte, Maria ouviu pelo rádio que Fernando fora morto. ‘Queria ver seu corpo pela última vez, mas não pude.” Confessando ter vergonha de sair de casa, ela afirmou não estar disposta a se separar do filho. ‘Tudo o que eu passar, ele vai passar também. Só espero que não cresça com a mesma sorte do pai. Se isso acontecer, peço a Deus que o leve ainda pequeno.’”

5 de agosto de 2001 - Rodoviária

“Poços enfrentou muitas emoções. Era cidade acostumada com celebridades, diferenciada dos seus vizinhos. Tanto, que o locutor da rodoviária de Itajubá costumava anunciar a partida do ônibus para Poços assim: “Atenção passageiros com destino a Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre, Santa Rita de Caldas e Poços de Caldas, com todo o respeito.” (Por Luís Nassif)

11 de julho de 1983 - Wanda Cosmos
“Nascida em Santa Rita do Sapucaí, Wanda Cosmos começou a carreira artística aos 16 anos, em Belo Horizonte. A família não queria de jeito nenhum que ela fosse atriz, sonhava que ela estudasse advocacia. Aos 19 anos, mudou-se com a família para o Rio e acabou se formando em Direito, embora nunca tenha exercido a profissão. À noite, fazia teatro, escondido da mãe, no Serviço Nacional de Teatro.”

24 de outubro de 1983 - Sobre Heriberto...

“Por eu ser extrovertido. muita gente pensa que não sou mineiro. O Oscar, por exemplo, é de Monte Sião, no interior de Minas. É desconfiado, sério e adora o campo. No porta-malas do seu carro tem saco de linhaça, gaiola, alçapão, abóboras, rapadura... Com as enchentes em Minas, no início do ano, dois ou três bois morreram, vitimados por raios. Ele virou bicho, ficou quase louco de tanta preocupação. Sugeri a ele que mandasse colocar para-raio nos chifres dos animais. O Heriberto, mineiro de Santa Rita do Sapucaí e agora da Portuguesa, é como ele. Toda vez que visita a terrinha, ele deita entre os pés de café para vê-los crescer” (Por Getúlio “Gegê” – lateral do São Paulo)

29 de abril de 2001 - O Boêmio

“Aprendi ‘O Rancho das Flores’ em Santa Rita do Sapucaí, no curto semestre em que tentei ser técnico em eletrônica e voltei boêmio. A segunda parte da música permite um contracanto lindo com ‘Cidade Maravilhosa’, de André Filho.” (Por Luís Nassif)

26 de dezembro de 1994 - Sequestro

“Wilmar Antonio Nascimento, 32, confessou à Polícia o sequestro do estudante André Penido, 18. O estudante ficou em poder dos sequestradores quase duas semanas e foi libertado em Santa Rita do Sapucaí depois da família pagar 500 mil pelo resgate.”

31 de julho de 1982 – Tancredo

O senador Tancredo Neves, candidato do PMDB ao governo de Minas, visitou, ontem, Santa Rita do Sapucaí e hoje paraninfa a turma de formandos da Faculdade de Engenharia de Itajubá.

25 de julho de 1995 - Queda de avião
“Os corpos de Clarindo Antônio de Lima Júnior e de Paulo Sérgio Pataroto foram encontrados em Bragança Paulista junto aos destroços de um avião Cessna, desaparecido desde o dia 8. Eles partiram de Sorocaba em direção a Santa Rita do Sapucaí, onde fariam uma exibição de paraquedismo.”

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Antes de terminar o Técnico, foi aprovado em 3 federais

“A receita de sucesso de Tales Valias de Paiva”

O ano mal começou e muitos alunos que terminaram a ETE FMC em 2014, já estão em algumas das melhores faculdades do país. Um bom exemplo é o de Tales Valias de Paiva. Formado no Ensino Médio, em 2013, e no Técnico, em 2014 (por conta do estágio), matriculou-se, no ano passado, na UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei) e acaba de transferir-se para a UNIFEI (Universidade Federal de Itajubá).
Ao ser questionado sobre a preparação que obteve para o vestibular, ele conta que conseguiu se sair muito bem nas federais em que foi admitido (UFSJ, Unifei e UFLA) por conta da preparação psicológica que conquistou, enquanto esteve na ETE. “A escola nos oferece um conhecimento e preparação para, no caso de não saber uma questão na prova, ligar alguns pontos e interpretar a questão até chegar em um resultado correto.” – conta o antigo aluno.
Tales também credita à equipe docente e ao material didático comos importantes fatores para o seu sucesso nos vestibulares. “Os professores são muito atenciosos, com alto conhecimento das matérias lecionadas, e conseguem passar esse conhecimento para o aluno com facilidade.”

Ao relembrar sua trajetória até ser admitido em uma das melhores faculdades do país, ele diz que, no início de 2014, passou na UFSJ, através de seu desempenho no SISU (Processo Seletivo do Sistema de Seleção Unificada). A escolha aconteceu quando, ao pesquisar pela Universidade, soube que era 4 estrelas em Engenharia Elétrica e tomou conhecimento de sua grandiosidade. “Achei muito legal essa mudança, pois conheci pessoas de outros cursos e houve uma integração de conhecimentos. O meu estágio como Técnico em Eletrônica aconteceu em um laboratório de neurociência que tenta descobrir a cura da epilepsia, dentro da própria Universidade.” – relata Tales.

No meio do ano, o antigo aluno foi aprovado na UFLA, de Lavras, em Engenharia de Controle e Automação, também pelo SISU. Como já estava matriculado na UFSJ, preferiu continuar por lá até o final do ano, já que estava gostando do curso e queria terminar o estágio.
A decisão de transferir-se para a Unifei aconteceu quando foi aprovado através de um sistema conhecido como “Transferência Extra”. Como sua família vive em Águas de Lindóia, ele optou pela nova faculdade por ser mais próxima de sua cidade, além do fato da Unifei ser um curso 5 estrelas.

Para finalizar, perguntamos ao universitário se ele sente falta dos tempos de ETE. “Sinto muita falta. Foram os melhores anos da minha vida. Foi onde conheci muitos amigos; onde aprendi muita coisa, tanto do técnico quanto do médio; onde eu conheci os melhores professores e onde passei os melhores momentos com os meus amigos. Essas lembranças estão guardadas em minha memória e jamais serão esquecidas.” – completa.

Ainda dá tempo de se matricular na ETE FMC, em 2015

Para aqueles que ainda desejam estudar na ETE, já no início 2015, há duas formas de conquistar uma vaga. Há possibilidade de inscrever-se para o Processo Seletivo de Verão para os cursos noturnos, que acontece no dia 24 de janeiro, ou realizar a matrícula/transferência para o ETE Ensino Médio. Lembrando que, para os cursos noturnos, há a necessidade do aluno estar matriculado a partir do segundo ano do Ensino Médio, em qualquer escola. Os cursos técnicos noturnos têm duração de apenas dois anos.

Oferecimento:

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Dona Iracema e as lendas da Rua Nova (Por Danlary Tomazini)

Há muitos anos, uma das filhas de um imponente barão do café es-tava em um de seus dias não muito felizes. Ao ser sacudida por uma criança pobre, que lhe implorou por um pouco de leite, resolveu deixar a bondade de lado e lhe disse que “não”. A criança morreu desconfiada e o fato ficou na consciência da moça fina que, até o final de seus dias, não conseguiu aliviar o pesar da vida que se foi. 
Nos dias que se seguiram, procurou incansavelmente pelo menino para o leite oferecer. De vestido longo e branco, sombrinhas da mesma cor, com compridas correntes nos pulsos, tão longas que se arrastavam pelo chão, deixava, por onde passava, um som estridente e assustador. Foi assim que, eternamente, a moça de alma cansada, caminhou pelas madrugadas, nas ruas da Rua Nova.

“Eu vi com os meus próprios olhos e tem gente que não acredita! Até falam para as crianças que é mentira, mas eu não sou de contar história. Nunca bebi. Deus e Nossa Senhora sabem que sou mulher direita”. É o que fala Dona Iracema, ao terminar de contar cada uma das lendas de assombração que conhece desde mocinha. Todas acontecem ali, no morro da Rua Nova.

Iracema Araújo é uma das mais antigas moradoras do bairro. Aos 90 anos, já perdeu a conta de quanto tempo mora na mesma casa. “Foi aqui que criei os meus filhos. Acordava de madrugada, ia à fazenda dos Moreira ou ao morro do Cruzeiro, pegava um feixe de lenha e vendia na cidade para comprar pão e mortadela para as crianças. Eu subia aqui para deixar a comida e só depois ia trabalhar”. 

Viúva aos 23 anos, com sete filhos pequenos, veio de Brazópolis Dona Iracema e as lendas da Rua Nova tentar a vida, mas foi mais difícil do que esperava: “Até embaixo de árvore eu dormia com as crianças” - diz ela. Conseguiu emprego em algumas repúblicas, mas o dinheiro ainda era pouco, mal dava pra pagar o aluguel. Ela explica que vender lenha, antes do trabalho, era a única certeza de dar sustento às crianças. 

Ao ser indagada sobre uma série de personalidades que eternizaram o bairro, de forma festeira e criativa, D. Iracema lembrou-se de Samuelzinho. “Ele era meu amigo, sim... um conhecido. Sempre me quis bem e até me chamou, uma vez, pra ver o desfile da Sol Nascente. Mas eu não fui. Nunca vi um carnaval de rua. Casei muito cedo, enviuvei e tinha todos os filhos pra cuidar. Não dava coragem de fazer outra coisa. A gente vive prisioneira da vida, sempre no mesmo lugar.” Ao falarmos de Maria Bonita, o sorriso da D. Iracema apareceu pela primeira vez. “Ela era divina. Me ajudava muito. Trazia comida para os pequenos, me dava atenção, conversava. Uma vez, chegou com uns artistas de fora. Tiraram fotos minhas e das crianças para colocar num jornal não sei da onde. Fizeram isso pra mostrar como a vida era dura pra algumas pessoas, porque tinha gente que não acre-ditava.”, relembra ela. 

- E hoje, D. Iracema? A vida 
melhorou?
- A minha dificuldade não foi embora, mas o bairro está muito melhor. O povo se respeita, acabou aquela terra toda, não tem mais aquela coisa de negro e branco... ainda bem. Meus filhos, graças a Deus, tudo viraram gente. Entre netos, bisnetos e tataranetos já tenho mais de 160. Tá bom, né?”

Oferecimento:

BIBLIOTECA ITINERANTE DO LEMA

LAR ESPÍRITA MÃOS DE AMOR (1995 – 2015) - 20 ANOS
Empréstimo de livros e leitura para crianças.
 
Dia 25 de janeiro de 2015(Domingo)
Horário: 16:00  hs  as 21:00 hs.
Local: Praça Santa Rita, Centro.
http://larespiritamaosdeamor.blogspot.com.br

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Adir Canestraro e as curvas que a vida dá

Manejando a enxada, com pouca força no braço, trabalhava o menino de treze anos nas lavouras de milho e feijão. Com limitados recursos essa era a maneira que Adir encontrava de colaborar no sustento da família Canestraro. Da vida dura no campo, o rapaz magro e esguio tornou-se “meia colher” (nome dado os serventes de pedreiro iniciantes) e fazia de tudo um pouco. Quase sem estudo, era preciso correr atrás. Se um dia transportava sacos de cimento ou ajudava a assentar tijolos, no outro servia como ajudante de caminhoneiro e carregava carretas com lenha que partiam de Curitiba.
Ao 22 anos, Adir conseguiu emprego de motorista na construtora “Andrade & Gutierrez” e passou a transportar os operários durante a construção da Régis Bittencourt. Ao término da obra, integrou o comboio de caminhões Alpha Romeo que fariam a construção da BR-459. Foi nessa curva da história que cruzou com Santa Rita do Sapucaí, cidade que o marcaria para sempre. 

Chegada a Santa Rita

Quando a construtora se instalou na cidade, foram montados alojamentos com casas simples de madeira.O primeiro deles, em um terreno onde viria a ser tornar a Escola Estadual Sanico Telles, abrigava os construtores casados e suas famílias. O outro, nas imediações do Santa Rita Country Clube, dava guarida 
aos solteiros. 

Em companhia de Adir, operários que se tornariam conhecidos pelos santa-ritenses, foram trazidos para o início das obras. Modesto, criador da lanchonete que leva o seu nome e Girino dos Santos, que viveu na Rua do Rosário, foram alguns dos forasteiros, acolhidos naquela obra.

Entre um serviço e outro atrás da direção, Adir apaixonou-se por Iveta, integrante de uma família tradicional e Chiquito Garcia negou-se a aprovar o namoro da filha, até conhecer a família do pretendente.

Viagem a Curitiba

Lá se foram Adir e a família de sua futura esposa em direção a São Paulo, onde embarcariam rumo à capital paranaense. No guichê da rodoviária, o grupo foi abordado por um homem que dizia ser taxista e que toparia levá-los de carro, pelo preço das passagens. Eles aceitaram a oferta e partiram debaixo de tempestade em direção à “rodovia da morte”. O homem pescava, saía da pista, cochilava e deixava os passageiros cada vez mais apreensivos. Pressentindo que a história não acabaria bem, Chiquito Garcia soube que o homem estava naquele bate e volta, sem dormir, a mais de dois dias e se ofereceu para assumir o volante. “Passa pra trás e deixa comigo!” – sentenciou o santa-ritense. O taxista espremeu-se entre os passageiros, encolheu as pernas e só acordou quando o Mercury chegou à propriedade dos Canestraro, no exato momento em que o ônibus que rejeitaram passou.

O encontro foi bem sucedido e Chiquito aprovou o namoro. Em 63, aconteceria o enlace, quando as famílias se reuniriam para sacramentar a união. O que Adir não imaginava é que, em pouco tempo, a construtora iria enviá-lo a Porongaba (SP), ocasião em que deveria permanecer longe da esposa. Como se não bastasse, depois de seis meses o motorista foi notificado sobre uma nova viagem. Seria mandado para uma tal Transamazônica, sem opção de recusa. O motorista pediu as contas e mudou-se para Santa Rita, onde viveria dali em diante.
De mala e cuia

Em Santa Rita, o novo ofício foi de motorista da FEBEM. Naquele local deprimente, tomou contato com a realidade dura dos internos e presenciou cenas que não consegue apagar. “Ia sempre aos Correios buscar as correspondências e, na volta, era cercado pelos meninos que esperavam notícias da família. Não me esqueço do semblante triste quando a carta de algum deles não vinha. Era de partir o coração.”

Quando a instituição fechou, nos meados dos anos 60, vários empregados buscaram se recolocar, nas raras empresas locais. A oportunidade que Adir encontrou proporcionaria uma das experiências mais enriquecedoras de sua vida e faria dele muito reverenciado, nos anos que se seguiram. “Consegui emprego no Posto de Puericultura e aprendi tudo na prática. Não sabia aplicar injeção, nem executar os serviços e recebi orientações de amigos como Eugênio Grillo, Elza Julidori, Ofélia, Oswaldo Cruz e do farmacêutico, Ruy Carneiro Pinto.”

Um de seus dois filhos, Giovani Canestraro, conta que o pai fazia de tudo um pouco e que era responsável, inclusive, pela limpeza do Posto. “Ele botava eu e meu irmão, Rogério, para fazer faxina. Como pagamento, nos dava balas, doces ou um bauru no Modesto.”

Bom humor

Com muito bom humor, Adir tornava o ambiente de trabalho mais leve e, a todo momento, bolava algum tipo de brincadeira. Não rara-mente, botava bosta de cachorro em uma latinha e morria de rir quando o Sr. Ruy ficava surpreso com o resultado da análise. Nem sua nora, Dulce, escapava das piadas e ainda se lembra de uma de suas peças: “Ele me deu uma caixa de isopor enorme, escrito “Vende-se picolés” e pediu que eu pegasse um ônibus a Pouso Alegre para buscar medicamentos. Só quando vi colocarem uma injeção minúscula na caixa foi que descobri que não passava de brincadeira.” 

Sempre ativo e trabalhador, Adir comprou um ponto de táxi em frente aos velhos casarões da praça e passou a fazer corridas, nos intervalos do expediente. Quando instalaram um telefone para atender os fregueses, manteve o hábito de pregar peças nos amigos e ligou para seu vizinho de ponto, que correu para atender. “Alô! Aqui é da Embratel. Por gentileza, pegue o telefone com a mão esquerda e abaixe um pouco. Isso... agora levante o aparelho o máximo que puder e gire um pouco a cabeça. Muito bem...” Quando o companheiro de profissão tomou conhecimento de que era piada, ficou uma fera e não conseguia entender como foi tão inocente. 

Reconhecimento

Em 1989, um fato marcou a vida de Adir. Foi motivo de grande orgulho quando soube que foi eleito vereador na cidade adotiva, com expressiva votação. O período foi de grande aprendizado e muitas indicações foram feitas, enquanto nos representou, por duas gestões.

De lá para cá...

Entre uma sessão e outra, Adir usava seu fusquinha vermelho para dar aulas de direção e recorda, com meio sorriso, de sua primeira aluna: “Coitada! Não tirou carteira até hoje!” Como seu sonho era ter uma auto-escola mas, para isso, era requisitado o segundo grau, foi preciso sacudir a poeira e procurar se reciclar. Matriculou-se no Sanico Telles e completou o Ginásio; fez o Colegial por cor-respondência e realizou o seu sonho.

Aos 75 anos, o honorário santa-ritense credita à família o sucesso na vida e passa as poucas horas livres em um sítio na Cruz das Caveiras. Vez ou outra é requisitado na auto-escola, mas sabe que chegou o mo-mento de descansar. Em companhia de Iveta, com quem é casado há meio século, vive rodeado dos filhos, que demonstram um orgulho danado ao falarem do pai. Felizes e realizados, são herdeiros de um legado que o homem simples carrega: aprenderam que, através da honestidade, do amor e de muito, mas muito trabalho, conquista-se algo invisível, mas que não se pode mensurar o valor.

(Carlos Romero Carneiro)

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