segunda-feira, 16 de março de 2015

Quando soube do Capitão... (Por Danlary Tomazini)

Dia desses, um casal em um carro com placa do estado de São Paulo parou para pedir informação: “Você pode dizer como faço para chegar no bairro mais moderno da cidade?”. Percebendo minha cara de indagação, completou: “Meu filho veio fazer vestibular e achou tudo muito antigo. Tenho algumas horas para achar algo que o convença a ficar.” Se, para um jovem estudante, estar no Vale da Eletrônica não era moderno suficiente, o que poderia ser?
O céu límpido e a quantidade de histórias que preenchem cada canto da cidade é que me dão prazer de aqui estar. Encanta-me conviver com pessoas que dão cores às histórias e que se sentam prazerosamente à beira da calçada, para relembrar personagens que já me soaram estranhos, mas que, aos poucos, tornam-se tão queridos como se eu fosse nascida aqui.

Nada mais moderno que famosos ou anônimos que inspiram e fazem acontecer. Tome aqui, forasteiro, a labuta de D. Iracema; o ativismo de Maria Bonita; a dedicação da professora Paz; a integridade do Capitão Paulo, meu novo “conhecido”.

Certa manhã, eu passei alguns minutos na prefeitura olhando as fotografias por lá expostas. Demorei mais em Paulo Cunha Azevedo, o 25º governante da cidade, tentando associar a figura imponente de barba e bigode bem feitos com o homem que não tinha medo de pôr a mão na massa. Saía constantemente de seu gabinete para participar do andamento das obras, trabalhava nas pás e enxadas, até foi tratorista na construção da galeria de esgoto que começa na pracinha do Murilo e termina lá na ETE.
Com muita simplicidade, objetivo e disciplina militar, dirigiu tudo quanto pode em sua vida: o Colégio Sinhá Moreira, a carreira política, seus 10 filhos, o exercício da advocacia, e até mesmo a presidência do Ride Palhaço. Era apaixonado pelo carnaval. Gravou o hino do Ride para um dos desfiles e, enquanto esteve à frente do bloco, nunca permitiu que o mesmo se apresentasse fora da mais completa harmonia. Era ilustre o Capitão que, na verdade, foi reformado com a patente de Major, mas não se importou de preservar o já conhecido apelido – e sua memória continua brilhando.

Saí rapidamente dos meus devaneios e, na solidariedade materna, tentei abastecer aqueles pais desesperados com argumentos que satisfizessem o estranho perfil de modernidade que procuravam.

Falei tanto e esqueci-me de mencionar: eu também sou uma apaixonada forasteira.

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