quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Zeca fala sobre suas conquistas no esporte, na escola e na vida

Em dois momentos: Com Nilton Santos e atualmente.
Estudos ou futebol?

A minha vida sempre foi jogar bola e estudar. Todos os dias eu treinava das duas às seis horas da tarde e estudava à noite, após o jantar. Eu fazia aquilo porque gostava de aprender e não para ir bem nas provas. Ainda guardo boletins em que recebi nota máxima em matemática todos os meses do ano porque tinha curiosidade em saber como as coisas funcionavam. Dos 16 anos em diante, comecei a jogar nos times adultos da cidade e já recebia o suficiente para custear as minhas despesas pessoais. 

O senhor lucrava com o esporte?

Posso dizer que, do científico pra frente, meu pai já não precisava me dar nem roupa. Eu já tirava o meu próprio sustento. Na época, havia um grupo de jogadores que se destacaram entre os esportistas locais e recebiam pelas atuações. Nesse grupo, estávamos eu, o goleiro Luiz Carlos, o Wagner, o Marcos Peão,  o Cacá e outros jogadores. 

Como foi o início de carreira esportiva?

Eu comecei no Vasco, do senhor Dito Gabiru (da Rua do Queima). Foi lá que ele revelou vários jogadores como eu e o charuto, ambos zagueiros. Em 64, nós fomos campeões. Eu estava com 16 anos, na época. No ano seguinte, eu fui para o Industrial que era um time que tinha mais dinheiro do que os outros e reunia as maiores estrelas da cidade.
Zeca integra o Industrial: time mais temido de Santa Rita do Sapucaí.
O esporte era muito valorizado em Santa Rita?

Naquela época, a cidade tinha por volta de 15 mil habitantes e conseguia colocar 7 mil pessoas dentro do estádio. Metade da cidade vibrava com o futebol. Éramos vistos pelos moradores de Santa Rita como verdadeiras celebridades. Semanalmente, os jornais comentavam o nosso desempenho e até a nossa vida particular. Tinha programas na rádio Difusora a semana inteira para debater o desempenho dos times, como vemos hoje com o grandes clubes, pela televisão. 

Quais eram os melhores times?

O time com maiores estrelas locais era o Industrial. O Minas Gerais tinha o mesmo nível, mas buscava esportistas em Itajubá e Jacutinga. A rivalidade entre esses dois times era muito grande. Ninguém queria perder pra ninguém. Em jogos do Minas com o Industrial, o campo lotava.

Como foi sua ida para o Pouso Alegre FC?

Quando Santa Rita começou a ganhar destaque por conta do movimento em torno do futebol, chamou a atenção dos clubes da região, como o Pouso Alegre, que acabava de ser fundado.  Nessa é-poca,  eu,  o Luiz Carlos, o Charuto e o Wagner, além de uns 10 jogadores de Itajubá fomos contratados, mas poucos permaneceriam no time. Dos esportistas de Pouso Alegre, por exemplo, todos foram cortados. De Itajubá, ficaram o Marcos Zamba e o Teco, que era reserva. Daqui, ficamos só eu e o Luiz Carlos.

Quem integrou o Pouso Alegre nesse período?

O Pouso Alegre contratou grandes estrelas. Vieram o Wilson e o Pitico do Santos, o Aleluia do Paulista de Jundiaí, o Danilo do Atlético Mineiro, o Murilo do Democrata de Sete Lagoas, o Gato da Ferroviária de Araraquara e muitos outros. Somente três jogadores da região permaneceriam como titulares. Naquela temporada, o Pouso Alegre seria o campeão da primeira divisão de profissionais. 

Os times eram fortes na região?

A região sempre teve bons times, como o ADJ de Jacutinga, praticamente imbatível, formado por quase todo o elenco vindo de clubes de São Paulo. Naquele time tinha o Vilela e o Tiãozinho da Portuguesa, o Tatau do Botafogo de Ribeirão Preto, o Adib (meio de campo do São Paulo), o Aleluia, o Joãozinho do América Mineiro e muitos outros de fora. Nessa época, o futebol começou a tomar uma proporção tão grande que se tornou a grande sensação na região.
Ainda criança, recebe prêmio de melhor aluno de sua turma das mãos do governador Magalhães Pinto.
E quando jogavam contra times de Santa Rita?

Uma vez, jogamos uma partida beneficente por aqui. Na ocasião, Santa Rita montou um selecionado entre os jogadores daqui, de Itajubá e ainda trouxe o Nilton Santos para completar o time. Nesse dia,  foi uma brigaiada danada, porque ninguém queria perder. Eu e o Luiz Carlos tínhamos que tomar um cuidado muito grande porque qualquer coisa que a gente falasse poderiam levar para o lado pessoal.  

E a partida contra o Santos?

O Santos era o maior time do mundo, no momento, e nós não demos tanta importância, a princípio, porque disseram que não viria o time titular. Quando chegou a hora do jogo, nós percebemos que a escalação não era bem o que esperávamos e ficamos bem apreensivos. Apesar de não ter vindo o Pelé e o Edu, vieram o Pepe, o recém contratado Silva, que havia passado pelo Boca Juniors e aquela turma de campeões do mundo. Quando vimos aquele pessoal todo, quase trememos, mas fomos pro jogo. 

Naquela época, parecia que tudo estava a favor da gente. Era um dia chuvoso e já estávamos ganhando de dois a zero do Santos, quando eu atrasei uma bola para o Luiz Carlos. Ela parou numa poça d’água e o Silva entrou e marcou o gol. Em seguida, marcaram um pênalti contra nós e quem marcou foi o Pepe. Mas foi um jogão! O Luiz Carlos jogou uma enormidade nessa partida. Ele pegou bolas de costas, defendeu outra em cima da linha e fez de tudo que podia para vencermos a partida. Aquilo chamou a atenção do time adversário. 
Nos tempos do poderoso Pouso Alegre Futebol Clube.
Foi nessa partida que ele foi convidado para jogar no Santos?

Quando terminou o jogo, o Zito, que era o Diretor de Esportes do Santos, foi ao nosso vestiário e o convidou para jogar no time. O Luiz Carlos ficou entusiasmado, mas era muito tímido. Embora tivesse vontade de jogar, tinha vergonha. Como eu sabia que ele não estudava, procurava incentivá-lo a seguir carreira e cheguei a levá-lo ao Atlético Mineiro mas, quando ele viu o treinador gritar com os jogadores, ficou assustado e veio embora.

Você também recebia muitos convites?

Nessa época eu recebi um convite do Corinthians e até chegaram a comprar meu passe do Pouso Alegre. Nós estávamos voltando de um jogo de Varginha, quando um carro alcançou a gente na estrada e era um diretor do Corinthians me convidando para integrar o time. Eu fiz corpo mole na ocasião e não me interessei muito porque o meu objetivo era o futebol, mas também era estudar Engenharia. Ele dizia: “Nós já procuramos um beque central em São Paulo, no interior de Minas e do Rio. Você  foi o jogador mais recomendado de todos eles por conta da idade (19 anos). Você vai jogar com o Rivelino, terá chance de ser convocado para a seleção e terá várias oportunidades!” Na ocasião, eu estava com o meu pai, o Fio e o João Costa. Acabei recusando por causa da escola. Aconteceu o mesmo quando fui convidado para jogar no Cruzeiro. Novamente, recusei por estar fazendo engenharia. O que eu queria era terminar o curso, guardar o diploma e depois jogar bola.

Seus planos deram certo?

O destino não quis que eu me tornasse um jogador. Alguns dias antes  da formatura, recebi uma carta que dizia que havia sido o primeiro colocado da minha turma e que deveria comparecer na Ericsson, em São Paulo, onde seria agraciado com uma viagem à Suécia. Eu viajei para Estocolmo como aluno bolsista e, quando retornei, a oportunidade já havia passado. 
Ao dirigir a Telecaldas, com Aécio Neves.
O senhor ficou surpreso quando soube que havia sido o melhor aluno de sua turma no Inatel?

Eu não me surpreendi porque, durante os anos em que permaneci lá, estive sempre na ponta. Algo que me deixa ainda mais envaidecido é que sou da turma dos Professores Navantino e Mário Augusto. Há algumas semanas, ao receber esta medalha comemorativa, eles ainda brincaram comigo, dizendo que eu havia tomado o diploma deles. E eu respondi: quem forma em primeiro lugar de uma turma que tem vocês dois, não deve ser qualquer um!

Como foi sua vida profissional?

Permaneci pouco tempo na Ericsson e fui para a CTB. Em seguida, eu vim para Minas e fui encarregado de implantar todo o DDD (Discagem Direta à Distância) aqui na região sul. Nesse período, nós realizamos este trabalho em 156 municípios. Eu me destaquei muito na época e me tornei o superintendente regional, com sede em Varginha. Além deste trabalho, acumulei várias funções, inclusive em uma empresa particular em que a Telemig era uma das controladoras. Um fato interessante dos tempos em que chefiei a Telemig e a Telecaldas foi que trabalhei com Alberto Pinto Coelho, governador de Minas, até o ano passado.

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Um comentário:

  1. Parabéns, primo, pela excelente entrevista e pelo seu sucesso profissional e pessoal. Ao ler sua entrevista, recordei-me dos bons momentos vividos na nossa infância e juventude. Sempre que tenho oportunidade, vou a Santa Rita e o procuro, para mantermos viva nossa amizade. Parabéns pela família linda que construiu, junto a sua esposa Ângela. Um forte abraço. Sebastião Aloísio Ribeiro(Nego Adami).

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