terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Meu amigo Bentinho - Conto sobre um santa-ritense, na era de ouro do rádio

Após um concorrido concurso na Rádio Inconfidência, minha classificação como locutor não era muito recomendável. “Você tem boa voz e dicção, mas tem péssima cultura.” - disse o diretor da emissora. 
Os dias se passaram e o meu dinheiro, que era pouco, também. Era a quantia certa de uma passagem de volta, mas a intenção de ser locutor, já havia sido descartada. 

Dias se passaram até que, ao voltar ao quarto de pensão, encontrei um recado de Zito Vono: “Silva, meu irmão Zezinho mandou lhe dizer para procurá-lo amanhã na rádio, antes do programa dele.” 

A interferência de José Antônio Vono Filho, o Bentinho, na minha admissão como locutor foi uma das coisas mais gratas em meu coração. Às 14 horas do dia seguinte, eu seria anunciado pelo microfone de uma grande emissora, no programa de “Bentinho do Sertão”.

Só agora, depois de muito tempo, é que o então diretor, que tornou-se o meu amigo particular, trouxe ao meu conhecimento um diálogo que selou a minha sorte. Sabendo da minha limitada possibilidade de ser aprovado, Bentinho solicitou ao diretor um locutor exclusivo para o seu programa. Como se tratava de uma das atrações mais ouvidas daquela época, apresentou uma lista de locutores para que escolhesse. O santa-ritense, entretanto, foi categórico: “Eu quero o meu conterrâneo! E não se preocupe com o salário dele... eu pago do meu bolso!” 

Foi assim que pude pagar a minha pensão e matricular-me numa escola da capital. Foi assim que Bentinho, com 600 cruzeiros por mês, me abriu os braços e proporcionou-me tudo o que queria na época: viver e estudar. Foi assim que eu soube da sua ajuda a um conterrâneo seu sem que jamais tivesse me dito.

Por Silva Filho - Correio do Sul - 6 de setembro de 1964

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