sábado, 12 de setembro de 2015

“Cidade Criativa, Cidade Feliz” e a nova revolução santa-ritense

Noite de 30 de agosto, Teatro Inatel, casa cheia. Para a comunidade santa-ritense, aquele espetáculo teatral não representava apenas mais uma entre dezenas de atividades que aconteceram no decorrer de todo o mês. Era o fim de um ciclo, o desfecho de uma revolução, a vitória final de uma batalha em que todos saíam vencedores. A peça Hair, que reuniu uma banda, um coral, um grupo de dança e uma companhia de teatro, ambos da cidade, foi o clímax de um projeto único: o Cidade Criativa, Cidade Feliz.
Open Music: Festival de Rock Autoral.
A Lira Santa Rita toca Jazz com Chico Ceará e Zé Helder.
Quando o espetáculo teve início, aqueles atores já não eram pessoas com quem convivemos no dia-a-dia. O que víamos eram personagens com uma energia tal, que pareciam possuídos entre luzes, sons e aromas. Como em um passe de mágica, Fernando Galinha Carneiro e seus amigos desapareceram para dar lugar a Berger, Claude e uma barulhenta tribo de hippies (ou happies) americanos, do final dos anos 60.
Musical Hair.
Auto da Compadecida.
Cinema no Pano leva a sétima arte a uma escola rural de Santa Rita do Sapucaí.
Ao final de espetáculo, quando fui puxado pelo braço pelo protagonista e levado à cena sem saber o que iria acontecer, pude ver a emoção da plateia que, petrificada, não cansava de aplaudir os artistas. Do alto do palco e da minha timidez, vi a emoção de Juliano Ganso Souza – baixista do Patronagens – e lembrei as conversas que tivemos nas semanas anteriores, quando ele contava alguns trechos dos ensaios e demonstrava grande emoção em tomar parte de um evento daquela natureza. Aquela, entretanto, não seria a única atividade empreendida pelo músico, naquele mês em que a cidade era incendiada pela cultura. Dias antes, havia ajudado a produzir a terceira edição do Vale Music, o Open Music, um debate filosófico com música ao vivo e grafite e o espetáculo “Desde que o Samba é Samba”, em parceria com o Bloco dos Democráticos.
Patronagens Band apresenta-se no Teatro Inatel.
Prefeito e Vice com suas respectivas esposas.
Saúde também esteve na pauta do Cidade Criativa.
Falando em “Vale Music”, festival de Jazz e Blues que traz, anualmente, alguns dos maiores nomes da música brasileira para espetáculos gratuitos, a edição deste ano me fez questionar porque os santa-ritenses gostam tanto de Jazz. A impressão é que quando instrumentos de sopro se misturam a cordas e à percussão, crianças e adultos entram em estado de graça e sentem grande satisfação ao experimentar aquele estilo pouco comum em nossas paragens. O meu palpite é de que havia uma tradição musical na cidade, desde o início do século XX, em que diversas corporações musicais dividiam o mesmo espaço e que permaneceu latente até ser despertada por eventos como este. 
Grafiteiros transformam um galpão em obra de arte.
Cinema no pano.
Crianças pintam o muro do Campo de Futebol.
Ao contrário do que se pode imaginar, a agitação de agosto não aconteceu apenas nos finais de semana. Os interessados em conhecer novas culturas tiveram acesso a diversas palestras e oficinas, como o Cinema no Pano que aconteceu em uma escola rural e o StartupZ, promovido no Inatel para que adolescentes das escolas da cidade colocassem em prática sua capacidade empreendedora. Aos boêmios e admiradores da boa culinária, havia a opção de experimentar deliciosos pratos e tira-gostos, criados especialmente para o concurso “Petiscos de Boteco” e que deu o que falar. Adjair Ribeiro, proprietário do Dija Gastronomia viu seu estabelecimento multiplicar o número de fregueses ao criar o “Fondue do Tchóra” e soube aproveitar muito bem os bons ventos para promover os seus dotes culinários.
Dija Gastronomia triplicou o número de fregueses durante o "Petiscos de Boteco".
Auto da Compadecida.
Wagner prepara sua deliciosa Paella durante o Festival Sabores do Vale.
A propósito, o prêmio recebido por Dija na Categoria Bar foi a motivação para que o sanfoneiro de Alceu Valença, o Chico Ceará, pedisse aos organizadores de outro Festival, o Santa Roots Jam Session, que o levassem para conhecer o estabelecimento. Com início às 16 horas e com a participação de Coletivo Gastronômico Sabores do Vale, o Santa Roots estreou com a participação de músicos consagrados que se revezavam no palco em busca de sons inusitados. O primeiro artista a se apresentar foi Caio Vono, pianista genial que levou para o palco o curioso som dos salões de velho oeste americano. Em seguida, o palco foi ocupado pelo santa-ritense Ricardo Abrahão (pianista que se apresentou durante a visita do Papa ao Brasil), que trouxe composições de Ernesto Nazaré. Na sequência, os irmãos Nogueira criaram uma surpreendente Jam Musical e permaneceriam no palco durante o show do Ceará. A última apresentação, feita pelo consagrado violeiro Zé Helder, contou com a participação de Ceará e a multidão parecia não acreditar que aquela fusão de sons estava sendo produzida por dois caras que nunca tinham conversado antes. Em uma experiência única, casais dançavam como nos antigos salões de baile, crianças subiam livremente no palco para “tocar” junto com os músicos e uma multidão de santa-ritenses preenchia todos os espaços da praça. O que talvez ninguém esperasse é que a nossa querida Lira Santa Rita também marcasse presença na festa, após receber um convite, no mínimo, inusitado: tocar Jazz! As crianças foram à loucura quando diversos músicos ocuparam a tenda para entoar “When the Saints Go Marching In” e outras canções como My Way, de Frank Sinatra. 
Chico Ceará e Zé Helder promovem Jam incrível durante o Santa Roots. 
Banda Santa-ritense quebra tudo durante o Vale Music Festival.
Se no Santa Roots contamos com uma mescla de músicos locais e com artistas célebres da música brasileira, retornamos à semana anterior para falar sobre outro evento surpreendente: o Open Music. O barato desse Festival é que foi formado, em sua maioria, por músicos da cidade, mas não havia disputa ou premiação. A única premissa era de que as composições fossem próprias, como forma de divulgar os trabalhos de nossos numerosos talentos. O excelente nível das bandas e a qualidade das canções apresentadas naquela segunda-feira foram tais que já se pensa em produzir um disco só de composições locais que serviria como registro e divulgação dos trabalhos expostos ali.
Paulista, Chico Ceará e Zé Helder. Três talentos incríveis no Santa Roots.
Coletivo Gastronômico Sabores do Vale
Vale Music chega à sua terceira edição.
Dos milagres operados pelo “Cidade Criativa” talvez o maior tenha sido a mistura da água e do óleo. Bem, não foi exatamente uma mistura, mas o movimento conseguiu atrair os blocos rivais, Ride Palhaço e Democráticos, em torno da promoção cultural. Enquanto os Democráticos apresentaram um retorno às origens do estilo mais brasileiro de todos, o samba, o Ride produziu um espetáculo teatral sobre o seu tema preferido: a ópera Ride Palhaço. Em ambos os eventos, acontecidos no Teatro Inatel, o público saiu encantado e demonstrou que as duas agremiações não devem restringir seus espetáculos ao mês de fevereiro. Nos eventos ligados à tecnologia e inovação, o Summit do Vale da Eletrônica deu voz aos novos empresários do polo que, com suas startups inovadoras, vêm conquistando o país. A segunda edição do Magical Minds trouxe mentes brilhantes do cenário global para falar de conceitos que vêm transformando o mundo.
Magical Minds leva tendência ao Cidade Criativa.
Circo Sesi atraiu grande público à Praça Santa Rita.
Projeto Philadelphia, dos Irmãos Nogueira: Incrível!
Caminhando pela cidade, é possível perceber que nunca mais seremos os mesmos após essa avalanche artística. Nos muros, do campo ou da Katrin, vemos obras incríveis deixadas por artistas daqui e de outras cidades. Nota-se uma mudança na característica das apresentações musicais agendadas para os meses seguintes nos bares e restaurantes, a culinária ganhou uma atenção especial e novas iniciativas se preparam para surgir. Talvez o maior legado deste movimento seja a percepção da comunidade, entidades, escolas, estabelecimentos, poder público e centenas de voluntários de que as possibilidades são infinitas e de que as pessoas podem contar umas com as outras para transformar a realidade no que a gente quiser. Assim como os pioneiros que tiraram a cidade do pântano, dos empreendedores que lutaram pelo surgimento de nossas escolas de alta tecnologia ou dos batalhadores no processo de industrialização, a partir dos anos 80, todos se sentem parte de um projeto grandioso e estão orgulhosos por integrar um movimento cuja herança é imperecível. A todos aqueles que possibilitaram a realização desta iniciativa única, uma palavra que está na mente de todos aqueles que integram o Cidade Criativa: Gratidão.                 

(Por Carlos Romero Carneiro)

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