terça-feira, 2 de junho de 2015

Resgate da história do Blues emociona Santa Rita do Sapucaí (Por Charles Tom)

Show com a banda Patronagens lotou o Teatro Inatel, e marcou o Lançamento da programação do Vale Music, festival de Jazz e Blues de Santa Rita do Sapucaí, que ocorre em 15 de agosto.

Com 2 horas de show, a banda santa-ritense Patronagens Band conseguiu o que parecia improvável: lotou o Teatro Inatel, com capacidade para cerca de 800 pessoas, e emocionou a plateia com canções desconhecidas para a maioria. ‘Uma Viagem pelo Mundo do Blues’ foi o nome do espetáculo, que aconteceu no último sábado, 30 de maio, em Santa Rita do Sapucaí.

A banda começou com a música Long John, emblemática na fase que antecedeu o blues. Eram os chamados worksongs, canções em coro, sem instrumental, que ditavam o ritmo dos escravos nas plantações de algodão e arroz no sul dos Estados Unidos. “Este tipo de música foi a base da música negra norte-americana. Deu origem aos Blues, ao Jazz e ao Soul”, conta Juliano Ganso, baixista do Patronagens.

Em seguida, veio a fase do Delta Blues, nome dado em referência ao delta do Rio Mississippi, onde o estilo foi se desenvolvendo. Tocaram St. Louis Blues, considerado o primeiro Blues da história, de W. C. Handy. Em seguida, Shake That Thing, de Mississippi John Hurt, e duas composições de Charlie Patton, Shake It and Break It e Spoonful Blues – todas elas datadas das duas primeiras décadas do século XX. “Os temas do início do Blues traziam em suas letras o lamento dos trabalhadores em relação ao trabalho escravo e aos maus tratos. E nas fases seguintes, começaram a abordar também a dança, que animava os bailes e era um dos únicos momentos de alegria dos escravos. É por isto que muitas composições traziam a palavra ‘shake’ (chacoalhar, dançar, em inglês) em seus títulos”, destaca Ganso.

Um dos momentos mais aplaudidos foi quando falaram sobre aquele que é considerado o Rei do Blues, Robert Johnson. Foi ele que trouxe ao estilo os famosos riffs, solos e levadas, que hoje são característicos. Diz a lenda, que Johnson teria ido a uma encruzilhada e feito um pacto com o diabo, que mudou a afinação do seu instrumento e o ensinou a tocar desta forma. “Ele gravou apenas 29 canções, entre 1936 e 1937, e morreu em seguida, aos 27 anos, vitima de envenenamento”, lembra Carlos Henrique Vilela, um dos organizadores. Desta fase, a banda tocou When You Got a Good Friend, com a ajuda do tecladista Ticiano Abreu, Crossroads, com a participação do guitarrista Luiz Fernando Bertoloni, e Sweet Home Chicago, com o gaitista Mark Dee, que acompanhou a banda em grande parte do show.

Em seguida, veio a fase do Blues de Chicago. Foi lá, na década de 1940, que o estilo se consolidou como parte da cultura popular norte-americana. Esta etapa marca a chegada da guitarra elétrica, e o surgimento de artistas como Muddy Waters, John Lee Hooker, Buddy Guy e B.B. King – considerado o maior blueseiro de todos os tempos, e que faleceu nas últimas semanas. Desta época, as canções tocadas foram Hoochie Coochie Man e You Shook Me, de Waters, Boom Boom, de Hooker, além de 3 gravações de B.B. King: The Thrill Is Gone, Guess Who e Riding With The King - esta última feita em parceira com Eric Clapton.

O Blues Britânico foi o tópico seguinte, retratado com duas composições da fase do Delta, mas que se tornaram popular em releituras de Eric Clapton, maior expoente do estilo no Reino Unido. Foram Before You Accuse Me, com a participação do músico Lucas Julidori, e Blues Before Sunrise, novamente com Ticiano Abreu nos teclados. Em seguida, a banda tocou Revolution, dos Beatles, para mostrar a influência do Blues no Rock and Roll dos anos 60. E aproveitando o gancho, entraram em um assunto controverso para os mais puristas: o Blues Rock. Para Tiago Abranches, guitarrista e vocalista do Patronagens, “seja Blues Rock, ou seja Rock com pitadas de Blues, é essencial ressaltar que os artistas dessa linha vem ajudando muito na popularização do Blues mundo afora”. Para demonstrar, tocaram Hide Away, de Freddie King, Pride and Joy e Mary Had a Little Lamb de Stevie Ray Vaughan e, com a participação do músico Alexandre Zamat, apresentaram uma versão de Soulshine, da banda Allman Brothers.

Para finalizar, fizeram algumas homenagens. A influência do falecido guitarrista Márcio Vilela, grande disseminador do estilo em Santa Rita do Sapucaí foi lembrada pela banda – diante de muitos aplausos. Em seguida, tocaram Mississippi, composição de Celso Blues Boy, gravada em parceria com B.B. King – um dos hinos do Blues brasileiro. O baixista Ricardo Amaral acompanhou a banda neste momento. Logo depois, com uma imagem de King apontando para o céu, ao fundo, homenagearam o maior blueseiro de todos os tempos com a canção que é, provavelmente, o maior clássico da música negra norte-americana: When The Saints Go Marching In. “King costumava fechar seus shows com ela – que, certamente por isto, foi tocada no seu funeral”, pontuou Ganso. Para o baterista Tiago Silvério, maior do que a emoção de levar ao público uma história que merece ser conhecida por todos, foi ser aplaudido de pé pela plateia. “Um momento inesquecível”, destaca.

O evento foi realizado pela equipe organizadora do Vale Music Festival, em parceria com as comemorações dos 50 anos do Inatel, e suporte da Goose Productions e do Inatel Cultural.

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